domingo, 16 de março de 2014

Escolha profissional: uma questão de prestígio



Na semana que terminou ontem, por diversos motivos, ouvi muitas conversas sobre escolha profissional. Lembrei-me então de um texto que escrevi há um tempo e que levantava algumas questões sobre a valorização de certas profissões e cursos superiores e o descrédito de outros. Reproduzo o texto abaixo. Ele foi publicado originalmente aqui.

Escolha profissional: uma questão de prestígio

*A Pauta*
Um rapaz e uma moça, de vinte e poucos anos, conversavam no ônibus. Pelo que entendi, eram conhecidos que não se viam há um tempo. O rapaz perguntou sobre uma amiga em comum. A garota respondeu que ela estava desempregada, e completou “mas também, foi estudar secretariado! Trabalho que qualquer um faz.”.
*O Ponto*
Alguns cursos não têm muito prestígio.
Não sei se era uma coisa da universidade onde eu estudei, mas sempre ouvi piadinhas com os alunos de algumas graduações, como se certas profissões fossem mais importantes, ou melhores, do que outras. Algumas são mais bem remuneradas, é claro, outras trazem mais benefícios práticos e mensuráveis para a sociedade, mas dizer que um curso é “melhor” do que outro é um julgamento de valor bastante pessoal, creio eu.
Quando ouvi essa conversa no ônibus, fiquei pensando sobre o porquê disso. Alguns cursos são realmente novos, por isso é normal que sejam menos valorizados do que cursos tradicionais, como direito e medicina. Se formos pensar, não faz muito tempo que existem universidades no Brasil: uma pesquisa rápida no Google informa que em 1808 foi criada a Escola de Cirurgia da Bahia, hoje Faculdade de Medicina da Bahia; mas a maioria dos historiadores diz que a primeira a reunir mais de um curso – ou de uma faculdade – foi a do Rio de Janeiro hoje UFRJ, criada em 1920. A noção de curso superior, então, é relativamente recente no nosso país. Mais recente ainda é o acesso a essa educação pela classe média. São mais cursos sendo oferecidos e mais pessoas podendo/querendo cursá-los. É mesmo bom que se tenha variedade.
O problema é que, na hora de escolher um curso, todo mundo tem uma opinião para dar. Sei que muita gente que escolhe Arquitetura ouve que devia ter feito Engenharia. E os que fazem curso superior de Enfermagem? Já presenciei pessoas sugerindo que só escolhe esse curso quem não tem capacidade para cursar Medicina. O que não é verdade de maneira nenhuma!
Na hora da inscrição para o vestibular ou no Enem, muita coisa pode ser levada em conta. Muita gente tenta prever, ou analisar friamente, as futuras necessidades do “mercado”. O fato é que não se pode prever o futuro. Formar-se num curso “do momento”, com muitas oportunidades profissionais, não é garantia de felicidade (nem de emprego) para ninguém. Escolher uma profissão aos 17, 18 anos, já é bastante cruel. Eu, particularmente, não conhecia metade das opções quando tinha essa idade. Mais tarde, já na universidade, é que fui descobrir cursos, profissões, possibilidades.
É ótimo que haja incentivo para algumas áreas e profissões. O país pode se beneficiar muito se formar mais engenheiros civis? Claro! Mas o país pode se beneficiar muito se tiver profissionais de qualidade em todas as áreas! Sejam eles engenheiros, físicos, médicos, advogados, professores, jornalistas, contadores, historiadores, etc.! Pode se beneficiar muito também se tiver profissionais de nível técnico bem formados e bons profissionais de áreas que exigem menos qualificação, mas que tenham noções de segurança do trabalho, que conheçam seus direitos e deveres e tenham boas condições de trabalho.
Não conheço a garota que fez secretariado e está desempregada, não sei se ela gostou do curso, se era seu sonho ou se estudou isso por conveniência. Mas tenho minhas dúvidas se, caso ela tivesse estudado Direito ou Engenharia e estivesse desempregada, a culpa recairia sobre sua escolha...
O que vocês acham? Já foi criticado pela sua escolha profissional? E se arrependeu da escolha, ou acha que não pode ter feito melhor? Aos comentários!


Mônica Bento é jornalista, formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Em seu trabalho de conclusão de curso estudou a função social das salas de cinema e desenvolveu a reportagem multimídia CineMemória. Pertence a equipe de Comunicação da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural.

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