VIVIAN MAIER: UMA FOTÓGRAFA ANÔNIMA...
“Os escritos de uma mulher são
sempre femininos; não podem deixar de sê-lo; quanto melhor, mais feminino; a
única dificuldade é definir o que entendemos por feminino”. (Virginia Woolf)
Parafraseando Woolf, podemos dizer que a imagética de uma mulher é
sempre feminina. A forma como vai fotografar, os temas que ela vai escolher, a
estética, enfim que vai formar o seu corpus
fotográfico, vai depender de seu repertório cultural, do contexto histórico e social em
que vive.
A fotografia, como campo profissional e
artístico, sempre foi muito mais resistente que outros que abrangem atividades
consideradas como “mais femininas”. Deve-se a isso, o fato de terem existido
pouquíssimas fotógrafas no início do século, e as que existiam, na sua maioria,
dedicavam-se a fotografias feitas em seus estúdios, ou em locais fechados como
a casa dos retratados ou pátios e salas de aulas de escolas em que atuavam,
raramente optando por desenvolver o trabalho em espaços abertos.
Pode-se questionar se um dos motivos da
falta de informação e divulgação da participação feminina na fotografia pode
ser em função de uma suposta prática entre os historiadores, acostumados a
registrar os feitos masculinos em detrimento aos femininos, relegando a mulher
a um segundo plano. Como afirma Rosenblum, poderia ser o valor predominante em
uma cultura na qual era esperado do homem um papel mais ativo, ao mesmo tempo
em que se esperava da mulher um papel de “apoio”.
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Reflexos em Nova York |
Assim, muitas vezes as mulheres entravam no mundo da fotografia
como retocadoras, fotocopiadoras ou assistentes, atuando principalmente nas
atividades de laboratoristas e na montagem das fotografias nos mais diversos
tipos de suportes e estojos. Uma razão para a escassez de material
histórico sobre mulheres é que sempre foi difícil de ser encontrado.
Frequentemente as próprias mulheres, refletindo as atitudes das épocas em que
viviam, não consideravam as suas imagens como suficientemente importantes para
serem catalogadas e arquivadas.
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Brincadeira de criança |
A fotógrafa
norte-americana Vivian Maier (1926-2009),
foi comparada ao pintor Van Gogh, pois foi “descoberta” apenas depois de seu
falecimento. A saida de Maier do anonimato, se deve a que um colecionador que pesquisava
sobre a cidade de Chicago, arrematou em um leilão, em 2007, uma série de
negativos por 400 dólares que traziam imagens antigas da cidade. Ao revelá-los,
se deu conta de que aquelas fotos não eram apenas fotografias comuns, mas um
trabalho impregnado de veia artística que documentava de forma excepcional a
vida na cidade nos anos 50. Descobriu então que a autoria das fotos era de
Vivian Maier, uma americana que trabalhou durante toda sua vida como baby-siter.
Esse colecionador
ficou fascinado com a “Mary Poppins” da vida real, e começou, então, a realizar
um vasto trabalho de pesquisa sobre Vivian, que faleceu aos 83 anos, em 2009,
deixando cerca de 100.000 negativos, nos quais encontram-se fotos de Chicago,
Nova Iorque e fotografias tiradas em viagens pelo mundo. Sua câmera, uma
Rolleiflex, registrou cenas cotidianas da vida urbana: crianças brincando,
moradores de rua, senhoras fazendo compras, homens conversando, e outras
imagens do cotidiano.
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A tristeza do palhaço |
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Pássaros |
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Shadows |
Referências:
ROSENBLUM,
Naomi – A history of women photographers,
Abbeville Press, London, 2000.
HAHNER,
June E. – Emancipação do sexo femino: A luta pelos direitos da mulher no
Brasil- Editora EDUNISC, 1978.
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What's on? (Foto: Vivian Maier) |
IZABEL LIVISKI, é fotógrafa e doutoranda em Sociologia pela UFPR. Edita quinzenalmente a coluna INCONTROS, escrevendo sobre fotografia e artes visuais.
E-mail
para contato: izabel.liviski@gmail.com
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