sexta-feira, 9 de maio de 2014

"Entre Vales", estreia com apenas uma pessoa na sala - Eu

Quando, na entrada das salas de cinemas, diante dos cartazes dos filmes, nos deparamos com quatro opções é quase automático que tenhamos o impulso de fazermos a opção por aquele que parece ter mais a ver com nosso gosto. O público avalia por alguns quesitos como: gênero, diretor, protagonista ou pela história em si. Infelizmente a opção; produções nacionais quase sempre não entra nessa avaliação. Digo isso por experiência e também pelas pesquisas de público realizadas nos cinemas de todo Brasil. E, como consequência disso,  muitas salas de cinema optam por não correr o risco de exibirem tais filmes. A preocupação em formar público para o cinema nacional é praticamente nula. Não há interesse dos professores das escolas de Educação Básica ou das Universidades em motivarem tal prática, mesmo aqui no Estado de São Paulo onde professores da Rede Pública pagam meia entrada. Filmes nacionais que não estão diretamente relacionados aos artistas globais não possuem bilheterias suficientes para se manterem em cartaz.
Cartazes da entrada: "Entre Vales", leva a pior na Escolha de Público.
Essa prática comum leva o cinema nacional a enfrentar muitas dificuldades inviabilizando assim novas produções. Na verdade, a coluna de hoje relata um fato que experimentei ontem mas que venho vivenciando há muito tempo. Um dia, no aeroporto de Porto Alegre, assisti o filme, “Cinemas, Aspirinas e Urubus”, 2005 de Marcelo Gomes com apenas 3 pessoas, sendo que duas estavam comigo. Este filme, na época,  foi indicado pelo MinC para concorrer a uma indicação de Melhor Filme em Língua Estrangeira na edição de 2007 do Oscar.
Ontem, quando fui ao Reserva Cultural, presenciei mais um dia de tristeza para as produções nacionais. Diante de: Woody Allen, Asghar Farhadi e o português Vicente Alves Do Ó, Philippe Barcinski, com seu “Entre Vales”, levou a pior. Como sei? Quando entrei na sala eu estava sozinha. Bem, não sozinha propriamente, estava com  a aflição do diretor, como a ansiedade dos atores Ângelo Antônio, Melissa Vettore, Daniel Hendler,  Matheus Restiffe e com o cansaço de todos da produção e, o vazio da sala.
Nada contra nenhum destes em cartaz, ao contrário, são ótimos. No entanto é preciso valorizar e criar público para o nosso cinema que já é considerado no mundo pelos vários gêneros que consegue atender, diferente dos uruguaios ou argentinos que conservam o mesmo estilo em todas suas produções
Depois da pré-estreia, a estreia: Eu, sozinha na sala
Privilégio e tristeza em estar sozinha na sala me fez lembrar Caetano Veloso:
"Acredito ser o mais valente, nessa luta do rochedo com o mar
E com o mar!
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu

Diga espelho meu”



Ângelo Antônio, sozinho na tela e no escurinho do cinema 
E, a propósito, o filme é bom. Imagens maravilhosas do fotógrafo Walter Carvalho incrementam o sentimento  do personagem que vaga em espaços rudes tentando encontrar sentido para sua vida quando tudo parece acabar. União, ruptura e a solidão do personagem retrata, um pouco, a solidão do cinema nacional.
Vale muito a pena assistir “Entre Vales” , para que possamos entender que se foi exibido para o público, ele não tem nenhuma pretensão de “ficar sozinho fazendo fita”, como dizia o poeta Cazuza.

Katia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano, principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO, na FPA, nos cursos de Design e Visuais e na UNIP nos Cursos de Comunicação.  É integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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