"Entre Vales", estreia com apenas uma pessoa na sala - Eu
Quando, na entrada das salas de cinemas, diante
dos cartazes dos filmes, nos deparamos com quatro opções é quase automático que
tenhamos o impulso de fazermos a opção por aquele que parece ter mais a ver com
nosso gosto. O público avalia por alguns quesitos como: gênero, diretor,
protagonista ou pela história em si. Infelizmente a opção; produções
nacionais quase sempre não entra nessa avaliação. Digo isso por
experiência e também pelas pesquisas de público realizadas nos cinemas
de todo Brasil. E, como consequência disso, muitas salas de cinema optam por não correr o risco de exibirem tais filmes. A preocupação em formar público para o cinema
nacional é praticamente nula. Não há interesse dos professores das escolas de Educação Básica ou das Universidades em motivarem tal prática, mesmo aqui no Estado de São Paulo
onde professores da Rede Pública pagam meia entrada. Filmes nacionais que não
estão diretamente relacionados aos artistas globais não possuem bilheterias
suficientes para se manterem em cartaz.
Cartazes da entrada: "Entre Vales", leva a pior na Escolha de Público. |
Essa prática comum leva o
cinema nacional a enfrentar muitas dificuldades inviabilizando assim novas
produções. Na verdade, a coluna de hoje relata um fato que experimentei ontem
mas que venho vivenciando há muito tempo. Um dia, no aeroporto de Porto Alegre,
assisti o filme, “Cinemas, Aspirinas e Urubus”, 2005 de Marcelo Gomes com
apenas 3 pessoas, sendo que duas estavam comigo. Este filme, na época, foi indicado pelo
MinC para concorrer a uma indicação de Melhor Filme em Língua Estrangeira na
edição de 2007 do Oscar.
Ontem, quando fui ao Reserva Cultural,
presenciei mais um dia de tristeza para as produções nacionais. Diante de: Woody
Allen, Asghar Farhadi e o português Vicente Alves Do Ó, Philippe Barcinski, com
seu “Entre Vales”, levou a pior. Como sei? Quando entrei na sala eu estava
sozinha. Bem, não sozinha propriamente, estava com a aflição do diretor, como a ansiedade dos atores Ângelo
Antônio, Melissa Vettore, Daniel Hendler, Matheus Restiffe e com o cansaço de todos da produção
e, o vazio da sala.
Nada contra nenhum destes em cartaz, ao contrário, são ótimos. No entanto é preciso valorizar e criar público para o nosso cinema que já é considerado no mundo pelos vários gêneros que consegue atender, diferente dos uruguaios ou argentinos que conservam o mesmo estilo em todas suas produções. Depois da pré-estreia, a estreia: Eu, sozinha na sala |
Privilégio e tristeza em estar sozinha na sala me fez lembrar Caetano Veloso:
"Acredito ser o mais valente, nessa luta do rochedo com o mar
"Acredito ser o mais valente, nessa luta do rochedo com o mar
E com o mar!
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu!
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
Diga espelho meu”
E, a propósito, o filme é bom. Imagens maravilhosas do fotógrafo Walter Carvalho incrementam o sentimento do personagem que vaga em espaços rudes tentando encontrar
sentido para sua vida quando tudo parece acabar. União, ruptura e a solidão do personagem
retrata, um pouco, a solidão do cinema nacional.
Vale muito a pena assistir “Entre Vales” , para
que possamos entender que se foi exibido para o público, ele não tem nenhuma pretensão
de “ficar sozinho fazendo fita”, como dizia o poeta Cazuza.
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