MAN RAY, UMA VIDA EM AVANT-GARDE...
"Eu não fotografo a natureza, eu fotografo as minhas fantasias." (M.R.)
Emanuel Rudzitsky
(1890-1976) era seu nome verdadeiro, mas ficou mundialmente conhecido pelo seu
nome artístico, Man Ray. Nasceu na
Filadélfia nos EUA, mas viveu grande parte de sua vida em Paris. Talvez o que melhor
o descreva seja o epíteto de artista modernista, mas ele deu contribuições
significativas tanto para o movimento dadaista e para os movimentos
surrealistas, apesar de manter laços informais com cada um deles.
"Auto Retrato" |
Mais conhecido no mundo da
arte por sua fotografia vanguardista, Man Ray produziu grandes obras em uma
variedade de meios e considerava-se um pintor acima de tudo. Ele se tornou
um renomado fotógrafo de moda e retratos, e ficou conhecido por seus
fotogramas, que renomeou de "rayographs", com uma alusão a si mesmo,
descrevendo esse processo como "dadaísmo puro".
Radnitzky era o filho mais
velho de imigrantes judeu-russos. No início de 1912, a família Radnitzky
mudou seu sobrenome para Ray, um nome escolhido por um irmão de Man Ray, devido
à discriminação étnica e ao forte anti-semitismo presentes na época. Emmanuel,
que tinha o apelido de "Manny" na família, mudou seu primeiro nome
para Man, e aos poucos começou a usar Man Ray como seu nome oficial.
O pai de Man Ray era operário
em uma fábrica de roupas e depois criou uma pequena confecção em casa, contando
com a colaboração de seus filhos desde tenra idade. A mãe, costurava as
roupas da família e tinha seus próprios projetos, inventando ‘patchworks’ a
partir de retalhos de tecidos. Apesar do desejo de Man Ray de dissociar-se
de seu passado familiar, essa experiência deixou uma marca permanente em seu
trabalho artístico.
"Lee Miller, fotografada por Man Ray" |
Aparecem em todas as fases
de sua obra, manequins de alfaiate, ferros de engomar, máquinas de costura,
agulhas, alfinetes, fios, amostras de tecido e outros itens relacionados ao
vestuário e costura. Os historiadores da arte também notaram semelhanças
em suas técnicas de colagem e pintura aos utilizados na confecção de
vestuário.
Man Ray demonstrou grande
habilidade artística e mecânica desde a infância, tendo uma sólida formação em
técnicas básicas de arte e redação. Ao mesmo tempo, ele educou-se com
frequentes visitas aos museus de arte locais, onde estudou as obras dos antigos
mestres. Após a formatura no ensino médio, ganhou uma bolsa para estudar
arquitetura, mas optou por seguir uma carreira como artista.
Com essa decisão, Ray
desapontou as aspirações de seus pais que como imigrantes, sonhavam com uma
maior integração e ascensão social. Mesmo assim, os modestos aposentos da
família foram reorganizados, para que ele pudesse usar um dos quartos como estúdio. Ele
trabalhou durante quatro anos com muito empenho para ser um pintor
profissional, ao mesmo tempo ganhando dinheiro como artista comercial e
ilustrador técnico em várias empresas de Manhattan.
"The Rope Dancer Accompanies Herself with Shadows" |
Inspirou-se nos modernistas
europeus, como Alfred Stieglitz criador da famosa “Galeria 291". Em Nova
York, foi influenciado pelo que viu no Armory Show 1913 e em galerias que exibiam
obras contemporâneas da Europa. As primeiras pinturas de Man Ray já mostravam
facetas do cubismo. Após fazer amizade com Marcel Duchamp, suas obras
começam a descrever o movimento das figuras, por exemplo, nas posições
repetitivas das saias da bailarina em The Rope Dancer Accompanies Herself with Shadows
(1916).
Em 1915, Man Ray fez a sua
primeira exposição individual de pinturas e desenhos, onde exibe seu primeiro
objeto proto-Dada: um conjunto intitulado Auto-Retrato, mas suas primeiras
fotografias mais significativas foram produzidas em 1918. Abandonando a pintura
convencional, Man Ray envolveu-se com o Dada, um movimento anti-arte radical, fazendo
objetos e desenvolvendo métodos mecânicos e fotográficos originais na produção
de imagens.
"Gift" |
Sua readymade Gift (1921)
é um ferro de passar com tachas de metal acoplado na parte inferior, e Enigma
de Isidore Ducasse é um objeto invisível (uma máquina de costura) envolto em
pano e amarrado com corda. Outro trabalho a partir deste período,
Aerograph (1919), foi feito com aerógrafo em vidro.
Ray e Duchamp fizeram, em
1920, uma máquina e produziram um dos primeiros exemplos de arte cinética, as
placas de vidro Rotary compostas por placas de vidro acopladas a um motor. Naquele
mesmo ano, juntamente com Katherine Dreier e Duchamp, Ray fundou a Société
Anonyme, uma coleção itinerante que na verdade foi o primeiro museu de arte
moderna nos EUA.
"Larmes, Tears" |
Man Ray conheceu sua primeira esposa, a poeta nascida na Bélgica, Adon Lacroix, em Nova York, casando-se com ela em 1914, mas logo separando-se dela em 1919. Ao se mudar para Paris em 1921, Man Ray declarou que "a experimentação de dada não era páreo para as ruas selvagens e caóticas de Nova York”, acrescentando que: “O Dada não pode viver em Nova York. Toda Nova York é dada, e não irá tolerar um rival.”
Em julho de 1921, vivendo
e trabalhando em Paris, Ray se estabeleceu no bairro de Montparnasse, local
favorito de muitos artistas. Pouco depois de chegar a Paris, ele conheceu
e se apaixonou por Kiki de Montparnasse (Alice Prin), modelo de artistas e frequentadora
dos círculos boêmios parisienses.
"Kiki de Montparnasse" |
Kiki foi companheira de
Man Ray durante quase toda a década de 1920. Ela tornou-se o tema de
algumas de suas imagens fotográficas mais famosas e atuou em seus filmes
experimentais. Em 1929 ele começou um caso de amor com a fotógrafa
surrealista Lee Miller. Durante 20 anos em Montparnasse, Man Ray estabeleceu
sua marca na arte fotográfica. Membros importantes do mundo da arte, como
James Joyce, Gertrude Stein, Jean Cocteau, Bridget Bate Tichenor, e Antonin
Artaud posaram para sua câmera.
Em 1925, participou de uma
exposição coletiva surrealista, juntamente com Jean Arp, Max Ernst, André
Masson, Joan Miró e Pablo Picasso, na Galerie Pierre. Um trabalho importante
desta fase da vida de Man Ray é o Violon
d'Ingres, uma fotografia impressionante de Kiki de Montparnasse, inspirado
no pintor (e também músico) Ingres. Este trabalho é um exemplo popular de
como Man Ray poderia justapor elementos díspares na sua fotografia, a fim de
gerar significado.
"Violon d'Ingres" |
Em 1934, o artista surrealista
Meret Oppenheim, conhecida por sua xícara de chá coberta de pele, posou nua
para Man Ray no que se tornou uma série bem conhecida de fotografias
retratando-a de pé ao lado de uma máquina de impressão. Juntamente com Lee
Miller, que foi sua assistente de fotografia e amante, Man Ray reinventou a
técnica fotográfica de solarização.
Em 1963 ele publicou sua
autobiografia, chamada Auto-Retrato,
que teve uma nova edição em 1999. Ray morreu em Paris em 18 de novembro de 1976
de uma infecção pulmonar, e foi enterrado no Cimetière du Montparnasse, em
Paris. Em seu epitáfio está escrito: “Despreocupado, mas não Indiferente”.
Juliet Browner foi enterrada no mesmo túmulo, em 1991. Em seu epitáfio está
escrito: “juntos novamente”.
"Dora Maar" (foto solarizada) |
Ray dirigiu uma série de
curtas-metragens de vanguarda que muito influenciaram gerações posteriores de
artistas, conhecidas como Cinéma Pur, também foi assistente de Marcel Duchamp em
seu filme Anemic Cinema (1926) e Fernand Léger com seu Ballet Mécanique filme
(1924). Man Ray também apareceu no filme de René Clair Entr'acte (1924),
em uma breve cena jogando xadrez com Duchamp.
Mais tarde, Man Ray
retornou aos Estados Unidos, ao ser forçado a deixar Paris, devido aos desdobramentos
da Segunda Guerra Mundial. Residiu em Los Angeles, Califórnia, de 1940 até
1951, e foi lá que conheceu Juliet Browner, uma bailarina represenante da
primeira geração americana de linhagem judeu-romena. Eles começaram a viver
juntos e casaram-se em 1946 em um casamento duplo com seus amigos Max Ernst e
Dorothea Tanning. No entanto, ele retornaria a Paris, para viver em Montparnasse.
"Observatory" |
"The Kiss" |
A revista ArtNews em 1999,
conceituou Man Ray como um dos vinte e cinco artistas mais influentes do século
XX, citando a sua fotografia inovadora, bem como "as suas explorações no
cinema, pintura, escultura, colagem, assemblage, e protótipos do que viria a
ser chamado de arte da performance e arte conceitual. Esse artista usou em
todos os meios de sua inteligência criativa na "busca do prazer e da liberdade".
Izabel Liviski é professora e fefotógrafa, doutora em Sociologia pela UFPR. Pesquisa História da Arte, Literatura e Artes Visuais. Edita a coluna INCONTROS quinzenalmente.
"Meret Oppenheim" -detalhe(M.R.) |
Izabel Liviski é professora e fefotógrafa, doutora em Sociologia pela UFPR. Pesquisa História da Arte, Literatura e Artes Visuais. Edita a coluna INCONTROS quinzenalmente.
Contato: bel.photographia@gmail.com
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