A ARTE ZEN DE DANIEL ESCUDERO
“Sem sair de casa pode-se conhecer o
mundo.
Sem olhar pela janela pode se ver o
caminho do céu.
quanto mais longe se vai [se divaga]
tanto menos se sabe.
Por isso, o Sábio:
Sem caminhar, alcança sua meta, [sabe tudo]
Sem ver, tudo observa,
Sem agir, tudo realiza”.
(Fragmento do poema 47 do TAO TE KING)
Atelier do artista, 2014 |
"Não tenho qualquer 'primeiro trabalho'. Da infância lembro de tia Maria me ensinando os primeiros desenhos e com poucas linhas fazia um gato, um rato, uma casa, como qualquer criança de 3 anos faz. Não faço ideia qual foi meu primeiro trabalho como profissional, até porque, desenho e pinto desde a infância até hoje.
Agora me sinto uma criança de três anos! (risos) Minha atividade não é trabalho, nem lazer, sem deixar de ser ambos.
Detalhe do trabalho em curso |
A pintura é parte essencial na vida que me toca levar – é tão essencial que, não saberia dizer ao certo se vivo para ela, ou se ela me faz viver. Não afirmo que a amo, mas não paro de olhar para ela.
Indiretamente e sem ser o foco principal, termino pesquisando traduções de filosofia chinesa do século III a.C, especificamente Tao, que são a inspiração e o embasamento teórico da série de pinturas que desenvolvo agora em 2014.
Indiretamente e sem ser o foco principal, termino pesquisando traduções de filosofia chinesa do século III a.C, especificamente Tao, que são a inspiração e o embasamento teórico da série de pinturas que desenvolvo agora em 2014.
A caligrafia chinesa me intimidou no começo, ainda não entrou formalmente no
roteiro, mas não tenho como fugir dela. Suponho
que a “curiosidade” que essencial para todo artista. Sou curioso sim – não do
tipo curioso-perguntão, mas curioso-observador.
“O Caminho gera. A Vida alimenta. O ambiente molda. As influências aperfeiçoam.” (Lao Zi, cerca do século 3 a.C)
“O Caminho gera. A Vida alimenta. O ambiente molda. As influências aperfeiçoam.” (Lao Zi, cerca do século 3 a.C)
R. Emiliano Perneta, nº 0 |
Aos 50, após 35 anos trabalhando no ramo de farmácia magistral, abandonei as boticas (ou elas me abandonaram) 'na boa' e sem mágoas, em paz e harmonia. Saiu a farmácia entrou a arte como profissão.
Uma transição arriscada, planejada e executada no pequeno mercado de arte curitibano – Isso é uma escolha desejável? E no caso de não ser desejável, é uma escolha?
Não sei a respostas a estas perguntas, e aos 50 anos nem sabia da existência das próprias perguntas. Foi o que na ocasião pude fazer e fiz. A dedicação exclusiva à arte fez o resto.
Durante alguns anos de escassos recursos, me propus imaginar tanto o modus vivendi, quanto o modus operandi dos grandes mestres da renascença.
Esquina das ruas Marechais |
Se comparado com o tempo atual,
aqueles artistas também contavam com poucos recursos, mas mesmo assim fizeram a
maravilha que fizeram. Suponho que se eles vivessem na atualidade, não
pintariam reis nem madonas mas, como eles fariam sua arte, com os recursos que
nós temos na atualidade? É isso que então me propus imaginar.
Making of, o desenho antes da pintura |
E ante circunstâncias
desfavoráveis, o lápis de grafite tornou-se peça chave e insubstituível em meu
trabalho. Ele é barato e um dos pigmentos mais estáveis e ecologicamente
corretos na face da terra.
De ruim, e dependendo do artista, pode fazer um 'sujeirão', ou uma controlável sujeirinha na tela. E não lhe conheço qualquer outro defeito. Mas de bom tem 'um monte'!
De ruim, e dependendo do artista, pode fazer um 'sujeirão', ou uma controlável sujeirinha na tela. E não lhe conheço qualquer outro defeito. Mas de bom tem 'um monte'!
Há milênios a humanidade desenha com lápis, é algo natural, inerente à gente. E
veja só, os mestres clássicos também desenhavam 'um monte' antes de concluir suas
pinturas.
Às vezes suas obras eram mesmo mais trabalho de desenho do que de pintura, aplicada mormente na forma de veladuras, como meus trabalhos dos últimos dez anos, se bem que espontaneamente faço veladura acrílica desde a década de 1980.
Às vezes suas obras eram mesmo mais trabalho de desenho do que de pintura, aplicada mormente na forma de veladuras, como meus trabalhos dos últimos dez anos, se bem que espontaneamente faço veladura acrílica desde a década de 1980.
R. Marechal Floriano, 566, 2012. Acrílica sobre tela |
Em
2014, com mais recursos para a nova série, o lápis começa e ser substituído
parcialmente por nanquim e outros materiais alternativos.
Mesmo assim, ninguém me tira o lucro de ter desenhado tanto com lápis, na época mais difícil à qual sou grato, por ter me permitido o grande desenvolvimento técnico de meu trabalho, com tão diferenciada característica estética.
Mesmo assim, ninguém me tira o lucro de ter desenhado tanto com lápis, na época mais difícil à qual sou grato, por ter me permitido o grande desenvolvimento técnico de meu trabalho, com tão diferenciada característica estética.
Sempre
afirmo que meu melhor trabalho é aquele que estou pintando. Para mim, o
gratificante é a ação de estar pintando ou desenhando. Quando a pintura fica pronta
empilho ela junto às outras, que vai para alguma galeria ou exposição, e sai do
âmbito de minha curtição.
Tao Te King 16 |
Neste momento não saberia falar de “um” trabalho gratificante, mas de um conjunto. Certamente a série hiper-realista de As Pedras do Caminho, cujo tema central, são as calçadas e o asfalto de Curitiba.
A
recente série de O Muro Transparente que expus no ano passado em Assunção, no Paraguai
em uma das melhores exposições individuais que eu já apresentei, até o momento.
E a série atual o Projeto Tao Te —
Caminho da Virtude, que é um desdobramento natural de O Muro Transparente.
Tao Te King 33 |
Já abri mão do que gostava e do que queria, não foi pouca coisa não, até arriscaria dizer foram (quase) todos os sonhos da juventude. Depois disso me concentrei no que podia, e foi assim que entrei em uma dimensão diferente.
E fiquei maravilhado porque, abrindo mão do que outrora eu queria ou gostaria, encontrei “o que posso”, que até parece melhor. Agora posso fazer o que faço, a inspiração vem de dentro fluindo sem cessar. E transformá-la numa pintura depende unicamente de mim, a responsabilidade é toda minha.
Falando
de meu trabalho, ainda não conheço o limite do que posso, portanto continuo
aprendendo e crescendo tecnicamente em um continuum
que parece não ter fim, e isso me satisfaz. Quero e gosto de sentir a satisfação
diária de fazer o que (dentro de minhas limitações) posso fazer.
No
passado tive a sensação de que abri mão de muita coisa que era importante, e
agora não tenho certeza se realmente eram importantes. Mas na atualidade não há
uma separação entre a arte e o que é pessoal. Como se arte e viver fossem a
mesma coisa. Me parece inconcebível abrir mão da expressão artística e
permanecer vivo.
Assinatura de Escudero |
Por volta de 1985, li pela primeira vez a inspiração da atual série de pinturas o Tao Te King de Lao Zi, e imediatamente me apaixonei por seu conteúdo.
Tao Te King 43 |
Com o tempo fui
colecionando versões traduzidas por diferentes pensadores, com a nebulosa intenção
de compará-las e redigir minha versão pessoal. Até que recentemente acordei
para a realidade de não ser escritor.
Então perguntei-me, porque não pintar o Tao Te King ao invés de escrevê-lo? E foi assim que começou o projeto Tao Te — Caminho da Virtude.
Então perguntei-me, porque não pintar o Tao Te King ao invés de escrevê-lo? E foi assim que começou o projeto Tao Te — Caminho da Virtude.
Paradoxalmente,
depois de comparar tantas versões por causa do texto escrito nas pinturas desta
série, achei apropriado redigir meu próprio “texto oficial” de cada poema do
livro, associando-o à pintura da qual foi inspiração.
E
assim, quando desisti do velho projeto de escrever minha versão do Tao Te King,
foi o mesmo instante em que comecei a escrevê-la de verdade, porém indiretamente e através da pintura."
Daniel Escudero
Artista plástico e designer.
Nascido em Caseros, Argentina, em 1955. Reside e trabalha em Curitiba, Pr.
Exposições Individuais:
Exposições Individuais:
2013
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"El Muro Transparente". Espaço Cultural PharmaArte, Asunção Paraguai.
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2012
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“Endereços (In)Certos”. Espaço Cultural BRDE - Palacete dos Leões, Curitiba PR
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“Equilíbrio Cromático”. Hotel Blue Tree Towers, Curitiba PR
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Participação em Salões / Exposições Coletivas:
Prêmios:
Obras em Acervos e Instituições Culturais:
Videos & Entrevistas na TV:
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