segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O MUNDO DA ARTE - QUANDO A REALIDADE À VOLTA É ACOLHIDA E REELABORADA




A natureza esta aí para ser admirada, copiada, transmutada. É ela, a natureza, que com toda a sua variedade fornece a matéria prima.  Pode-se  compreender a natureza em duas distintas manifestações – a externa e a interna. Aquilo que cerca a vida humana e, aquilo que o humano interpreta dessa energia vital. A natureza externa é rica em cor, forma, variedade, quantidade e materialidade. 
  
figura 1: da autora


A natureza interna se expressa pelos valores individuais, de acordo com a emoção, a poética , a crença, o conhecimento e a sociedade. Essa, sociedade, perpetua seu próprio tempo e espaço, em representações simbólicas que a caraterizam. Assim, Picasso produziu Guernica, Oiticica os Parangolés, Tarsila do Amaral o Abaporu.

A arte é esse processo criativo transformador, onde a materialidade é empregada em toda a sua sutileza, ironia e sustentabilidade. Algumas produções nos remetem à intervenção pessoal que transmuta a realidade da paisagem, onde o entusiamo pictórico revela novas cenas e composições sob a poética do artista.

                             figura 2 e 3: detalhe obras de Hannemann de Campos 


São inúmeros os artistas e, centenas de vezes maior a produção de arte. Cada um produz a sua maneira. Alguns, chegam a fama em vida, enquanto outros, somente após a morte. Vários jamais serão mencionados e, outros tantos se perdem pelo caminho. Muitos são os que produzem, criam, manifestam suas expressões  artísticas. Em muitas dessas criações estão  presentes as formas da roda e do círculo. A roda e o círculo remetem ao principio do movimento e se aproximam das técnicas modernas, onde o próprio mecanismo industrial parece estar mencionado. São formas que expressam a dinâmica e a energia.

         figura 4 e 5: Detalhe obra de Beatriz Milhares e exposição de suas obras.

A artista, Beatriz Milhares, abusa das formas redondas e na feitura de sua obra existem algumas apropriações que são aos poucos agregadas, tais como - colagens de papéis de bala, chocolate,  rendilhados, entre outros.

O artista cria pela escolha, distribuição e deformação dos materiais. A deformação dos materiais já pode ser alcançada por sua distribuição na superfície do quadro. Ela ainda é apoiada pelo corte, pela dobra, por sua cobertura e repintura ... cordões , um traço de pincel ou lápis, uma linha, arame, uma cobertura de tinta ou papel manteiga adesivado em camada de verniz, algodão para dar maciez. (p. 22)


                                figura 6: Detalhe obra de  Hamilton Manete.

O artista, em suas andanças pela urbe, descobre e se apropria dos restos de construções civis e faz do reuso, um olhar poético para compor a sua obra.  O processo  do fazer artístico  tem sua vitalidade na relação com o outro, uma vez que a obra não observada, possivelmente, morre  na clausura de si mesma. Considerando, que o objeto de arte é uma representação  que necessita do olhar do outro. E, por certo, a produção contemporânea vive o acumulo das cidades, nela se presentifica e, portanto a representa.

O merz, ao contrário, é a arte por meio da revalorização dos detritos da civilização. Tudo estava de algum modo morte e importava construir algo novo a partir dos cacos.....


figura 7 e 8: detalhe obras Os gêmeos.

Os irmãos caracterizam em sua produção toda, a ânsia urbana e as questões da vida em cidade se manifestam de forma a personificar  todo drama da existência de forma poética. O pictórico dialoga com texturas que remetem imageticamente à ideia de inúmeros recortes que se agregam para compor toda uma cena onde cada detalhe se integra. O acumulo se faz presente de forma organizada e, o reuso, incorpora um mesmo procedimento. São, por vezes, assemblagens multicoloridas.  
                       figura 9. Detalhe obra de EfigÊnia Rolim de Moura.

Efigênia Ramos Rolim transforma papéis de bala, plásticos e outras sucatas em bonecos, animais, bolsas e roupas. Através de um falar repleto de rimas, Efigênia cria um universo fantástico e encantado, cativa seus ouvintes contando suas histórias com ajuda dos objetos que criou, dando a eles, de fato, vida. Sua produção ultrapassa as barreiras entre as Artes Cênicas e Visuais, e sua singularidade é propiciada pela forma que trabalha os “restos” da realidade.
Todos tem em comum o fazer artístico, o produzir arte contemporânea. Hélio Oiticica (1937-1980), em 1962, comentou:
Schwitters inaugura um dos maiores caminhos da arte de hoje, de onde derivam o Novo Dadaísmo, a arte bruta (em parte), o materialismo etc.enfim toda a arte designada pelo termo inglês, assemblage. (p.15)

Segundo, o artista brasileiro a produção do alemão, Kurt Schwitters(1887-1948), eram valorosas contribuições para a transmutação da arte, afirmando:

(...) jóias de arte contemporânea , pois usa aí para se expressar meios até então desconhecidos e, se usados, havia sempre o fator cor a apoiar pictoricamente o que estava colado (jornal, papéis em textura, etc)... No fundo reduziu o pintar ao colar e a poesia ao puro soar. (p.15)


Em tempos de escolha, pensar a cultura e toda a sua diversidade possibilita reflexões:

A justificativa da vida e o objetivo da arte é a criação  do novo homem, que construirá a nova sociedade... nós reconhecemos  no desenvolvimento da arte definitivamente uma direção uniforme à abstração....

Bibliografia
KURT SCHWITTERS (1887/1948) – O artista MERZ.
Figuras: Arquivo pessoal.

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