O DIA DE VALENTINA
O Espaço do Leitor traz nessa semana a contribuição de Thiago Galdino.
O DIA DE VALENTINA
A primeiro momento, ela calculou a hipótese de estar sendo alvo de mais uma brincadeira estúpida, até que se deu conta de que ninguém gastaria um tostão nem mesmo para caçoá-la. “Isso prova que alguém nesse mundo me ama... e de verdade”, falou em alto e bom som, e saiu saltitando pelos corredores da residência acompanhada pelas belas rosas, como se nada mais tivesse importância nesse mundo, um perfume maravilhoso em suas narinas que só podia indicar uma coisa: O amor estava no ar!
Do outro lado da cidade, o florista contemplava a dança dos cisnes entre os botões de flores recém lançadas ao rio. Tinha a missão de dar uma segunda chance àquelas que não eram compradas até o fim do dia, e que muito provavelmente secariam se não colocadas na água. Vivia de uma forma completamente paradoxal, afinal, era dono de uma loja que vendia “sentimentos”, quando na verdade nunca havia encontrado esse tal de amor recíproco, que as pessoas tanto se emocionavam ao falar... No mais, deve ter se deparado diversas vezes com a decepção, a mentira e o fracasso. De tanto ser deixado para trás, desistiu de lutar, e aceitou a vida exatamente como ela é: Cruel, imprevista e injusta. Guardou apenas o rancor, a frieza e a pequena Aliança de brilhantes, recusada sem hesitação em seu último relacionamento sério. Não estava feliz, de fato, mas tinha a pacífica sensação de dever cumprido, quando no caminho até a ponte decidiu deixar um dos buquês de flores em uma porta qualquer, na esperança de, com esse simples gesto, estar salvando o dia de alguém.
Thiago Galdino, escritor, é natural de Mossoró-RN. Autor do livro "Suspeitas de um mistério" pela Editora Multifoco e colunista literário da Revista Ligados. Colabora com projetos, revistas, jornais, coletâneas e blogs literários por todo o país.
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