sexta-feira, 20 de março de 2015

O filme norueguês, "Blind", em cartaz nos cines de SP, traz a visão que mais vale.




Somos uma incógnita complexa formada de cromossomas e genes numa composição celular organizada e "colada" pelas moléculas de carbono. Somos também, a mescla de uma composição alegórica do mundo:  da influência do espectro cosmos, pontuada desde Tales de Mileto e, posteriormente descrita por inúmeros físicos quânticos;  da nossa velha herança cultural, social, espiritual, filosófica e outras tantas mais. Nós fazemos parte de um todo em constante mutação que nos chega pela permissão de nossa mente. 
Porém, nossa mente vai eleger aquilo que pode ou não nos ser revelado pelo viés do consciente, deixando encoberto a enorme gama do inconsciente. Como aqui vou falar de cinema, a psicanálise freudiana, com interpretações dos sonhos e hipnose, ou a teoria das sombras junguiana não serão enfatizadas, mas poderia, caso houvesse interesse de alguém da área.
O que acontece na mente da personagem e o que acontece no mundo real -  Exercício constante para o expectador de "Blind" 
Essas considerações iniciais são apenas para pensarmos que nossa imaginação nos é cara e muitas das vezes penosa. Nossa imaginação está sempre aberta a influências múltiplas que são captadas a todo momento e acumuladas na memória. Provavelmente não temos como comensurar aquilo que guardamos na memória, dado a complexidade de sua forma, captação e armazenamento.


A audição .. mundo interno, o olhar ... mundo externo - paradigma entre o mundo real e o imaginário permeiam os personagens de "Blind" 
Se sentimos o mundo pelos cinco canais de sentidos, tendo a visão como provavelmente o maior responsável pela imagem, no sentido forma, quando se perde a visão conservamos a memória visual daquilo que foi visto no passado. O que acontece quando essa memória visual para de receber estímulos ? Ela se esvai com o tempo? A imaginação, sem  novas demandas visuais, vai se tomando mais livre para compor outros percursos. Essa nossa liberdade de composição visual é ressaltada no filme “Blind”.




O imaginário é a visão que mais vale. Foi essa frase que ficou em minha cabeça após assistir "Blind", filme norueguês que está em cartaz nos cinemas de SP. O roteirista Eskil Vogt teve sua estreia como diretor e se deu muito bem. 
Com alguns prêmios já na bagagem de Blind, Vogt chegou a sentir-se surpreso com o sucesso do filme. Com histórias isoladas que posteriormente se cruzam, o filme traça um itinerário incomum entre o real e o imaginário e tece um ótimo jogo de adivinhações que mexe com as estruturas estagnadas de conceitos sobre sexualidade, beleza e solidão. Super recomendo !!!!



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

0 comentários:

Postar um comentário

Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.