quarta-feira, 22 de abril de 2015

RENE MAGRITTE FAZ ESCOLA: A ARTE FOTOGRÁFICA DE RODNEY SMITH...



"A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria" (Rene Magritte)

O pintor belga Rene Magritte (1898-1967), foi o criador de imagens insólitas, e é considerado uma das figuras-chave do movimento surrealista. Em seu trabalho, utilizou-se de processos ilusionistas, sempre à procura do contraste entre o tratamento realista dos objetos e a atmosfera irreal dos conjuntos. Suas obras são conhecidas pelas metáforas plasticamente perfeitas onde faz uma justaposição de objetos comuns, e símbolos recorrentes, como o famoso chapéu côco, o castelo, a rocha e a janela, entre outros, porém de um modo impossível de ser encontrado na vida real.

Portrait de Rene Magritte
Ainda hoje o seu trabalho é reinterpretado por artistas modernos, dentro das artes plásticas e até da música. Por exemplo, o músico Rufus Wainwright em Across The Universe (2002) mostra Dakota Fanning cercada por homens de chapéu coco e gabardine estáticos no ar, numa semelhança inegável com o personagem "Golconde".

The Son of Man, obra de Magritte de 1926
Magritte inegavelmente também foi o inspirador dos trabalhos do fotógrafo norte-americano Rodney Smith, nascido em Nova York, em 1947. Smith é formado em fotografia pela Universidade americana de Yale City, onde foi aluno de Walker Evans, o grande fotógrafo da depressão americana, passando depois a ser professor desta mesma instituição e de outras faculdades nos EUA e na Europa. Smith trabalha exclusivamente com fotografia em preto e branco, e dedica-se basicamente à produção de editoriais de moda. 

                          

Antes de se tornar fotógrafo, estudou Literatura Inglesa e Religião na Universidade de Virginia, e mais tarde fez mestrado em Teologia na Universidade de Yale, mas desde criança já tinha uma paixão pela fotografia, ao observar a revelação de imagens em um  laboratório.



Relações curiosas entre os personagens e os entornos surgem nas imagens. O cenário muitas vezes não dá pistas sobre o lugar onde foram feitas as fotografias, o que, somado à ausência de rostos em evidência, fortalece a impressão de que vemos imagens de alguma forma universais e atemporais, retiradas do mundo dos sonhos.


Você tem um problema intrinseco como fotógrafo que é ter um mundo tridimensional. Você tem um mundo onde existem sons e sensações, que tem todo tipo de ambientações - é extremamente complexo em cada um dos seus detalhes -tonalidades, estética, modos de contraste, tudo. Você tem de tomar esse mundo através da sua experiência e traduzir isso para um pedaço bidimensional de papel e fazer com que isso se torne vivo novamente para alguém que nunca experimentou aquilo antes. E você faz isso emocionalmente, diz  Smith.


Outra grande referência para Smith vem de Sigmund Freud, o autor chega mesmo a confessar em sua biografia que o psicanalista salvou sua vida. Seus estudos das teorias da psicanálise, a entrada nas profundezas do ser humano e a exploração do inconsciente servem de inspiração para o artista, que cria obras que remetem ao mundo onírico. 


Ele consegue o resultado usando um conjunto de elementos que se repetem em muitas de suas fotografias. Objetos como chapéus, escadas , relógios e árvores também contam histórias. As roupas dos personagens é clássica e ganha a leveza dos movimentos. Sua técnica fotográfica é misteriosa, criadora de uma nova perspectiva visual. Juntem esses elementos com um domínio evidente de luz e contrastes, e composições elegantemente audaciosas.


Smith tem três livros publicados: “A Terra da Luz” em 1983, que traz observações sobre o período que passou em Jerusalém. “O livro chapéu” em 1993 e o mais recente “The end”(2010) que reúne suas obras mais atemporais. Ao longo de sua carreira, já recebeu mais de 50 prêmios, e atualmente é representado por diversas galerias ao redor do mundo.


“As pessoas usam a terminologia ‘Ele é um fotógrafo comercial, ele é um fotógrafo de arte, ele é um fotógrafo de paisagem.’ Eu acho difícil o suficiente apenas ser um fotógrafo. Acho que, ao usar o termo deve-se ter muito cuidado com o que isso realmente significa. Eu cresci em uma tradição em que ser um fotógrafo é um exercício muito nobre. Você é guiado por  amor e paixão. Há milhares e milhares de pessoas que tiram fotografias, mas muito poucos fotógrafos, pois um verdadeiro fotógrafo mais do que ter um olho tem que ter visão, e tem que ter algo a dizer.”  (Rodney Smith)

Portrait de Rodney Smith



Fontes:



Foto: Rodney Smith







Izabel Liviski, é fotógrafa e professora,  doutoranda em Sociologia pela UFPR. Edita a coluna INCONTROS desde 2010,  e é também co-editora da revista. Acredita, juntamente com Nietzche que “a arte existe para que a realidade não nos destrua”.

2 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

O que mais me impressionou nessas fotografias foi a impressão de simetria que elas passam. Uma obra que para um leigo totalmente ignorante na área, como eu, passa mais um sentimento de "cubismo" do que de "surrealismo" (como estão definidos em minha cabeça).
Parabéns novamente.

24 de abril de 2015 às 08:27
Lari Germano disse...

eu achei maravilhoso conhecer esse fotógrafo através de suas palavras! cada imagem! que visão!

27 de abril de 2015 às 08:25

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