sexta-feira, 1 de maio de 2015

O filme "Casa Grande" de Fellipe Barbosa mostra que ainda somos os mesmos



O livro Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre, 1933 já tratou a correlação existente entre pessoas de universos distintos e extremos que habitam o mesmo espaço de moradia. Destacou principalmente a importância desse fator na formação social e politica do Brasil. 

A descoberta do amor e da sexualidade perpassa pela intimidade 
Se analisarmos do ponto de vista  da miscigenação entre brancos e negros e seus estratos sociais do Brasil Colônia, o universo geograficamente separado dentro da moradia não é empecilho para que se estabeleça relacionamentos mais íntimos entre pessoas que habitam esses mundos distintos. O filme “Casa Grande”, de Fellipe Barbosa (2015), que estreou dia 16 de abril em São Paulo e ainda está em cartaz nos cines do Brasil, retrata um pouco essa nossa herança histórica impressa na sociedade contemporânea.
As prisões ainda continuam as mesmas 
O filme conta a história de um adolescente, Jean (Thales Cavalcanti), estudante do Colégio São Bento no Rio de Janeiro. Em vias de prestar vestibular, vive uma conturbada relação com seus pais no momento em que se insere no mundo dos adultos.
A família de Jean está passando por graves problemas financeiros e se vê obrigada a diminuir o padrão de vida. No estopim da crise, o menino começa a viver mais perto da realidade de outras classes sociais por ser obrigado a mudar seus hábitos diários como, por exemplo, deixar o chofer e passar a ir de ônibus ao colégio.
As escolas reproduzem, fortalecem e conservam os estratos sociais estagnados 
É um filme sobre a vida de um adolescente da classe média carioca sem grandes surpresas. No entanto o que mais impressiona é ver a persistência dos padrões sociais escravocratas em nosso país, que se reflete na resistência da classe média em aceitar a mudança deste paradigma que já se mostrou gasto e ineficiente no decorrer da nossa história.


Não é possível se esconder em uma redoma de vidro e muito menos livrar os filhos da classe média de sofrerem o ônus de viverem em um país como o Brasil, com problemas graves de moradia, politica social ineficiente, escolas públicas ruins, poder paralelo ditando leis, políticos corruptos, enfim, toda gama de sofrimento oriundo de muitos séculos de conservadorismo das classes dominantes. Não tem como separar a casa grande da senzala como alguns querem. Somos miscigenados, somos a mistura disso tudo, somos o confronto das diferenças e a dor da extrema desigualdade social. É assim que o filme grita e coloca Jean, o protagonista de “Casa Grande”, no meio desse conflito para repensar o apartheid que vive o Brasil desde a colônia até os dias de hoje. Ótimo filme.. Vale a pena conferir!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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