quarta-feira, 15 de julho de 2015

COMO UM POLONÊS CONSTRUIU FERROVIAS NO BRASIL...


A Casa da Cultura Polônia Brasil e o Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba promoveram a abertura da exposição "História da Família Wierzbowski", no último dia 06 de julho na sede da Casa da Cultura Polônia Brasil, em Curitiba.


Na abertura da exposição: Rizio Wachowicz, presidente da BRASPOL Nacional
Marek Makowski, Cônsul da República da Polônia em Curitiba
Denise Sielski, presidente da Sociedade Tadeusz Kosciuszko
Schirlei Freder, presidente da Casa da Cultura Polônia Brasil
Jerzy Łuka, neto de Teofil Witold Wierzbowski.


Tudo começou no ano de 2005, quando a Biblioteca Silesiana na Polônia recebeu solenemente um presente especial: o patrimônio da família Wierzbowski. A coleção única do seu gênero, foi doada pelos herdeiros Jerzy Łuka e Ewa Sońska, consistindo em diversos documentos da família, arquivos fotográficos e mapas feitos a mão. 

Esse rico acervo ilustra a incrível história da família Wierzbowski, primeiramente ligada às terras polonesas sob ocupação russa, depois à Silésia Maior, e finalmente, sua vida no país distante, no Brasil. Demostra a persistente luta pela polonidade e um patriotismo inabalável. 


Biblioteca de Silésia em Katowice  (Detalhe de Painel)

Os documentos mais antigos da coleção datam da primeira metade do século XIX, entre eles, um diploma de 1847 "Heroldya do Reino Polonês” confirmando o título de nobreza de Tomasz Wierzbowski, com brasão de Lubicz. Porém, os mais curiosos e raros são os materiais referentes à emigração de Wierzbowski para o Brasil. As imagens registradas por ele formam um testemunho único do processo da construção de ferrovias no Paraná entre os anos 1909 e 1914. 

Não menos interessante é um mapa do estado do Paraná, feito em próprio punho por Wierzbowski. E finalmente, temos os documentos inéditos da Silésia Maior, onde a família se estabeleceu nas décadas entre guerras. O herdeiro e doador da coleção, Jerzy Łuka, mora ali até os dias de hoje. Sua mãe, Sra. Zofia Łuka (de solteira: Wierzbowska), filha do construtor, que ainda lembra os tempos da emigração, mora hoje em Rzeszów.


Detalhe de um painel com mapa do Brasil publicado em Amsterdam em 1631.


Esta coleção foi cuidadosamente organizada, e os manuscritos, as fotografias e mapas enriqueceram o acervo da Biblioteca Silesiana. Todo esse acervo, que é uma parte especial dessa coleção, consta da exposição sob o título: “Como um polonês construiu ferrovias no Brasil...”, contendo as fotos tiradas em territórios brasileiros por Wierzbowski, graças à sua paixão pela fotografia que permitiu que ele documentasse os trabalhos realizados no Paraná.  

Através desse acervo, podemos nos transportar no tempo e espaço de um país distante. Em cor sépia podemos admirar as incríveis paisagens do início do século XX e as pessoas, encarando com bravura a natureza selvagem.  Jak Polak w Brazylii kolej budował - é a história desse intrépido engenheiro polonês Teofil Witold Wierzbowski, que participou da construção de ferrovias no Brasil.


Reprodução de um dos painéis que se encontram na exposição.


Questionado sobre como percebe o legado histórico das realizações de seu avô para a história do Paraná e para o Brasil como um todo, Jerzy Piotr Łuka nos deu uma emocionada resposta, que aqui reproduzimos de forma resumida:

“Imagine que até o ano de 2005 somente a família mais próxima e os amigos conheciam a história do meu avô. Naquele ano, depois de longas reflexões, em nome da família Wierzbowski, presenteei a Biblioteca Silesiana com todos os documentos da família, para o uso da comunidade, inclusive aqueles antigos de 400 anos, e os documentos brasileiros que sobreviveram à 2ª Guerra Mundial.

Os documentos brasileiros são peculiarmente curiosos, pois estão em português e foram emitidos pelas autoridades administrativas do Paraná. Nos tempos de regime socialista não era indicado vangloriar-se desse tipo de documentos no meu país.

Meu avô tinha que fugir das terras ocupadas pela Rússia, sob a ameaça de envio à Sibéria em consequência das suas atividades políticas. Lembrando que no período entre 1773 a 1918 o território da Polônia foi ocupado por três países da partilha: Rússia, império Austro-Húngaro e Prússia.

Mesmo com o território totalmente ocupado por mais de um século pelos invasores externos, os poloneses conduziram inúmeras atividades de oposição e os movimentos clandestinos contra o governo ocupante, em prol da libertação e independência. O governo russo, como a principal forma de repressão e punição, prendia estes ativistas e os enviava para a prisão eterna na Sibéria, de onde não tinham como voltar e frequentemente morriam de fome, frio ou doenças.

(...) Em 1923 meu avô apresentou o mapa oficial do estado Paraná, feito por ele mesmo, o qual ganhou o prêmio Grand Prix na exposição no Rio de Janeiro por ocasião do Centenário da República e foi considerado o mapa oficial do Paraná. A cópia deste mapa faz parte da exposição na Casa da Cultura.


Teofil Witold Wierzbowski

Esta é apenas uma parte da história do meu avô no Brasil. Como se pode ver, ele teve uma pequena contribuição na construção do estado Paraná, deixando o nome honrado de um polonês. Acredito que meu avô deixou as marcas eternas na história do Paraná e do Brasil, mas durante sua vida não foi reconhecido, já que na Polônia na época era o regime socialista [com forte influência do governo soviético], e no Brasil sabia-se muito pouco, ou nada, do engenheiro Wierzbowski.

Através do meu gesto de doação dos documentos para a sociedade, estou pagando a dívida pelo trabalho, personalidade e honestidade do meu avô. A exposição inaugurada no dia 6 de julho apresenta somente uma parte da vida do meu ancestral.


Jerzy Piotr Łuka, em seu apartamento na Polônia.

É muito importante que tenha uma boa divulgação na imprensa e que os curitibanos saibam quantas nações contribuíram para o desenvolvimento do seu estado. Meu avô morreu em Chorzów em 1956, quando eu tinha 10 anos, e eu lembro dele como um carinhoso velhinho, que amava muito o seu neto.” 

A realização dessa mostra foi realizada em conjunto pela Embaixada da Polônia em Brasília e a Biblioteca da Silésia, e a exposição também conta com o apoio da Sociedade Polono-Brasileira Tadeusz Kosciuszko, BRASPOL e Sociedade Polono-Brasileira Marechal Pilsudski. 

O período expositivo extende-se até o dia 17 de julho de 2015, na Casa da Cultura Polônia Brasil, situada à Rua Ébano Pereira, nº 502, em Curitiba/Pr.


Interior da Sociedade Tadeusz  Kosciuszko que abriga a exposição, inundada de sol...



FOTOS: Sandra Lima; Lourdes Kuchenny; Izabel Liviski.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Às senhoras Denise Sielski, Magdalena Kucharska e Schirlei Freder.





Izabel Liviski é professora e fotógrafa. Doutoranda em Sociologia pela UFPR, escreve a coluna INCONTROS desde 2010 e é também co-editora da Revista ContemporArtes.


5 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

Interessantíssima essa matéria num momento em que o mundo novamente se agita com movimentos migratórios devidos, a maioria, aos mesmos motivos: as ditaduras políticas.
Também refletia sobre a grande oportunidade para realizar um estudo histórico comparativo entre esses movimentos, pois o recebimento de imigrantes italianos, poloneses, japoneses, alemães, etc. (apenas como exemplos), foi extremamente vantajoso para o desenvolvimento de nosso país. Veja-se LIVISKI, este nosso contato. DE LUCA PUCCI.

15 de julho de 2015 às 08:55
Anônimo disse...

Recebido por email:

Parabéns Izabel!
Marek Makowski

15 de julho de 2015 às 18:33
Anônimo disse...

Izabel, ficou muito legal.
Obrigada,
Denise Sielski.

15 de julho de 2015 às 18:38
Anônimo disse...

Izabel, um povo que preserva a memória é um povo que tem viva sua história e sente-se construtor e construído por ela. Percebe-se que na cultura brasileira o passado é um tempo que passou, e frente a todas as adversidades que o povo passa, seu olhar é de esperança sem raízes, como canta Chico Buarque: ...talvez no fundo espera alguma coisa mais linda do mundo, mas para que esperar, sei lá, ... espera a sorte, a morte.... Essa conSciência, de que o que vem do tempo passado são fios construtos dos tempos presente e futuro, precisa ser educada, pois, educação é processo (ao longo da vida) e fenômeno (provoca mudança). Assim sendo, seus trabalhos educativos na mídia são fios construtos de uma educação da qual estamos sedentos.
Agradecemos imensamente.

16 de julho de 2015 às 12:19
Rogerio disse...

Bel, que historia interesantissima! Essas narrativas baseadas em memorias/historias de imigrantes sempre sao uma licao de vida que nos faz repesensar nosso papel no mundo. Bravo! Abs! Roger

23 de julho de 2015 às 03:45

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