COMO UM POLONÊS CONSTRUIU FERROVIAS NO BRASIL...
A Casa da Cultura Polônia Brasil e o Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba promoveram a abertura da exposição "História da Família Wierzbowski", no último dia 06 de julho na sede da Casa da Cultura Polônia Brasil, em Curitiba.
Tudo começou no ano de 2005, quando a Biblioteca Silesiana na Polônia recebeu solenemente um presente especial: o patrimônio da família Wierzbowski. A coleção única do seu gênero, foi doada pelos herdeiros Jerzy Łuka e Ewa Sońska, consistindo em diversos documentos da família, arquivos fotográficos e mapas feitos a mão.
Esse rico acervo ilustra a incrível história da família Wierzbowski,
primeiramente ligada às terras polonesas sob ocupação russa, depois à Silésia
Maior, e finalmente, sua vida no país distante, no Brasil. Demostra a persistente luta pela polonidade e um patriotismo
inabalável.
Biblioteca de Silésia em Katowice (Detalhe de Painel) |
Os documentos mais antigos da coleção datam da primeira metade do
século XIX, entre eles, um diploma de 1847 "Heroldya do Reino Polonês”
confirmando o título de nobreza de Tomasz Wierzbowski, com brasão de Lubicz. Porém, os mais curiosos e raros são os materiais referentes à
emigração de Wierzbowski para o Brasil. As imagens registradas por ele formam
um testemunho único do processo da construção de ferrovias no Paraná entre os
anos 1909 e 1914.
Não menos interessante é um mapa do estado do Paraná, feito em próprio punho
por Wierzbowski. E finalmente, temos os documentos inéditos da Silésia Maior, onde a família se estabeleceu nas décadas entre guerras. O
herdeiro e doador da coleção, Jerzy Łuka, mora ali até os dias de hoje. Sua mãe, Sra. Zofia Łuka (de solteira: Wierzbowska), filha do
construtor, que ainda lembra os tempos da emigração, mora hoje em Rzeszów.
Detalhe de um painel com mapa do Brasil publicado em Amsterdam em 1631. |
Através desse acervo, podemos nos transportar no tempo e espaço de um país distante. Em cor sépia podemos admirar as incríveis paisagens do início do século XX e as pessoas, encarando com bravura a natureza selvagem. Jak Polak w Brazylii kolej budował - é a história desse intrépido engenheiro polonês Teofil Witold Wierzbowski, que participou da construção de ferrovias no Brasil.
Reprodução de um dos painéis que se encontram na exposição. |
Questionado sobre como percebe o legado
histórico das realizações de seu avô para a história do Paraná e para o Brasil como um todo, Jerzy Piotr Łuka nos deu uma emocionada resposta, que aqui reproduzimos de forma
resumida:
“Imagine que até o ano de 2005 somente a
família mais próxima e os amigos conheciam a história do meu avô. Naquele ano,
depois de longas reflexões, em nome da família Wierzbowski, presenteei a Biblioteca
Silesiana com todos os documentos da família, para o uso da comunidade,
inclusive aqueles antigos de 400 anos, e os documentos brasileiros que
sobreviveram à 2ª Guerra Mundial.
Os documentos brasileiros são peculiarmente
curiosos, pois estão em português e foram emitidos pelas autoridades
administrativas do Paraná. Nos tempos de regime socialista não era indicado
vangloriar-se desse tipo de documentos no meu país.
Meu avô tinha que fugir das terras ocupadas
pela Rússia, sob a ameaça de envio à Sibéria em consequência das suas
atividades políticas. Lembrando que no período entre 1773 a 1918 o território
da Polônia foi ocupado por três países da partilha: Rússia, império
Austro-Húngaro e Prússia.
Mesmo com o território totalmente ocupado por mais de um século
pelos invasores externos, os poloneses conduziram inúmeras atividades de
oposição e os movimentos clandestinos contra o governo ocupante, em prol da
libertação e independência. O governo russo, como a principal forma de
repressão e punição, prendia estes ativistas e os enviava para a prisão eterna
na Sibéria, de onde não tinham como voltar e frequentemente morriam de fome,
frio ou doenças.
(...) Em 1923 meu avô apresentou o mapa oficial do
estado Paraná, feito por ele mesmo, o qual ganhou o prêmio Grand Prix na
exposição no Rio de Janeiro por ocasião do Centenário da República e foi
considerado o mapa oficial do Paraná. A cópia deste mapa faz parte da exposição
na Casa da Cultura.
Esta é apenas uma parte da história do
meu avô no Brasil. Como se pode ver, ele teve uma pequena contribuição na
construção do estado Paraná, deixando o nome honrado de um polonês. Acredito
que meu avô deixou as marcas eternas na história do Paraná e do Brasil, mas
durante sua vida não foi reconhecido, já que na Polônia na época era o regime
socialista [com forte influência do
governo soviético], e no Brasil sabia-se muito pouco, ou nada, do
engenheiro Wierzbowski.
Teofil Witold Wierzbowski |
Através do meu gesto de doação dos documentos
para a sociedade, estou pagando a dívida pelo trabalho, personalidade e
honestidade do meu avô. A exposição inaugurada no dia 6 de julho apresenta
somente uma parte da vida do meu ancestral.
É muito importante que tenha uma boa divulgação na imprensa e que os curitibanos saibam quantas nações contribuíram para o desenvolvimento do seu estado. Meu avô morreu em Chorzów em 1956, quando eu tinha 10 anos, e eu lembro dele como um carinhoso velhinho, que amava muito o seu neto.”
Jerzy Piotr Łuka, em seu apartamento na Polônia. |
É muito importante que tenha uma boa divulgação na imprensa e que os curitibanos saibam quantas nações contribuíram para o desenvolvimento do seu estado. Meu avô morreu em Chorzów em 1956, quando eu tinha 10 anos, e eu lembro dele como um carinhoso velhinho, que amava muito o seu neto.”
A realização dessa mostra foi realizada em conjunto pela Embaixada da Polônia em Brasília e a Biblioteca da Silésia, e a exposição também conta com o apoio da Sociedade Polono-Brasileira Tadeusz Kosciuszko, BRASPOL e Sociedade Polono-Brasileira Marechal Pilsudski.
O período expositivo extende-se até o dia 17 de julho de 2015, na Casa da Cultura Polônia Brasil,
Interior da Sociedade Tadeusz Kosciuszko que abriga a exposição, inundada de sol... |
FOTOS:
Sandra Lima; Lourdes Kuchenny; Izabel Liviski.
AGRADECIMENTOS
ESPECIAIS: Às senhoras Denise Sielski, Magdalena Kucharska e Schirlei Freder.
5 comentários:
Interessantíssima essa matéria num momento em que o mundo novamente se agita com movimentos migratórios devidos, a maioria, aos mesmos motivos: as ditaduras políticas.
15 de julho de 2015 às 08:55Também refletia sobre a grande oportunidade para realizar um estudo histórico comparativo entre esses movimentos, pois o recebimento de imigrantes italianos, poloneses, japoneses, alemães, etc. (apenas como exemplos), foi extremamente vantajoso para o desenvolvimento de nosso país. Veja-se LIVISKI, este nosso contato. DE LUCA PUCCI.
Recebido por email:
15 de julho de 2015 às 18:33Parabéns Izabel!
Marek Makowski
Izabel, ficou muito legal.
15 de julho de 2015 às 18:38Obrigada,
Denise Sielski.
Izabel, um povo que preserva a memória é um povo que tem viva sua história e sente-se construtor e construído por ela. Percebe-se que na cultura brasileira o passado é um tempo que passou, e frente a todas as adversidades que o povo passa, seu olhar é de esperança sem raízes, como canta Chico Buarque: ...talvez no fundo espera alguma coisa mais linda do mundo, mas para que esperar, sei lá, ... espera a sorte, a morte.... Essa conSciência, de que o que vem do tempo passado são fios construtos dos tempos presente e futuro, precisa ser educada, pois, educação é processo (ao longo da vida) e fenômeno (provoca mudança). Assim sendo, seus trabalhos educativos na mídia são fios construtos de uma educação da qual estamos sedentos.
16 de julho de 2015 às 12:19Agradecemos imensamente.
Bel, que historia interesantissima! Essas narrativas baseadas em memorias/historias de imigrantes sempre sao uma licao de vida que nos faz repesensar nosso papel no mundo. Bravo! Abs! Roger
23 de julho de 2015 às 03:45Postar um comentário
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