sexta-feira, 17 de julho de 2015

POETANDO...


Escrevi poesias na adolescência pelos motivos que qualquer adolescente escreve. Por intuição, por desespero, por amor, por raiva, por tédio. Escrevi perdida no turbilhão da juventude, de desejos e quereres que nunca se realizavam, do mal-estar quase em tempo integral, do sentimento de estar em um corpo que não se quer, que não se gosta, que não se entende. 



Ser adolescente é viver o inferno da existência. Mas não há época mais fértil para produzir arte. Claro que naquela época eu não sabia disso. Apenas vivia e sofria. 


Eu quis fazer poesia para dizer as coisas que não podia. E fiz. Escrevi muito naquela época mas, com uma feroz autocrítica, joguei muita coisa fora.  Porém, dois cadernos daquele período sobreviveram. Eu os encontrei.

E agora, vendo o que escrevi, pude entender um pouco a adolescente que fui. Essa adolescente que ainda mora em mim, e que, debochada, de vez em quando vem à tona, para me fazer rir, chorar e me desesperar novamente. Às vezes por coisas tão tolas; às vezes, por coisas tão sérias... Mas, acima de tudo, essa adolescente faz com que eu ainda tenha sonhos...


As poesias que se seguem foram escritas por mim. Não pela mulher que sou, mas pela adolescente que fui. 


Caminhada

Soltei as amarras do medo
E me conduzi sem segredos
Ao meu verdadeiro gostar

Passei por cima de sonhos
(tolos sonhos de mulher)
Virei a cara pro destino

Planejei os meus caminhos
Faço agora o que eu quiser
Mente adulta, corpo “meio de menino”

Vacilante, segui em frente
Risquei recalques, complexos,
Limpei o corpo, arejei a mente

Olho adiante, falta muito pra chegar
(mas pra me dar esperanças)
Repito a cada instante: Já estou quase, quase lá!

Caminhada longa essa
Mas eu quero continuar
Verso a verso, passo a passo

Exige esforço, vontade, gostar
Dedicação, verdade, meta
Leitor perdoe meus erros,
Mas é tão difícil ser poeta!

(Outubro de 1984)




Versos de Vanisse

Meus versos são versos assim:
Simples demais, livres demais
São versos repletos de ais
Versos sem começo nem fim

Meus versos são versos felinos
Versos de menina-mulher
Eles se criam sozinhos
Versos de quem não sabe o que quer

Meus versos nascem sem aviso
Em qualquer hora e lugar
Nascem do choro ou do riso
Nascem na chuva, no rio ou no mar

Meus versos singelos,
humildes que são,
Perdidos no tempo
São filhos dos sonhos
que tenho escondidos
no meu coração

Meus versos, enfim,
São versos assim...
Versos de alguém
Que vive e insiste
São apenas...
Versos de Vanisse.


Imagens retiradas da Internet, sem fins lucrativos:




http://www.recantodasletras.com.br/

Foto dos cadernos:
Vanisse Simone



7 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

Poemas lindos que reaparecem como fotos antigas da autora. Parabéns.

18 de julho de 2015 às 14:14
Anônimo disse...

Vanisse, você sempre maravilhosa.
Essa crise de identidade na adolescência é que nos modifica e fortalece, pois, quando há um rearranjo nas estruturas elas ficam sedimentadas n'alma. Afeto, amor, compreensão - eis os alicerces da vida, e esses ingredientes você expressa em quantidade em seu texto.
Vou indicar seu texto para vários adolescentes com os quais estou lidando. Vou pedir que expressem o que representa para eles suas palavras.
Parabéns, pelo retrato de sua alma adulta forjada na adolescência.


19 de julho de 2015 às 14:08
Régis C. disse...

Encantador. Ler textos escrito por pessoas que um dia já fomos, ainda que em um passado distante, me parece uma verdadeira máquina do tempo.

20 de julho de 2015 às 03:17
Lari Germano disse...

Maravilhosos poemas! Amei!, e me identifiquei com a adolescente e a mulher.

25 de julho de 2015 às 21:43
Lari Germano disse...

Maravilhosos poemas! Amei!, e me identifiquei com a adolescente e a mulher.

25 de julho de 2015 às 21:43
Lari Germano disse...
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Vanisse Simone disse...

Queridos amigos, obrigada pelas lindas palavras.
Faz tempo que não faço poesia e essas vieram do fundo do baú!
Bjo grande.

31 de julho de 2015 às 15:49

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