POETANDO...
Escrevi poesias na adolescência pelos
motivos que qualquer adolescente escreve. Por intuição, por desespero, por
amor, por raiva, por tédio. Escrevi perdida no turbilhão da juventude, de
desejos e quereres que nunca se realizavam, do mal-estar quase em tempo
integral, do sentimento de estar em um corpo que não se quer, que não se gosta,
que não se entende.
Ser
adolescente é viver o inferno da existência. Mas não há época mais fértil para
produzir arte. Claro que naquela época eu não sabia disso. Apenas vivia e
sofria.
Eu quis fazer poesia para
dizer as coisas que não podia. E fiz. Escrevi muito naquela época mas, com uma
feroz autocrítica, joguei muita coisa fora.
Porém, dois cadernos daquele período sobreviveram. Eu os encontrei.
E agora, vendo o que escrevi, pude
entender um pouco a adolescente que fui. Essa adolescente que ainda mora em
mim, e que, debochada, de vez em quando vem à tona, para me fazer rir, chorar e
me desesperar novamente. Às vezes por coisas tão tolas; às vezes, por coisas
tão sérias... Mas, acima de tudo, essa adolescente faz com que eu ainda tenha
sonhos...
As poesias que se seguem foram escritas
por mim. Não pela mulher que sou, mas pela adolescente que fui.
Caminhada
Soltei
as amarras do medo
E
me conduzi sem segredos
Ao
meu verdadeiro gostar
Passei
por cima de sonhos
(tolos
sonhos de mulher)
Virei
a cara pro destino
Planejei
os meus caminhos
Faço
agora o que eu quiser
Mente
adulta, corpo “meio de menino”
Vacilante,
segui em frente
Risquei
recalques, complexos,
Limpei
o corpo, arejei a mente
Olho
adiante, falta muito pra chegar
(mas
pra me dar esperanças)
Repito
a cada instante: Já estou quase, quase lá!
Caminhada
longa essa
Mas
eu quero continuar
Verso
a verso, passo a passo
Exige esforço, vontade, gostar
Dedicação,
verdade, meta
Leitor
perdoe meus erros,
Mas
é tão difícil ser poeta!
(Outubro
de 1984)
Versos
de Vanisse
Meus
versos são versos assim:
Simples
demais, livres demais
São
versos repletos de ais
Versos
sem começo nem fim
Meus
versos são versos felinos
Versos
de menina-mulher
Eles
se criam sozinhos
Versos
de quem não sabe o que quer
Meus
versos nascem sem aviso
Em
qualquer hora e lugar
Nascem
do choro ou do riso
Nascem
na chuva, no rio ou no mar
Meus
versos singelos,
humildes
que são,
Perdidos
no tempo
São
filhos dos sonhos
que
tenho escondidos
no
meu coração
Meus
versos, enfim,
São
versos assim...
Versos
de alguém
Que
vive e insiste
São
apenas...
Versos
de Vanisse.
Imagens
retiradas da Internet, sem fins lucrativos:
Imagem: Estranho Acontecimento
http://www.recantodasletras.com.br/
Foto
dos cadernos:
Vanisse
Simone
7 comentários:
Poemas lindos que reaparecem como fotos antigas da autora. Parabéns.
18 de julho de 2015 às 14:14Vanisse, você sempre maravilhosa.
19 de julho de 2015 às 14:08Essa crise de identidade na adolescência é que nos modifica e fortalece, pois, quando há um rearranjo nas estruturas elas ficam sedimentadas n'alma. Afeto, amor, compreensão - eis os alicerces da vida, e esses ingredientes você expressa em quantidade em seu texto.
Vou indicar seu texto para vários adolescentes com os quais estou lidando. Vou pedir que expressem o que representa para eles suas palavras.
Parabéns, pelo retrato de sua alma adulta forjada na adolescência.
Encantador. Ler textos escrito por pessoas que um dia já fomos, ainda que em um passado distante, me parece uma verdadeira máquina do tempo.
20 de julho de 2015 às 03:17Maravilhosos poemas! Amei!, e me identifiquei com a adolescente e a mulher.
25 de julho de 2015 às 21:43Maravilhosos poemas! Amei!, e me identifiquei com a adolescente e a mulher.
25 de julho de 2015 às 21:43Queridos amigos, obrigada pelas lindas palavras.
31 de julho de 2015 às 15:49Faz tempo que não faço poesia e essas vieram do fundo do baú!
Bjo grande.
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.