domingo, 30 de agosto de 2015

Em busca das cores.



Ontem sentei num parque aqui perto de casa, levar meus enteados pra brincar um pouco. O parque não é muito longe, a dois quarteirões da minha casa, que bom! Você sabe que no Brasil isso não é uma regra, não há parques e praças tão à disposição quanto merecíamos e quando existem, como este aqui pertinho de mim, nem sempre estão na melhor forma, na maioria das vezes não são tão cuidados, nem vigiados... a coisa pública no país, você sabe, temos muito o que melhorar.
Não quero ficar aqui fazendo um discursinho de denegrir o que é nosso, mas é que ultimamente, e com esta crise, que querendo ou não, estamos a sentir na pele, fica difícil não usar o espaço pra colocar inconformismos e reivindicações. Mas vou procurar pegar leve... até porque o que quero dizer refere-se a pessoas.
Sentei-me na muretinha lá, enquanto o menino rodava de bicicleta e a menina brincava na areia, e em volta de mim estava uma turma de casais. Todos bem novinhos, mas em família: as mães, os pais, os filhinhos... eram amigos entre si e brincavam uns com os outros, cuidando dos filhos deles e dos amigos, como numa grande família.
Pelo pouco que ouvi da conversa, eram todos da periferia e estavam ali a combinar o costumeiro churrasco de fim de semana, as mulheres a queixarem um pouco dos homens (pai não cuida de filho igual a mãe), os pais a correrem atrás dos pequenos, sob comando sempre firme das mães, conversando entre eles, amenidades, entre uma corrida e outra .
Deviam ser todos na faixa de vinte anos, sem muito abastamento, mas com os filhos bem cuidadinhos, crianças bonitas, bem vestidas, dois deles com bicicleta nova e já dominando o manejo delas... E o que me deixou mais contente, foi a união entre eles, poderem contar uns com os outros, sair juntos pra levar os filhos ao parque, jogando conversa fora sem grandes questões, sem peso.
Uma das mães pegou a filhinha da outra, a menorzinha, no colo, como se fosse dela, conduziu até o parque e ficou lá cuidadando, quando a menininha se aproximou da gangorra, protegeu a cabecinha dela, pra não bater no lado que estava alto. 
A outra falava como o filho de uma delas tinha engordado e todas começaram a dizer sobre os hábitos alimentares dos filhos.
As mulheres (ainda meninas) eram mais bonitas que os homens (meninos), mas estavam todos muito harmônicos e eu pensei que se a periferia toda estivesse vivendo num clima como daqueles jovens, o Brasil então estaria indo pra um bom caminho - a não ser pelo refrigerante 2 litros, que no meio da conversa saltou da mão de um dos homens, servindo a todos.
Por outro lado, o sentimento que eu tenho pra mim hoje é de muito sufocamento. A começar pelo ar! Como está difícil viver na área metropolitana nestes tempos de seca! Como a gente pode sobreviver a essa fuligem toda...? Às vezes me dá um desejo real de viver num lugar em que a gente possa inspirar um ar puro, alimentar o corpo com um oxigênio verdadeiro e sentir as ideias fluindo melhor... E não é um sonho! Acho sim uma coisa muito possível, questão de opção apenas.


Depois, por causa dessas contas todas que só fazem aumentar, e da sobrecarga de trabalho. Não está nada fácil pra classe trabalhadora...! A impressão que eu tenho, como tal, é de que a vida é essa carga e de que o tempo que resta entre uma demanda e outra, serve apenas pra recuperar as energias pra poder alimentar outras cargas, impostas pelo sistema é claro (e também por nossas próprias restrições e, algumas vezes, ganância. Mas não é fácil descer desta roda gigante!...).
Sobre isso, assisti a uma animação, muito poética, delicada e bonita: O menino e o mundo. Eu recomendo, vale a pena ver aquelas cores, e aqueles brancos... Sabe, não tem muito como escapar que a história do brasileiro e principalmente de nós aqui dos grandes centros urbanos, tem muito a ver com esse menino. Alguém que sai de um lugar sem perspectiva, a exemplo (como muitos nordestinos) do pai que um dia saiu em busca de melhor condição de vida, e que vem compor a cidade grande, mais uma peça nesta engrenagem ruidosa e estrambólica que chamamos cidade grande.



Apesar de ter nascido por aqui, na metrópole, não deixo de me sentir como ele, mais uma luzinha acesa no grande morro, que tem como diversão nas horas vagas, na grande maioria das vezes, as luzes da televisão.
Acho que a gente já deu uns passos no sentido de viver melhor, de viver outras coisas. Mas basicamente o que tem nos movido continua a ser a sobrevivência e o ritmo dela não respeita nossas globais necessidades como ser humano. 




Daí tanto me encantar um grupo de pessoas unidas, contrariando o próprio destino, semeando um novo mundo, ainda que isso seja pouco, muito pouco, pra tanta mudança que a gente tem que promover pra estar realmente num lugar melhor.
Ainda que a gente se considere privilegiado, nivelando, portanto, por baixo, parece-me óbvio que falta demais para vivermos como gente de verdade, com tempo pras nossas necessidades individuais e coletivas, num meio ambiente mais adequado pra saúde e com um sentimento de que a vida tem significado e de que vale a pena viver (principalmente naqueles raros espaços vazios do dia-a-dia em que paramos pra pensar um pouco - os brancos em que, enfim, ressaltam as cores do mundo).


É isso... Nos espaços em branco, penso ainda que esta condição de vida não é suficiente pras minhas necessidades tão amplas.
Por que nos contentamos com poucos parques? Com parques sem flores? Com parques sem brinquedos pras crianças?
...


entenda com o coração, o que não está dito.








Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros" e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no facebook e no twitter e a página Lári Prosa e Trova no facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.

1 comentários:

Marcos Liotti disse...

Começo por dizer que sim... É possível, e é uma questão de opção... O mundo é demasiado grande para estarmos confinados em pequenos territórios... Vou citar uma ideia que para mim faz todo o sentido hoje, depois de conhecer bem como a humanidade é formatada, e diz assim... "Se temos braços e pernas, é para podermos nos deslocar, e não estar parados" lembro que é uma frase feita e proferida por um dos sábios da história, embora, não me lembre quem... O mais importante é a ideia mesmo... Que nos leva a viajar um pouquinho fora dos calabouços que a sociedade nos coloca, quando tentamos ver a vida de forma diferente do formato habitual, aquele que nos prende a Cidades, casas, carros, raiz, obrigações públicas do bem comum, bem de alguns... Comuns, de alguns... Um conceito de fidelização da chamada, civilização moderna... Ou está nela, ou não és se quer elegível para ela... E quem decide isso somos nós, está nas nossas mãos... :)

E não é a toa que muito frequentemente dezenas de pessoas um pouco por toda a parte, sentem a necessidade de desbravar, descobrir, encontrar... Vivemos numa era que tudo isto está sendo questionado, era de migrações humanas... Onde se procura... O seu porto seguro, o seu lugar de ser feliz, ou se sentir bem... O meu tem que ter Sol, Mar, Verde, e o tal ar puro... De momento só tenho mesmo Sol, que funciona em mim como estímulo intelectual, como ao cabelo do Sanção, era lhe atribuído a força... E a encantadora Lua cheia, claro, e suas companheiras e lindas estrelas, que fazem o céu desta cidade lindo, à noite... Sem dúvida...

Conheço o parque, de passagem, também vivi perto dele, uns tempos, e devo me considerar um afortunado, por ter me mudado para perto de outro ainda maior, com muito verde, pessoas de várias origens e estilos, até música tem aos fins de semana... Aparentemente bem cuidado, mas, o segredo da vida leve, é sabermos nos adaptar a tudo e ao meio, treinando gostar do bom, e ver sempre este lado em tudo... Até no mau!...

E me fez lembrar o texto de todos os parques como este que visitei nos 3 continentes onde vivi... Alguns com a minha filha... Que também adorava passar por eles e tomar sorvete... Todos possuem algo em comum, são como um Oásis num deserto... Um pequeno espaço de sonho, de alimento dele... Para crianças que agora só podem brincar em espaços confinados e seguros... Sou do tempo em que brincar era sinónimo de explorar, em toda rua, ruas, matos, lugares...

Também desejo este lugar de ar puro, e ter por perto tudo o que gosto acima... Acredito nesta opção... Porque existe... :)))

30 de agosto de 2015 às 12:41

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