O OLHAR LÚDICO DE UMA FOTÓGRAFA POLONESA NO BRASIL...
Dando
continuidade à pesquisa sobre fotógrafas pioneiras, destacamos
nesta edição o trabalho da fotógrafa Stefania Bril, que dedicou
grande parte de sua vida à observação, análise e à fotografia de cenas
brasileiras entre os anos 1970 e início dos 90, contribuindo para a criação e difusão de uma imagética nacional.
Stefania
Bril nasceu em Gdansk, na Polônia, em 1922. Estudou ciência e
química na Université Libre de
Bruxelas, na Bélgica. Formou-se em 1950 e, no mesmo ano, veio
para o Brasil, onde se naturalizou em 1955. A paixão pela fotografia
veio tardiamente, quando já radicada em São Paulo, trabalhou como
química e começou a estudar fotografia em 1969. Aos 46 anos, passou
a frequentar as aulas da escola Enfoco. Daí até sua morte em
1992, foi uma presença ativa no cenário da fotografia brasileira.
Ela atuou como crítica e ensaísta em veículos como o jornal O
Estado de S. Paulo e a Revista Iris.
Foi também curadora em eventos como os Encontros de Fotografia de
Campos de Jordão (1978 e 1979) e a Casa da Fotografia Fuji (1990),
em São Paulo. Participou do Mois
de la Photo à Paris além
da exposição Brésil
des Brésiliens,
no
Centre Georges Pompidou em
1983. Integrou a equipe do NAFOTO (Núcleo dos Amigos da
Fotografia) e publicou o livro de fotografias Entre
(1974) e a coletânea de ensaios Notas
(1987), além da obra com o também fotógrafo Bob Wolfenson.
Produzido
ao longo de duas décadas, entre 1969 e o final dos anos 1980, seu
acervo é composto por cerca de 11 mil imagens. São ensaios
fotográficos autorais, sempre com um olhar crítico e uma dose de
humor, com destaque para os retratos de gente anônima. O legado de
Stefania Bril inclui também uma vasta coleção bibliográfica
formada por recortes de periódicos.
O
olhar de Stefania Bril é, antes de ser o da fotógrafa, o da
curadora e o da crítica de fotografia. Um projeto lúdico como o de
seu livro A Arte do Caminhão (1981) – em parceria com Bob
Wolfenson, com textos de Jorge da Cunha Lima e Ciro Dias dos Reis –
deixa explícito o olhar que busca revelar, na foto, uma nova foto: o
comentário sobre a desconcertante objetividade da imagem depois que
ela se entrega à lente do fotógrafo.
Em tempo, o NAFOTO (1991-2011), foi segundo Rubens Fernandes Junior, uma
experiência coletiva, produto do contexto político e cultural
brasileiro. A
composição diversificada do grupo, técnica e culturalmente
falando, é que permitiu a multiplicidade de atividades desenvolvidas
ao longo de seus 20 anos, pautando-se desde sempre pelas idéias de
difusão, intercâmbio de informações e a educação fotográfica,
durante todo seu percurso.
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Izabel Liviski é professora e fotógrafa, doutora em Sociologia pela UFPR. Escreve a coluna INcontros desde 2009 e é também co-editora da Revista ContemporArtes.
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1 comentários:
O cotidiano na fotografia me recorda o surgimento na História da História do Cotidiano, retratando fatos comuns das sociedades, ao contrário da História "oficial", voltada para eventos e personagens tidos como "excepcionais". Mas é o cotidiano das práticas sociais, muitas microssociais, que vai constituindo os "grandes" fenômenos. Nisso ambos os movimentos se encontram.
18 de novembro de 2015 às 13:22Postar um comentário
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