sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Louis Garrel em "Dois Amigos" inicia sua carreira de diretor



Falar de amor é sempre bom,  ainda mais quando se tem o galã francês Louis Garrel dirigindo e atuando no mesmo filme. "Dois Amigos", filme em cartaz em SP,  tem referências explícitas de François Truffaut e da Nouvelle Vague com  foco num triângulo amoroso composto por dois amigos e uma linda mulher iraniana. 
Apesar do filme não ter essencialmente teor politico, Garrel fez questão de construir,  como pano de fundo, um cenário com uma Paris melancólica, desconhecida e povoada por uma "geração perdida", por volta dos 30 anos. 

Amor e amizade 

"Queria que os próprios parisienses não identificassem a cidade". 

Filmou as ruas, a estação de trem Gare du Nord e bares da cidade luz num tom avermelhado.
Sem muita coisa a  fazer, dois amigos perambulam pelas ruas de Paris tentando achar sentido para suas vidas vazias. O filme  expõe  a fragilidade masculina, as angústias existenciais de dois amigos, Clément ( Vincent Macaigne ) e Abel ( Louis Garrel) e os perrengues sofridos ao se apaixonarem pela mesma mulher,  a iraniana Mona 
( Goldshifteh Farahani). 

Goldshifteh Farahani 
O amor dos três tem algo de platônico, soa como um preenchimento ideológico para suas próprias vidas vazias.  A discussão em torno do amor e da amizade permeia todo o filme porém nada de mais profundo é exaltado, tudo parece soar como uma ópera aos avessos em que o melodrama não chega ao ápice por falta de propósito e por conter um tom irreverente, sórdido que costura a trama.  


A trama começa e termina do mesmo jeito, nada realmente muda naquela vida enfadonha dos dois amigos.
A atriz iraniana Goldshifteh Farahani  (Mona) é o pivô da discórdia entre eles. A atriz tem origem muçulmana e foi banida do Irã por ter aparecido seminua em uma matéria do jornal "Le Figaro", sendo assim aparecer seminua no filme de Garrel não foi problema para ambos.
Para Pedro Diniz, colunista da folha, "Garrel, se fosse brasileiro, definiria o sentimento de vazio que sente de 'sofrência', palavra popularizada pelo cantor baiano Pablo para traduzir a dor da perda de um grande amor".
Gostei particularmente de como Garrel  brinca durante o filme com o seu próprio estereótipo de menino lindo e blasé. Discutir um rótulo é um bom começo para quem quer mudar o rumo das coisas. Ainda assim, ele é lindo e isso "complica um pouco as coisas", como uma das falas do personagem Abel. 
Garrel é sem dúvida um Truffaut contemporâneo. Vale a pena conferir. 



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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