sábado, 19 de dezembro de 2015

O “inquietante” no filme A Pele (2006)



             Sob muitos aspectos, o filme A Pele (2006) aborda um tema inquietante. Diane Arbus, uma fotógrafa que possui um gosto pelo excêntrico, é a personagem principal do drama.

Nicole Kidman interpreta Diane Arbus, protagonista em A Pele.

Cartaz do filme.
Em artigo intitulado “Vivendo a diferença e experimentando a existência: O imagético e misterioso mundo de Diane Arbus no filme A Pele”, Cibelle Jovem Leal e Ivone Agra Brandão apontam que a personagem Diane Arbus vai pensar “a diversidade, a pluralidade e a multiplicidade” (2011, p. 2).

            Arbus é fascinada pelo diferente, pelo “estranho”. Como se algo lhe faltasse, ela se aventura por um caminho que lhe é completamente novo. Casada e com dois filhos, a priori ela é uma mulher obediente e reprimida, mas a presença de um novo inquilino no andar de cima muda completamente os seus hábitos.  Como notou Leal e Brandão (2011, p. 3), a protagonista, através dos flashes das câmeras, “consegue fazer uma leitura de si, analisando-se como uma pessoa inconformada com o ambiente que habita, e com suas práticas desenvolvidas no cotidiano como uma simples assistente de seu marido”. Aos poucos, ela “abandona” a sua vida familiar e não mais se contenta em trabalhar ao lado do marido. Diane Arbus passa a desejar ardentemente “mostrar ao mundo a beleza da variabilidade que ele possui” (2011, p. 3).

Foto de Diane Arbus.
            “Sujeito migrante, nômade e mutante” é a forma pela qual a protagonista é apresenta por Leal e Brandão (2011, p. 3), uma vez que Diane “sempre viveu na busca pela sensação do novo, do diferente, da adaptação, da chegada e da saída de um mundo que não é seu” (2011, p. 4). Segundo Leal e Brandão, Arbus se sentia uma anormal em meio aos normais. De fato, ela parece não pertencer ao mundo que teoricamente devia fazer parte. Há uma não-adaptação, um não-pertencimento ao universo familiar, tanto que notamos uma rejeição da filha mais velha e dos pais, principalmente. Cabe assinalar que Diane Arbus (1923-1971), para além das telinhas do cinema, foi uma fotógrafa que, de fato, existiu. Com um olhar inovador, ela deu ao “anormal” novo sentido; não por acaso, ficou conhecida como a fotógrafa dos marginalizados sociais.
            Em artigo que se intitula “Anormais na obra fotográfica de Diane Arbus” (2012), Daniela Szwertszart apontou que, nos anos 60, os conceitos de norma e desvio são redefinidos e o monstro passa da ordem do outro, ou seja, da alteridade radical, para a ordem do idêntico. Arbus lança um olhar sensível sobre a deformidade física e, dessa forma, passa a existir uma relação de atração e identificação, segundo Szwertszart. É essa relação que ela vai ter com Lionel, o seu inquilino. Ele sofre de uma doença rara que significa que seu corpo inteiro é recoberto de pelos. Lionel é diferente aos olhos de Diane, talvez na mesma medida em que Diane é diferente aos olhos de Lionel. A beleza do homem coberto de pelos e a curiosidade da mulher marcam a diferença e o encanto de um pelo outro.

Cena do filme A Pele.

Diane Arbus parece entender que “a monstruosidade reside no olhar de quem olha, e não no corpo de quem é olhado” (2012, p. 36). Com um olhar que transcendeu os muros da normalidade, Diane buscou a beleza, mas o seu conceito de belo em nada se confunde com o conceito de belo que rege a nossa sociedade.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Ivone Agra; LEAL, Cibelle Jovem. “Vivendo a diferença e experimentando a existência: O imagético e misterioso mundo de Diane Arbus no filme A Pele”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho, 2011.

SZWERTSZARF, Daniela. “Anormais na obra fotográfica de Diane Arbus”. Cad. de Pesq. Interdisc. emCi-s. Hum-s., Florianópolis, v. 13, n. 103, p. 32-45, ago/dez 2012.

Maikely Teixeira Colombini é Mestra em Letras – Estudos Literários pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e graduada em Letras com Licenciatura em Português e Literaturas de Língua Portuguesa por esta mesma instituição. Seus interesses perpassam a Literatura em geral, com ênfase especial no espaço ficcional e no cronista Rubem Braga (1913-1990).
E-mail de contato do colaborador: maikelycolombini@ig.com.br


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