O “inquietante” no filme A Pele (2006)
Nicole Kidman interpreta Diane Arbus, protagonista em A Pele. |
Cartaz do filme. |
Arbus
é fascinada pelo diferente, pelo “estranho”. Como se algo lhe faltasse, ela se
aventura por um caminho que lhe é completamente novo. Casada e com dois filhos,
a priori ela é uma mulher obediente e
reprimida, mas a presença de um novo inquilino no andar de cima muda
completamente os seus hábitos. Como notou Leal e Brandão (2011, p. 3), a
protagonista, através dos flashes das câmeras, “consegue fazer uma leitura de
si, analisando-se como uma pessoa inconformada com o ambiente que habita, e com
suas práticas desenvolvidas no cotidiano como uma simples assistente de seu
marido”. Aos poucos, ela “abandona” a sua vida familiar e não mais se contenta
em trabalhar ao lado do marido. Diane Arbus passa a desejar ardentemente
“mostrar ao mundo a beleza da variabilidade que ele possui” (2011, p. 3).
Foto de Diane Arbus. |
Em
artigo que se intitula “Anormais na obra fotográfica de Diane Arbus” (2012),
Daniela Szwertszart apontou que, nos anos 60, os conceitos de norma e desvio
são redefinidos e o monstro passa da ordem do outro, ou seja, da alteridade
radical, para a ordem do idêntico. Arbus lança um olhar sensível sobre a deformidade
física e, dessa forma, passa a existir uma relação de atração e identificação,
segundo Szwertszart. É essa relação que ela vai ter com Lionel, o seu
inquilino. Ele sofre de uma doença rara que significa que seu corpo inteiro é
recoberto de pelos. Lionel é diferente aos olhos de Diane, talvez na mesma
medida em que Diane é diferente aos olhos de Lionel. A beleza do homem coberto
de pelos e a curiosidade da mulher marcam a diferença e o encanto de um pelo
outro.
Cena do filme A Pele. |
Diane Arbus parece entender que “a monstruosidade
reside no olhar de quem olha, e não no corpo de quem é olhado” (2012, p. 36).
Com um olhar que transcendeu os muros da normalidade, Diane buscou a beleza,
mas o seu conceito de belo em nada se confunde com o conceito de belo que rege
a nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, Ivone Agra; LEAL, Cibelle Jovem. “Vivendo a
diferença e experimentando a existência: O imagético e misterioso mundo de
Diane Arbus no filme A Pele”. Anais
do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho, 2011.
SZWERTSZARF, Daniela. “Anormais na obra fotográfica de
Diane Arbus”. Cad. de Pesq. Interdisc. emCi-s. Hum-s., Florianópolis, v. 13, n.
103, p. 32-45, ago/dez 2012.
Maikely
Teixeira Colombini é Mestra em Letras – Estudos Literários pela Universidade
Federal de Viçosa (UFV) e graduada em Letras com Licenciatura em Português e
Literaturas de Língua Portuguesa por esta mesma instituição. Seus interesses
perpassam a Literatura em geral, com ênfase especial no espaço ficcional e no
cronista Rubem Braga (1913-1990).
E-mail
de contato do colaborador: maikelycolombini@ig.com.br
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