terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Receitas para um ano novo



Fim de ano

Aquela sensação de euforia festiva
Misturada com o desacelero 
na entrada do verão tropical.

Reflexões...
Fazemos um balanço
das conquistas
dos aprendizados
dos obstáculos
dos fracassos
Delineamos próximos passos
desapegamos de defasados costumes

Ai. Quanta besteira!

Oras, 
Se têm coisas que pode mudar 
Não espere datas
Nem por bons ventos 
A vida é curta.


Ah! Cuidado com o consumismo e lembre-se que mundo está organizado para gastarmos muito, principalmente, nesta época do ano.



Aproveito o ensejo para postar uma receita de ano novo, de Drummond:

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre"

ANDRADE, Carlos Drummond de, Receita de Ano Novo. Ed. Record, 2008.


Ferreira Gullar também escreveu poéticamente sobre esta data:

ANO NOVO 
"Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.

Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo começa.

E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.

Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)."

GULLAR, Ferreira. Barulhos, José Olympio, 1987, RJ 

Nunca se esqueça: É dentro de nós que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Feliz ano novo!

 Foto: Letícia G. Camillo.
Soraia Oliveira Costa, mestre em História da Ciência pela UFABC e graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Professora de Sociologia na Educação Básica e na Educação de Jovens e Adultos no Estado de São Paulo. Trabalha também com audiovisual desde meados de 2007. Produtora do documentário "Transformação sensível, neblina sobre trilhos", que trata da história vila de Paranapiacaba, feito com incentivo do MEC/SESu, UFABC e FSA. Nas horas vagas estuda música, toca acordeon e joga futebol.

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