De volta aos anos 80, "Califórnia" de Marina Person é um filme sobre jovens
Hoje fui assistir "Califórnia", lindeza de filme dirigido por Marina Person que conta a história da jovem Estela. De imediato tive duas sensações: de voltar à minha adolescência e de ver que os conflitos da juventude são, na maioria das vezes, os mesmos. Portanto tudo me pareceu familiar, de época e ao mesmo tempo muito contemporâneo. O ano é 1984, um pouco antes das Diretas Já. Em meio as músicas de Bowie, The Cure, New Order, Joy Division e de um rock bem com a cara dos paulistanos; Titãs, Metrô, Ira e Kid Abelha, a história de Estela ganha ares de descoberta identitária, de posicionamento revolucionário.
Essas foram as bandas e os artistas escolhidos por Marina para compor a trilha sonora que embalou sua vida e a vida da personagem Estela, vivida por Clara Gallo, e de seu tio Carlos, interpretado por Caio Blat. Estela seria alter ego de Marina? Sim mas não só o dela mas de toda juventude que viveu nesses finais dos "tempos rebeldes".
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Baixo orçamento e uma história embalada com músicas pós-punk e rock paulistano |
As Cenas de Amor foram as melhores
A história da menina que vive entre as descobertas do amor e a vontade de ir conhecer a California, ganha força pelas músicas e pelas cenas de amor, muito bem dirigidas tornaram-se fascinantes.
Não se deve contar nada mais do filme pois o enredo é simples mas encantador, talvez justamente pela forma descompromissada como essa história corriqueira é filmada.
Leve e sem muito romantismo, o filme mostra uma geração sanduíche entre os hippies, que provocavam arrepios nos mais conservadores com ideias naturebas e passifistas e os jovens de hoje em dia.
Outro ponto a destacar é a narrativa, as coisas vão acontecendo sem um desfecho esperado, isso dá ao filme um ar comum. A ênfase está nas próprias cenas e não exatamente no conjunto delas. Gosto disso, acredito nesta forma de fazer cinema que investe na imagem e no som e a história se faz com isso e não só com começo, meio e fim.
O personagem "estranho" da turma lê Feliz Ano Velho em umas das cenas
Esse livro, "Feliz Ano Velho" de Marcelo Rubens Paiva, não é somente uma autobiografia a respeito dos perrengues enfrentados pelo autor em consequência do acidente que o deixou tetraplégico, mas acima de tudo, um relato sutil do regime militar que desencadeou no sumiço de seu pai.
Foi publicado em 1982 e lido por toda uma geração.
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"Estranho é não gostar do seu All Star Azul" Nando Reis |
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Essa cena me fez pensar na parecença do feminino e masculino quando se é jovem rebelde, como descreve Patti Smith sua relação de amor com Robert Mapplethorpe em seu livro "Só Garotos" |
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Patti e Robert, uma relação de amor livre nos anos 60 |
Claro, um filme de Marina Person tem de ter essa musicalidade e essa leveza que herdou de tantos anos de MTV. Sua primeira ficção é um arraso mostrando que os jovens podem ser masculino e feminino num só corpo.
Ótimo filme, assistam !!!
Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italianoprincipalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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