quarta-feira, 27 de abril de 2016

De volta aos anos 80, "Califórnia" de Marina Person é um filme sobre jovens



Hoje fui assistir "Califórnia",  lindeza de filme dirigido por Marina Person que conta a história da jovem Estela. De imediato tive duas sensações: de voltar à minha adolescência e  de ver que os conflitos da juventude são, na maioria das vezes, os mesmos. Portanto tudo me pareceu familiar, de época e ao mesmo tempo muito contemporâneo.  O ano é 1984, um pouco antes das Diretas Já. Em meio as músicas de Bowie, The Cure, New Order, Joy Division e de um  rock bem com a cara dos paulistanos; Titãs, Metrô, Ira e Kid Abelha, a história de Estela ganha ares de descoberta identitária, de posicionamento revolucionário. 
Essas foram as bandas e os artistas escolhidos por Marina para compor a trilha sonora que  embalou sua vida e a vida da personagem Estela, vivida por Clara Gallo, e de seu tio Carlos, interpretado por Caio Blat. Estela seria alter ego de Marina? Sim mas não só o dela mas de toda juventude que viveu nesses finais dos "tempos rebeldes".
Baixo orçamento e uma história embalada com músicas pós-punk e rock paulistano 

As Cenas de Amor foram as melhores 

A história da menina que vive entre as descobertas do amor e a vontade de ir conhecer a California, ganha força pelas músicas e pelas cenas de amor, muito bem dirigidas  tornaram-se fascinantes. 
Não se deve contar nada mais do filme pois o enredo é simples mas encantador, talvez justamente pela forma descompromissada como essa história corriqueira é filmada.
Leve e sem muito romantismo, o filme mostra uma geração sanduíche entre os hippies, que provocavam arrepios nos mais conservadores com ideias naturebas e passifistas e os jovens de hoje em dia. 


Outro ponto a destacar é a narrativa, as coisas vão acontecendo sem um desfecho esperado, isso dá ao filme um ar comum. A ênfase está nas próprias cenas  e não exatamente no conjunto delas. Gosto disso, acredito nesta forma de fazer cinema que investe na imagem e no som e a história se faz com isso e não só com começo, meio e fim. 

O personagem "estranho" da turma lê Feliz Ano Velho em umas das cenas 

Esse livro, "Feliz Ano Velho" de Marcelo Rubens Paiva, não é somente uma autobiografia a respeito dos perrengues  enfrentados pelo autor em consequência do acidente que o deixou tetraplégico, mas acima de tudo, um relato sutil do regime militar que desencadeou no sumiço de seu pai. 

Foi publicado em 1982 e lido por toda uma geração.

"Estranho é não gostar do seu All Star Azul"  Nando Reis 
Essa cena me fez pensar na parecença do feminino e masculino quando se é jovem rebelde, como descreve Patti Smith sua relação de amor com Robert Mapplethorpe em seu livro "Só Garotos"
Patti e Robert, uma relação de amor livre nos anos 60
Claro, um filme de Marina Person tem de ter essa musicalidade e essa leveza que herdou de tantos anos de MTV. Sua primeira ficção é um arraso  mostrando que os jovens podem ser  masculino e feminino num só corpo.


Ótimo filme, assistam !!!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italianoprincipalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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