terça-feira, 7 de junho de 2016

Movimentos migratórios na EJA e violações




Leciono as disciplinas Sociologia e Filosofia no Ensino Médio numa escola localizada na periferia de Santo André, tanto para o Ensino Regular como para o Termo, na Educação para Jovens e Adultos (EJA). A partir da foto abaixo, nota-se que parte da população que estuda na escola vive em situação precária e ao andar pelo entorno pode-se verificar que até a parte urbanizada é carente de recursos básicos. 



Morro da Kibom. Próximo da escola.
Fonte: http://br.worldmapz.com/photo/169218_en.htm


Vou compartilhar com vocês um caso que aconteceu com o 2º ano do termo que me deixou mais reflexiva que o habitual. Apesar de ser uma aula por semana, percebo que as pessoas ficam interessadas nas minhas aulas e por mais que algumas tenham dificuldades na escrita, entendimento ou até mesmo não estão com disposição, consigo trabalhar até que bem com eles. Detalhe a sala tem cerca de 40 pessoas, a maioria delas são negras, migrantes e de baixa renda. 

Trabalhamos este bimestre com a temática movimentos migratórios e diversidade social, levantando polêmicas como o motivo da mudança das pessoas, o "mito da democracia racial" e a desigualdade social. Para quem se interessa pelo tema, recomendo o vídeo:



Após debate com a turma da sala, solicitei um trabalho de campo sobre os movimentos migratórios. Pedi para eles entrevistarem alguma pessoa que mudou de uma região para outra e fazerem as seguintes perguntas: 

- Por que você mudou?
- Por que não volta mais para sua cidade/país de origem?

O resultado foi que pude conhecer mais as pessoas, pois algumas delas escreveram sobre sua trajetória ou escreveu de pessoas que são muito próximas e porque foi ratificado nosso diálogo na sala: muitas pessoas mudam da sua cidade/país natal em busca de melhorias de vida e, principalmente, por condições financeiras e não voltam pelo mesmo motivo.

Migração.
Fonte: Escravo nem pensar. 


Trabalhar com educação carece ter paciência e o conhecimento da turma de estudantes para aplicação de uma metodologia de ensino pautada de acordo com as pessoas e seu grau de assimilação-aprendizado. Ouço muita reclamação de professores e denúncias de alunos que me contam das condutas de professores que violam diretamente o direito à educação. Sei que o ensino-aprendizado não é uma tarefa fácil, porém acredito que temos que deixar de culpar quem é vítima, de generalizar que ninguém está interessado e trabalhar com as pessoas que estão interessadas. As demais, o pouco que consigamos ensinar já será uma grande valia.

Analfabetismo no Brasil. Charge Samurai.
Fonte: Internet


Ensino Público. Charge de Amâncio.
Fonte: Internet
Vivemos durante muitos anos num país controlado por governistas ditadores e corruptos, que até hoje estão impunes. Não se esqueçam que violar o direito à educação é também um crime e se você diz ser contrário a esta 'porcaria' toda que está o país (e o mundo) faça a diferença na prática!


Soraia Oliveira Costa, mestre em História da Ciência pela UFABC e graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Professora de Sociologia e Filosofia na Educação Básica e na Educação de Jovens e Adultos no Estado de São Paulo.  Tutora em Educação de Direitos Humanos, UFABC/UAB. Trabalha também com audiovisual desde meados de 2007. Produtora do documentário "Transformação sensível, neblina sobre trilhos", que trata da história vila de Paranapiacaba, feito com incentivo do MEC/SESu, UFABC e FSA. Nas horas vagas estuda música, toca acordeon e joga futebol.





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