quinta-feira, 4 de agosto de 2016

BOLOR




Agora, LADO A. Pela quarta vez, na última sexta-feira, li – no giro rouco da minha própria voz - Vinis Mofados, de Ramon Nunes Mello. Na “cesta básica”, dedicada a Waly Salomão, o básico para a alimentação e alguns bocados - mecanismo do refluxo intelectivo no exercício peristáltico de interiorizar para depois expor. No “dicionário”, uma definição rotativa? Não, vocabular – porque dependia da vocação de quem definia, dependia do caminho e do lar de quem definia. Em “Aurélio”, uma cidade simples, “pé no chão”, literalmente, sem figura, sem figuração na letra, corpo desse corpo, pedra dessa carne. Nas “palavras”, a morte – o livro livra, mas não é livre. Em “Araruama”, o meu lugarejo. Na “impressão”, imprimir. Mastigar. Ruminar. Nas fibras do tecido, o que não causa. A palavra pensada não ousa. Na “palavra de poeta”, “o tempo em cárcere privado”, enxergar no céu um chão de estrelas. Conhecer. Reconhecer. Apreender. “Agueiro”, “palavra úmida”. “dores submersas”. Se adequa, mas não é (ainda) líquida. Não é seca (ainda). Palavra umedecida. Desce. Escorre. “Poeta” - “aquele que está (interessado?) nos outros. Habitando sempre o lado de lá, está sempre no outro. “O Palhaço” desarma o espantalho da alegria e desaba na calçada fria de lavouras a perigo. Assiste – melancólico – a descida oracular dos abutres. Prevê a consumação. Será carne. Será vivo. Chora.
“Play – Rec”.
É sempre a palavra que pare o poeta e não o poeta que pare a palavra. É um caminho de volta para o ventre. Gestação. Espera. Ser outro no outro. Nós, “bêbados”, embebidos de fruto e do que mais viesse. Vinho. Literatura. A tua mão e eu. “Pensamentos líquidos” em forma de palavra. Transportar para outro corpo a nossa idade. Contrabandear. Deixá-lo cheio, grave. A escrita, a fala – um embrião. A revolução. Anteriores. Dantes. Tradição. Traição. Tração.
São traços e passos em volta.
“Não é preciso” – “escanção” – navegar é preciso; viver, não.
Para organizar a vida, guardo no bolso da calça um naco. Guardo no bolso do mundo um parto – uma parte. Resguardo. “dizem que a angustia / se perde no vazio dizem” que a angustia se perde no vazio dizem que a angústia se perde no vazio dizem que a angústia se perde no vazio dizem que a angústia se perde no vazio dizem que a angústia se perde no vazio dizem...
“Delírio”.
“pensa que é / verbo (eu livro)”. Livrar, tornar-se livro, ganhar índice, juntar as páginas e os guardanapos. Uma “Overdose blues” - “na ponta da agulha estrelas / cantando [...]”. Heroínas – na ponta da agulha. Bate forte canta. Entra queimando, corre o corpo e o sangue e as vigas. Num “Sebo”, traça. Traço. Tradição. Cinco real. Gal.
Fa – tal – mente!
“Bairro Peixoto”. Digo – disse. Ponteiros. Uma velinha. Casais. Hotel Santa Clara. “Cutelaria”. Fia-se. afia-se. filia-se. Trabalha-se a fio. Voluntários pátrios. Logradouro. Quase desisti de te escrever. “Cartilha remix”, assim se aprende o toque de qualquer instrumento, assim se alcança qualquer instrumento. Assim, a própria linha
Sex viola grita
Bate pia cita
E (por que não?)
Apropria-se.
Lambe. Prova. Digere. Defunta. Vela, revela e renasce. “Libido tropicalista”. “MP4 PLAYER”. “Micro system”. Master system. System of a down. “Phono-00”. Um “poema digital” fora de linha. Alinhavar. Web. Spider. Spy. Antivírus. Cavalo de troia. “Playlist” (repeat). “Phono-00”. Um “poema digital” fora de linha. Alinhavar. Web. Spider. Spy. Antivírus. Cavalo de troia. “Internerd” – todas as palavras possíveis. Espero algo afetar. Afeto. “Mosaico”. “Cromologia (faixa 18)”. “Azuleijos”. “Pegadas”. Traço. Tradição. Tropeço. “Conjugado”. “Single”. “Stereophonics”. Depois, para preparar uma revolução, para ensaiar uma revolta, para testar o acaso e a violência, “silêncio”. “Bonus track”. Depois, o poeta mira a lanterna na vitrola. Depois, o “LADO B”.

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