BOLOR
Agora, LADO A. Pela
quarta vez, na última sexta-feira, li – no giro rouco da minha própria voz -
Vinis Mofados, de Ramon Nunes Mello. Na “cesta básica”, dedicada a Waly
Salomão, o básico para a alimentação e alguns bocados - mecanismo do refluxo
intelectivo no exercício peristáltico de interiorizar para depois expor. No
“dicionário”, uma definição rotativa? Não, vocabular – porque dependia da vocação
de quem definia, dependia do caminho e do lar de quem definia. Em “Aurélio”,
uma cidade simples, “pé no chão”, literalmente, sem figura, sem figuração na
letra, corpo desse corpo, pedra dessa carne. Nas “palavras”, a morte – o livro
livra, mas não é livre. Em “Araruama”, o meu lugarejo. Na “impressão”, imprimir.
Mastigar. Ruminar. Nas fibras do tecido, o que não causa. A palavra pensada não
ousa. Na “palavra de poeta”, “o tempo em cárcere privado”, enxergar no céu um
chão de estrelas. Conhecer. Reconhecer. Apreender. “Agueiro”, “palavra úmida”.
“dores submersas”. Se adequa, mas não é (ainda) líquida. Não é seca (ainda).
Palavra umedecida. Desce. Escorre. “Poeta” - “aquele que está (interessado?)
nos outros. Habitando sempre o lado de lá, está sempre no outro. “O Palhaço”
desarma o espantalho da alegria e desaba na calçada fria de lavouras a perigo.
Assiste – melancólico – a descida oracular dos abutres. Prevê a consumação.
Será carne. Será vivo. Chora.
“Play – Rec”.
É sempre a palavra que pare o poeta e não o poeta que pare
a palavra. É um caminho de volta para o ventre. Gestação. Espera. Ser outro no
outro. Nós, “bêbados”, embebidos de fruto e do que mais viesse. Vinho.
Literatura. A tua mão e eu. “Pensamentos líquidos” em forma de palavra.
Transportar para outro corpo a nossa idade. Contrabandear. Deixá-lo cheio,
grave. A escrita, a fala – um embrião. A revolução. Anteriores. Dantes.
Tradição. Traição. Tração.
São traços e passos em volta.
“Não é preciso” – “escanção” – navegar é preciso; viver,
não.
Para organizar a vida, guardo no bolso da calça um naco.
Guardo no bolso do mundo um parto – uma parte. Resguardo. “dizem que a angustia
/ se perde no vazio dizem” que a angustia se perde no vazio dizem que a
angústia se perde no vazio dizem que a angústia se perde no vazio dizem que a
angústia se perde no vazio dizem que a angústia se perde no vazio dizem...
“Delírio”.
“pensa que é / verbo (eu livro)”. Livrar, tornar-se livro,
ganhar índice, juntar as páginas e os guardanapos. Uma “Overdose blues” - “na
ponta da agulha estrelas / cantando [...]”. Heroínas – na ponta da agulha. Bate
forte canta. Entra queimando, corre o corpo e o sangue e as vigas. Num “Sebo”,
traça. Traço. Tradição. Cinco real. Gal.
Fa – tal – mente!
“Bairro Peixoto”. Digo – disse. Ponteiros. Uma velinha.
Casais. Hotel Santa Clara. “Cutelaria”. Fia-se. afia-se. filia-se. Trabalha-se
a fio. Voluntários pátrios. Logradouro. Quase desisti de te escrever. “Cartilha
remix”, assim se aprende o toque de qualquer instrumento, assim se alcança
qualquer instrumento. Assim, a própria linha
Sex
viola grita
Bate
pia cita
E
(por que não?)
Apropria-se.
Lambe.
Prova. Digere. Defunta. Vela, revela e renasce. “Libido tropicalista”. “MP4
PLAYER”. “Micro system”. Master system. System of a down. “Phono-00”. Um “poema
digital” fora de linha. Alinhavar. Web. Spider. Spy. Antivírus. Cavalo de
troia. “Playlist” (repeat). “Phono-00”. Um “poema digital” fora de linha.
Alinhavar. Web. Spider. Spy. Antivírus. Cavalo de troia. “Internerd” – todas as
palavras possíveis. Espero algo afetar. Afeto. “Mosaico”. “Cromologia (faixa
18)”. “Azuleijos”. “Pegadas”. Traço. Tradição. Tropeço. “Conjugado”. “Single”.
“Stereophonics”. Depois, para preparar uma revolução, para ensaiar uma revolta,
para testar o acaso e a violência, “silêncio”. “Bonus track”. Depois, o poeta
mira a lanterna na vitrola. Depois, o “LADO B”.
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