sábado, 15 de outubro de 2016



Caros leitores,
A Revista Brasileira de História & Ciências Sociais convida a comunidade acadêmica a participar do Dossiê Temático: "A alma e o corpo por escrito: literatura religiosa e médica, séculos XVI-XIX", a ser organizado pelos professores Eliane Fleck (PPGH - UNISINOS) & Mauro Dillmann (PPGH-FURG). Data limite para submissão 30/04/2017

Ementa:
A produção e circulação de textos religiosos e médicos, manuscritos ou impressos, foi bastante intensa tanto nas metrópoles ibéricas desde o século XVI, quanto na América luso-hispânica colonial e independente (Alvim, 2014; Fleck, 2015). As concepções destas publicações certamente partiram de um “horizonte de espera”, remetendo às expectativas sociais que caracterizaram o universo leitor (Certeau, 2015, p. 210). Fosse para garantir a salvação das almas e o gozo das benesses do céu, fosse para assegurar a saúde e domínio dos corpos (Gómez, 2014, p. 173; Fleck, 2015,
p. 25), livros foram escritos, publicados, reeditados e traduzidos. Mais do que isso, foram lidos, manuseados, utilizados em situações distintas e com finalidades diversas, chegando a formar acervos ou bibliotecas.
A difusão da imprensa e o uso de línguas vulgares garantiram longevidade aos textos, tornando possíveis apropriações diversas, em distintos contextos sociais, além da formação de redes de circulação e de comercialização (Certeau, 2015, p. 207). Como alertou Michel de Certeau (2015, p. 211) “o livro não se reduz somente ao seu sentido assim como um enunciado não leva ao seu conteúdo”. Para os textos publicados, o formato dos livros e as formas como os textos se inscrevem as páginas (Chartier, 2014, p. 11; Mollier, 2008, p. 43) conferiam particularidades às obras, pois “a mesma’ obra não é de fato a mesma quando muda sua linguagem, seu texto ou sua pontuação” (Chartier, 2014, p. 11).

Muitos livros receberam, ao longo dos séculos, inúmeras edições. Assim, na Europa Moderna, a literatura religiosa era impulsionada pelo espírito da Reforma Católica, tanto quanto a literatura médica era pelo pensamento científico, fundamentalmente a partir do século XVII. Vale ressaltar que, de alguma forma, os conteúdos destas publicações dialogavam entre si, principalmente quando consideramos que a disciplina da alma através do corpo era também um discurso recorrentemente contemplado em ambas as literaturas. Pelo menos até o decorrer do século XVIII, a literatura religiosa e a médica apresentavam-se como modelos exemplares de leitura para diversos grupos sociais, uma vez que instruíam, ensinavam e formavam a partir da idealização de  sujeitos cristãos morais, virtuosos e saudáveis.

Tanto a literatura religiosa, quanto a médica - quer manuscrita ou impressa - tem se constituído em fonte potencial de pesquisa ou de objeto para muitos pesquisadores, a partir de temas e problematizações diversos, dentre as quais poderíamos destacar: o significado que estes livros adquiriram em determinados contextos; os usos a eles atribuídos; as ideias que difundiam e/ou  representavam; a conformação de redes de circulação de conhecimento; relação entre texto, leitura e produção de conhecimento; as apropriações, a recepção e a formação de opinião pública; os discursos morais e as concepções de fé e de ciência médica; etc. Interessa-nos, portanto, neste dossiê, reunir trabalhos que problematizem temas diversos a partir da literatura religiosa e da literatura médica, produzidas entre os séculos XVI e XIX, e que, metaforicamente, descreviam o “espelho” da alma e do corpo dos sujeitos de seu tempo. 

Referências bibliográficas

ABREU, Jean Luiz Neves. Saberes ‘coloniais’ e Ethos Ultramarino no
contexto luso-brasileiro. Século XVIII. In: LUZ, Guilherme Amaral; ABREU,
Jean Luiz Neves; NASCIMENTO, Mara Regina do. Ordem Crítica: A América
portuguesa nas “fronteiras” do século XVIII. Belo Horizonte: Fino
Traço, 2013, p. 121-134.

ALVIM, Márcia Helena (org). Conhecimento, cultura e circulação de ideias
na América Colonial Luso-Hispânica. Santo André: ABC, 2014.

CERTEAU, Michel de. A fábula mística, séculos XVI e XII. Vol.2. Rio de
Janeiro: Forense, 2015.

CHARTIER, Roger. A mão do autor e a mente do editor. São Paulo: Unesp,
2014.

FLECK, Eliane Cristina Deckmann (org). As artes de curar em um manuscrito
jesuítico inédito do Setecentos. O Paraguay Natural Ilustrado do padre
José Sánchez Labrador (1771-1776). São Leopoldo: Oikos/Unisinos, 2015.

GOMÉZ, Antonio Castillo. Livros e leituras na Espanha do século de ouro.
Cotia-SP: Ateliê Editorial, 2014.

MEIRELLES, Juliana Gesuelli. A governança do Império Português pela
perspectiva transatlântica: a circulação de ideias científicas no
período joanino (1808-1821). In: ALVIM, Márcia Helena (org). Conhecimento,
cultura e circulação de ideias na América Colonial Luso-Hispânica. Santo
André: ABC, 2014, p. 139-158.

MOLLIER, Jean-Yves. A leitura e seu público no mundo contemporâneo.
Ensaios sobre História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

VILLALTA, Luiz Carlos. Usos do livro no mundo luso-brasileiro sob as luzes:
reformas, censura e contestações. Belo Horizonte: Fino Traço, 2015.

Revista Brasileira de História & Ciências Sociais
http://www.rbhcs.com/

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