FÉRIAS, ENFIM....
"Foi
o melhor dos tempos, / foi o pior dos tempos, / foi a idade da
sabedoria, / foi a idade da tolice, [...] tínhamos tudo diante de
nós, tínhamos nada diante de nós." (Charles
Dickens, História de Duas Cidades)
Nunca trabalhamos tão
pouco, nunca trabalhamos tanto. A questão é daquilo que se considera
trabalho, mesmo as atividades “físicas” contam com um arsenal de
equipamentos que, teoricamente, reduzem o esforço, não há como
comparar o desgaste de uma lavadeira antiga batendo roupas na beira
de um rio, após isso levando-as em um cesto até um lugar em que as
estenderia e posteriormente passaria e engomaria com equipamentos
pesados aquecidos por brasas, com o trabalho moderno que utiliza
máquinas de lavar e secar e ferros de passar leves e anatômicos.
Um
desenho animado de muito sucesso nos anos 1960, “os Jetsons”,
idealizava o que seria o trabalho no terceiro milênio, o trabalhador
sentaria à frente de um botão e o apertaria periodicamente. Não
aconteceu ou aconteceria assim, mas muitos trabalhos guardam alguma
relação com isso, embora com muito mais complexidade e
responsabilidade, exigindo, tanto quanto antigamente, ou até mais,
um justo tempo de repouso.
No entanto, tem sido
cada vez mais difícil aproveitar verdadeiramente o período que
denominamos férias, pois a vida competitiva do mundo do trabalho,
que se manifesta no grande número de horas trabalhadas em todas as
camadas da sociedade, termina trazendo certa ansiedade, sentimento
forte de estarmos “perdendo nosso lugar”, sendo substituídos por
outros, alijados de acontecimentos importantes para a nossa carreira.
O trabalho em final de
semana, o uso constante de celulares para finalidades profissionais,
as demandas emergenciais – ou nem tanto, mas que sentimos não
poder deixar de atender – tudo isso faz com que de certa forma
jamais paremos de trabalhar. No entanto, a
diminuição do período trabalhado, com o consequente aumento do
tempo livre, que despertaria a criatividade e inovação, costuma ser
incensado como uma grande conquista moderna, embora olhando mesmo que
superficialmente pessoas em ônibus, restaurantes, escolas, empresas
e até em parques temáticos e praias (?), seria complicado afirmar
isso.
Inclusive nas camadas mais favorecidas da população as longas
horas de lazer são mitos, embora a possibilidade seja maior de
controle sobre o ritmo da vida, ou seja, estejam menos sujeitos a
controle externo de seu horário de exercício laboral, tendo maior
autonomia no cotidiano. Porém, é evidente que utilizar um horário
de almoço para realizar negócios ou frequentar eventos sociais para
facilitar seus relacionamentos e prospectar novas frentes e
oportunidades não é exatamente um relaxamento.
A estafa é, portanto,
maior, e a impossibilidade de desligar-se do trabalho, por medo da
perda de espaço, ou mesmo do empobrecimento, tem produzido um efeito
curioso, que é o de considerar diversão qualquer mudança de
atividade, ou seja, cuidar de hortas, cozinhar, organizar agenda, ler
relatórios, manuais, ou mesmo jornais e revistas para melhorar a produtividade.
Ócio, leituras não relacionadas ao trabalho, ficar
sem fazer nada são desvalorizados e até temidos; desvincula-se
trabalho de obrigação, o trabalho ocupa toda a vida, e mesmo
festividades típicas de período de férias perdem cada vez mais sua
significação comunitária, para assumir o aspecto apenas de evento
social. Relaxar, descansar,
tornam-se cada vez mais luxos e não merecida e necessária parte da
vida pessoal e profissional. Precisamos usar melhor o tempo livre,
aquele que nos pertence verdadeiramente, para nós e nossos entes
queridos, para as férias e o repouso.
Obs. As fotos postadas nesta matéria foram retiradas da internet e cumprem uma função meramente ilustrativa, sem nenhuma finalidade comercial.
Obs. As fotos postadas nesta matéria foram retiradas da internet e cumprem uma função meramente ilustrativa, sem nenhuma finalidade comercial.
1 comentários:
Uma verdade agravada pelos tempos de incerteza nos empregos. Belo artigo.
31 de dezembro de 2016 às 21:39Postar um comentário
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