sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Três poemas de Edmundo Camaire




poema de aniversário


a cada quarenta segundos
alguém
em algum lugar
por qualquer
que seja o motivo
manda tudo para o inferno
e puxa a tomada
e você começa a pensar
aos quarenta
que apagar as luzes
e desligar a TV
pode ser uma boa ideia

***

animais encurralados no coração da cidade

estão todos aqui?
aonde vocês vão?
e eu me reviro como um cão sarnento
e doente
dançando uma canção alucinada
com as pulgas e carrapatos
grudados no pelo
com aquela besta enorme
roncando ao meu lado
vou limpar a bunda com o seus papeis
"eles precisam de um pouco de realidade"
e eu acendo um cigarro
e minhas calças velhas
presentes da minha velha mãe
estão quase furadas
e meus sapatos velhos
e baratos como um café
estão quase furados
e eu arranco uma mordida generosa
o dinheiro está quase no fim
e eu esmago uma formiga sem culpa
enquanto termino uma guimba e o dia
sentando em um pequeno quarto
escuto a rua lá fora
é como esquecer
e ouvir as coisas passando
enquanto os ponteiros apodrecem
e a poeira se acumula.

***

naquela manhã

me disseram que eu estava errado
e que devia me importar
mas eu não me importo
“continue”
“levante a bandeira”
“divida os biscoitos”
“vamos com isso, rapazes”

a vida não é o suficiente

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