sábado, 10 de dezembro de 2016

Paixão dos diabos.




Quero falar de paixão. Muitos consideram paixão algo irresistível, mas apenas aqueles que não tem familiaridade com ela. Pros apaixonados de plantão, a paixão, velha conhecida, tem outra cara.
De qualquer modo, é verdade, ela é deliciosa, faz a gente subir até às nuvens. Mas nem sempre compensa, e quem logrou experimentar a subida, e não muito tempo depois, a queda, sabe do que eu estou falando.
É um troço forte demais, arrebata. Mas não é irresistível. Sempre se pode resistir, se se usar a cabeça.
Mas é claro que é preciso um histórico de paixões pra ter esta "noção". Pros apaixonados de primeira viagem é exatamente assim e pensam logo: pra quê resistir a algo tão incrivelmente bom? 
E eu digo, pelo mesmo motivo que se resiste à cocaína, por exemplo. 
A paixão é extasiante, é delirante, é surpreendente - mas engana. 
Dá a impressão de que por ela podemos mover o mundo e todas as coisas, e a nós mesmos (coisa tão difícil de acontecer, já que vivemos uma vida toda para, precipuamente, mudar a nós mesmos e evoluir, e não conseguimos). A paixão, por igual, raramente nos faz mudar a nós mesmos ou algo fora de nós.
Agora, resistir à paixão, sim. Está aí uma coisa que faz mudar a nós mesmos e o mundo.
E há também prazer, talvez não o mesmo, em intensidade, em curto espaço de tempo, mas mais compensador e com certeza mais duradouro, na renúncia.
Eu posso dizer essas coisas, porque sou uma apaixonada. Não falo de coisas que ouvi dizer ou que li, são coisas que senti na pele. Muitas vezes a paixão me guiou os passos, mas as escolhas compensatórias da minha vida (da minha vida), não foram fruto de paixão, de domínio do instinto sobre o raciocínio, não!
Ao contrário, foram fruto de escolhas pensadas, pés mantidos no chão, por mais que a cabeça, e o coração, avoe....
Escrevi uma frase na parede uma vez e ela dizia: " eu não sei voar, isso é ilusão/ ninguém pode andar com os pés fora do chão" . É de uma música que eu gosto e a escrevi pra não esquecer exatamente isso. Não adianta ficar mudando de rumo, seguindo o trajeto das paixões, que são voláteis e muitas vezes nos conduzem a um redemoinho sem começo e nem fim e que não vão a lugar nenhum.
Pra ser feliz, a experiência me ensinou que é preciso mais que essa entrega, é preciso conhecer nossas carências e nos livrar dos contos de fadas, porque a vida não precisa ser séria, sem diversão ou alegria, mas não dá pra viver à deriva, à mercê de paixões que vêm e vão, sem um norte.
Nada impede que, pela nossa vontade, o barco da vida mude de direção, mas não podemos ser fantoches de nossos instintos, joguete de ilusões.
Pés no chão não impedem a mente aberta. Mas ajudam muito a evitar quedas que possam nos ferir e a quem amamos.


Paixão parece doença 
Num click, remete a um paraíso
Que se desvanece ao se formar

Mas quem pode vencê-la? 
Perdem-se as estribeiras
Enlouquece-se o pensar 

Um demônio sem dono
Castigando a vontade 
Escravizando o corpo (delírio)

Uma obsessão sem juízo
Calvário de sonhos, delícias
Cujo destino não raro 

É o abismo.



ouça esta música e entenda com o coração o que não está dito.





Larissa Germano é autora de "Cinzas e Cheiros", e escreve nos blogs Palavras Apenas (naoapenaspalavras.blogspot.com) e Nunca Te Vi Sempre Te Amei (cafehparis.blogspot.com), tem perfil no Facebook e no Twitter e a página Lári Prosa e Trova no Facebook. É também compositora intuitiva e tem perfil no Sound Cloud e Youtube.


2 comentários:

Ana Dietrich disse...

Belo e reflexivo texto! Tb sou uma apaixonada! Dizem por aí que é bom se apaixonar por uma causa como por uma pessoa!

10 de dezembro de 2016 às 08:23
Lari Germano disse...

Sim, Ana, você tem razão. Mas mesmo quando nos apaixonamos por uma causa, temos que usar a cabeça, e não perder a capacidade de reavaliar, não deixar a emoção preponderar sobre a razão, ainda que o trabalho nos reivindique a entrega máxima dos apaixonados....!

10 de dezembro de 2016 às 09:54

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