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Abraçar o capeta


http://www.youtube.com/watch?v=bIlLq4BqGdg
“Every single night’s alright, every single night’s a fight and every single fight’s alright with my brain” (“Toda noite está tudo bem, toda noite é uma luta e em cada luta está tudo bem com o meu cérebro”) – com estas palavras, Fiona Apple segue rumo ao fim da música “Every single night”, primeiro single do seu novo álbum de grande título e abreviado por “The idler wheel...”. Após estes três versos, a cantora repete em tom de um sussurro intenso que “I just want to feel everything” (“Eu só quero sentir tudo”). Como transformar uma canção que gira em torno dos demônios que habitam a nossa mente e existência, não apenas durante a noite, mas talvez mais presentes nesse momento em que supostamente deveríamos nos encontrar nos braços de Morfeu, em um videoclipe?

A primeira imagem dos três minutos e meio de videoclipe já se coloca como o dedo que dá o primeiro empurrão numa longa fileira de dominós: a cantora aparece de olhos fechados, ao passo que uma mão arruma um polvo cenográfico sobre sua cabeça. Essa espécie de barreira transparente entre “ficção” e “realidade” é central à narrativa aqui proposta já que a todo o momento a direção de Joseph Cahill coloca em primeiro plano os artifícios da linguagem audiovisual – seja através de efeitos digitais pixelados, seja através da presença da equipe de iluminação que se transforma em um discreto grupo de dançarinos. Nenhum ato se dá de modo falsamente espontâneo e o valor de palavras como “consciente” e “inconsciente” é questionado.



Assim como a sinuosidade dos tentáculos de um polvo, os movimentos de câmera em sequência soam estranhos, assimétricos, bruscos talvez. Mas poderíamos dizer algo diferente sobre as dúvidas que pairam sobre as nossas mentes no momento anterior às decisões que tomamos? Essa instabilidade da imagem não seria proporcional ao nosso desejado e diário encontro com o sono, este momento em que entregamos nosso corpo ao encontro do inesperado e a caixa craniana se torna um palco onde sonhos e pesadelos são encenados?

Nosso cérebro é como o labirinto do Minotauro: sua matéria é arenosa e está prestes a se dissolver, assim como qualquer peça sabidamente ficcional e/ou mitológica. De todo modo, porém, não é de nosso desejo nos desfazer do lugar onírico e mais confortável em que este nos coloca, uma espécie de fuga do real. Neste sentido, o fato da cantora aparecer ao lado de um Minotauro e mesmo abraça-lo ao final desta sucessão de imagens pode vir a ganhar uma outra leitura: entremos nos labirintos e façamos a substituição da batalha contra os demônios por um abraço - abracemos o capeta.



Esse extenso número de amarras dos polvos também pode ser comparado metaforicamente às cordas que sustentam uma marionete. Não à toa, em diversos momentos do clipe, luzes, tal qual lasers, saem do corpo de Fiona Apple. No lugar de controlar seus movimentos, estas cordas se projetam pelo espaço como um asterisco deixando suas pontas soltas para que o espectador as una de algum modo ou creia em uma espécie de aleatoriedade “surreal” quanto à captura e edição de imagens.



Estas retas são as mesmas que protagonizam o relógio presente no videoclipe e também em outro tic-tac nem tão distante, no curta-metragem “O cão andaluz”, de Luis Buñuel e Salvador Dalí, de 1928. Estes ponteiros são os que aparecem de modo literal através do título do filme de Stephen Daldry, “As horas”, de 2002. Como não se lembrar da sequência em que a personagem de Julianne Moore, Laura Brown, vê seu quarto ser inundado por dúvidas?

A estrutura mecânica que possibilita o funcionamento de um relógio à semelhante àquela que torna possível uma caixinha de música. “Every single night” tem sua estrutura melódica baseada nestas composições feitas para pequenos objetos.  Através de seu canto somado à profusão de imagens de seu videoclipe, mais fechaduras do que chaves, nos colocamos ao seu lado e bailamos em torno de nosso próprio eixo. Em círculos, iludimos nossos cérebros e dizemos que “está tudo bem”.






Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Doutorando em História e Crítica da Arte pela UERJ. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (Caixa Cultural de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, 2011) e "Cinema pós-iugoslavo" (Caixa Cultural de São Paulo, 2012). Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP) e da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
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Entre imagens e músicas



Eu gosto de assistir videoclipes, sempre gostei, mas confesso que esse gosto foi acentuado por influência de algumas amigas, uma delas, Mônica Bento, também escreve aqui na Coluna Drops Cultural.  Acredito que os videoclipes, muito mais do que imagens que traduzem  letras de músicas, ou mais do que um jogo de marketing e visibilidade, acho que eles são reflexos de toda uma geração.

É claro que tenho ciência de que os clipes não se fazem sozinhos, ou seja, eles são ou deveriam ser, traduções imagéticas das músicas. No entanto, pode ser impressão minha, mas eu sinto como se ultimamente eles estejam cada vez mais independentes, mais autônomos. Não precisam mais ter relação direta com as letras das músicas ou com os temas, é tudo uma questão de estética, de marketing ou de polêmica.

Além disso, parece que eles vêm ocupando papel de protagonista na indústria musical, principalmente no cenário pop, não se fala mais em número de vendas de CDs, se fala em número de acessos do clipe no Youtube. Não se espera mais qual vai ser o novo single da Lady Gaga  ou da Beyoncé, se espera o quão surpreendente vai ser o videoclipe delas ou quantos milhões de acessos esse clipes terão.

 Sabemos que a indústria da música, sendo justamente uma indústria, segue a lógica capitalista, produção em massa e aplicação de fórmulas de sucesso, e é por isso que tenho sempre a sensação de déjà  vu ao assistir determinados clipes. São os mesmos ângulos, a mesma ausência de roupa, os mesmos gestos e principalmente, as mesmas parcerias. Quando determinado cantor está no auge ele é convidado para infinitas parcerias, já aconteceu com o Timbaland, com o Lil Wayne e agora parece que é a vez do PitBull – rapper que está nas paradas de sucesso com as novas músicas de Jennifer Lopez (on the floor) e da Shakira (rabiosa).

O que também faz parte dessas fórmulas de sucesso são as mensagens, os apelos, e não falo isso por puritanismo ou mesmo por questões de valores morais, é simplesmente porque cansa ser induzido a pensar que a vida se resume a: festa, sexo e carros. Às vezes, esses elementos se combinam de uma tal forma que todos eles presentes no mesmo  clipe.

Sei que nos anos 90 as coisas não eram tão melhores, pensando bem, nos anos 80 também não, os videoclipes eram superficiais e repletos de passinhos dançantes. Mas, sei que não podemos generalizar, ainda se faz vídeos interessantes e que até podemos chamar de arte. No entanto, isso está cada vez mais difícil, será reflexo de nossa geração?


Abaixo algumas dicas Drops para você que gosta de história contemporânea

O lançamento do livro “Entre tipos recortes: histórias da imprensa integralista”, coordenado pelos pesquisadores Leandro Pereira Gonçalves (doutorando em História Social – PUC/SP) e Renata Duarte Simões (Pós-doutoranda em História  - USP). O livro que possui 16 capítulos, foi escrito  por professores e pesquisadores do movimento integralista brasileiro e tem 432 páginas. Apesar de o lançamento oficial ser em julho, durante o XXVI Simpósio Nacional de História, o livro já pode ser adquirido através do e-mail  renasimoes@hotmail.com .

Seminário Internacional de Migrações Contemporâneas “Cidades Globais - Intolerâncias e Solidariedades” acontece entre os dias 29 de junho e 01 de julho na Cidade Universitária – USP. Mais informações: 3091 2441 ou 3091 3584.



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