O cinema contra-hegemônico do século XXI.



Nas duas últimas décadas do século passado existiam três formas de acesso à produção cinematográfica: cinema, TV e locadoras. A internet teve efeito direto nestas três modalidades, porém, a maior transformação se materializou quando a web se transformou em um mercado de consumo cultural.

O principal impacto deste fenômeno está no aumento da possibilidade de exibição das películas independentes, com grande teor crítico ao sistema político-cultural hegemônico. Antes só existiam os filmes feitos para a TV ou para o cinema, atualmente também existem os filmes produzidos para a internet: made for internet.



A queda nos preços do maquinário tecnológico barateou a produção fílmica. Filmes questionadores dos modelos hegemônicos de organização social passaram a fazer parte do cotidiano de pessoas que não tinham a oportunidade de acesso a este tipo de informação.

Um destes filmes lançados na internet- Loose Change, EUA, 2005 - aborda o ataque do 11 de setembro através de uma perspectiva interessante. Para Dylan Avery, diretor deste filme, a queda do Wolrd Trade Center foi uma ação orquestrada pelos neoconservadores norte-americanos que sabiam dos planos da Al-Qaeda e não acionaram os serviços de inteligência para deter os “terroristas”. Tendo em vista que os EUA na década de 60 forjaram um ataque do Vietnã para poder intervir militarmente no sudeste asiático, a hipótese colocada em Loose Change não pode ser completamente descartada. Esta informação foi confirmada no documentário Sob a Névoa da Guerra, EUA, 2003, por Robert MacNamara Secretário de Defesa da época.

Um dos pontos principais abordados por Loose Change, diz respeito às discussões travadas na sociedade norte-americana sobre as causas do atentado. É impressionante como existem milhares de americanos que não acreditam na versão oficial. Para isto os diretores se valeram de imagens das sessões no Senado que ajudaram a construir o relatório oficial sobre a tragédia.

Estima-se que mais de 100 milhões de pessoas assistiram Loose Change. Este número é muito significativo quando se leva em consideração que o custo de produção foi muito baixo, apenas alguns milhares de dólares.

Vale a pena assistir!


Link para o filme: http://www.youtube.com/watch?v=RkDMieahcvQ




Diogo Carvalho é historiador pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente desenvolve mestrado pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (UFBA), onde desenvolve pesquisas sobre o cinema soviético. Membro da Oficina de Cinema História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (UFBA). Trabalha com os seguintes temas: cinema, culturas, cultura digital, política, humanidades e literatura beatnik. diogocarvalho_71@hotmail.com

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6 Bilhões de Outros, Homens e Deuses e Bebês: Vídeo-exposição e cinema francês de qualidade.






























Passar o feriado em Sampa é sempre uma boa pedida. Fiquei aqui e fui conferir algumas reflexões audiovisuais altamente recomendadas para curtir nesse final de semana prolongado.  A Vídeo-exposição 6 Bilhões de Outros  ficará no MASP até 10 de julho. Três imperdíveis temas fizeram parte do meu itinerário: Monges franceses, peripécias de bebês e relatos de pessoas de várias partes do mundo sobre amor, família, êxodo e outros. Notei, nessas três atrações, uma preocupação comum aos autores: as diferenças étnicas, sociais, políticas e religiosas desta “aldeia Global”, termo defendido por Mc Luhan em 1968. Como viver junto, já foi tema da Bienal Internacional de Artes de São Paulo de 2007 e continua a preocupar a humanidade. Como viver nesta aldeia tão diversificada, com tantas questões políticas e sociais distintas?
Convido vocês a participarem e reflitirem a respeito.

6 Bilhões de Outros
Filmagens realizadas em 70 países 
Yann Arthus-Bertrand



Meu itinerário:
Primeiro ponto – partida: MASP - 6 bilhões de Outros, uma vídeo-exposição de Yann Arthus-Bertrand e da Fundação GoodPlanet. Esse projeto, dirigido por
Sibylle d’Orgeval e Baptiste Rouget-Luchaire, vale muito a pena conferir. Pessoas de 78 países respondendo perguntas sobre o amor, a família, seus desejos e medos. Imaginem 5.600 entrevistas gravadas em 78 países por repórteres que viajaram pelo mundo com a intenção de retratar Outros. Yann Arthus-Bertrard idealizou os entendimentos entre os diferentes povos da terra, acreditando essa ser a única forma de sobrevivermos nessa era. Ele diz: “Somos mais de 6 bilhões na Terra! E não há desenvolvimento sustentável se não conseguirmos viver juntos. Esta é a razão pela qual eu acredito no projeto de 6 Bilhões de Outros, e ele me é tão caro. Ele emociona cada um de nós e nos encoraja a agir”
Telas de depoimentos presentes nas tendas temáticas
Utopia? Realidade? Difícil saber, mas é certo de que quando estava dentro da exposição senti uma imensa emoção em ouvir e ver os rostos desses vários habitantes do planeta terra falando em várias línguas diferentes, com trajes diferentes em lugares diferentes, mas que possuíam emoções, problemas, medos e vontades muito semelhantes entre si. 
A exposição é bem dividida. Na parte de cima, em uma grande sala, podemos ver muitos retratos que preenchem as paredes e, aleatoriamente, uma dessas imagens aumenta e podemos ouvir o relato dessas pessoas que respondem 40 perguntas iguais, como: Qual sua profissão? Você gosta do que faz? Qual sua primeira lembrança? Com o que você sonhava ser quando era criança? Muito emocionante vivenciar estes momentos genuinamente sinceros em closes bem tratados de pessoas de toda parte do mundo. Essas imagens e depoimentos me fizeram pensar a respeito da nossa relação com o mundo, com as pessoas que nele habitam.
Descendo uma rampa vemos tendas montadas nas quais podemos ver respostas de pessoas de várias nacionalidades falando sobre histórias de amor, deixar o pais, desafios da Vvda – perdoar, sonhos de Infância, renúncias entre outros.
Confesso que embarquei na viagem e senti a emoção de ver e ouvir pessoas de várias partes do mundo.
A GoodPlanet
A GoodPlanet foi criada em 2005 por Yann com a missão de sensibilizar e educar o público para a proteção ao meio ambiente. Ela se tornou uma fundação reconhecida como de utilidade pública, em 2009.
Cartaz do filme Homens e Deuses 

Segunda parada: Cinema da Livraria Cultura, antigo cine Bombril - Filme, Homens e Deuses (Des Hommes et des Dieux, 2010) dirigido por Xavier Beauvois. O filme se passa no ano de 1996, em Tibhirine, Argélia, quando, devido a guerra civil, os jihadistas assassinam operários croatas e colocam em risco a vida dos Monges de um mosteiro encravado em uma vila muçulmana. Homens e Deuses foi o filme escolhido pelos franceses para participar do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011
O confronto cultural, político e religioso é o ponto mais relevante do filme que mostra como pano de fundo a intolerância e os conflitos entre as culturas mundiais. Para mim o filme é belo pela fotografia, pelos cânticos dos monges, pelos planos poéticos e sem pressa, que mostram o interior de seres que acreditam em seus princípios.








Terceira parada do itinerário: Espaço Unibanco – Filme, Bebês (Bébé(s) / Babies, 2010)  documentário com direção de Thomas Balmès que segue o primeiro ano de vida de quatro crianças em quarto cantos do mundo: Mongólia, Namíbia, Estados Unidos e Japão.

 Emocionante, espirituoso e despretensioso. Este documentário, no qual os bebês são os personagens principais, nos mostra aquilo que é próprio de cada cultura e aquilo que é próprio dos bebes humanos. Sem fala e com um fundo musical, Balmès consegue ser fofo e espirituoso, mostrando as diferenças culturais e geográficas que influenciam a criação de um bebê. Sem exercer um juízo de valor das situações vivenciadas pelas câmeras, o filme se torna uma reflexão a respeito de nós e dos outros.

Como será que vamos sobreviver neste mundo globalizado e cheio de particularidades e conflitos políticos e religiosos? Como que, por um lado, tudo nos leva para todas as partes do mundo, como a INTERNET, e por outro, algumas fronteiras são tão intransponíveis?


Como viver e sobreviver junto nessa terra de 6 Bilhões de Outros?
Assistam aos filmes e a Vídeo- exposição e reflita sobre você, sobre sua nação e sobre os outros. Bons filmes.

Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO, na FPA no Curso de Artes Cênicas e na UNIP nos Cursos de Comunicação. É integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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FOTOS QUE FIZERAM HISTÓRIA


     O impacto cultural da fotografia sobre os últimos mais de cento e cinquenta anos, tanto em si mesma, quanto na forma de imagem visual em movimento a que ela também deu origem tem sido imenso, alterando completamente o ambiente visual e os meios de troca de informação de uma grande parte da população do globo, segundo o historiador Peter Burke.

     A fotografia é o meio visual em que os acontecimentos passados são com frequência tonados mais acessíveis pela resposta emocional do momento. Isto porque a fotografia traz em si uma relação material e causal com seu sujeito. Parte de nossa resposta é para o fotógrafo como um traço real de um acontecimento.

    Os apologistas do foto-jornalismo vão adiante, para sugerir que a informação sobre qualquer acontecimento comunicado por um fotógrafo nos proporcionam conhecimento vital desse acontecimento. Na verdade o passado recente é cada vez mais conhecido através de imagens parcialmente fortuitas e instantâneas. Como expressou o editor de jornal Harold Evans: "Nossas impressões dos acontecimentos importantes e complexos podem ser permanentemente moldadas por um único repórter fotográfico".

     Vamos então elencar algumas fotos das milhares que existem, que foram marcantes  e registraram momentos únicos com personagens  que se destacaram nessa aventura humana que se chama História.

Papa Pio XII se reúne com Adolf Hitler em 1939

Che Guevara morto na Colômbia em 1967

Lênin discursando em Moscou, na subida do palco Stálin à direita


Aliados comemoram vitória da URSS na Alemanha


Zeppelin sobrevoando o RJ na década de 30.


 Santos Dumont em vôo com o 14Bis.


Franceses choram ao ver tropas alemãs desfilando em Paris


Hitler e seus generais em Paris.


Capa da revista Playboy de 1953 com Marilyn Monroe


Charles Chaplin e Mahatma Gandhi em 1931


Primeira negra a ingressar em uma faculdade americana.


Estudantes protestam no RJ na década de 70



Garotinha se recusa a cumprimentar o presidente Figueiredo, na época da ditadura militar.


Kamikases japoneses durante a 2ª Guerra Mundial.


A indecisão do presidente Jânio Quadros. Essa foto de 1962 refletia a situação no país


Estrutura da Torre Eiffel que começou a ser construída em 1887.



Pilotos da Força Área Brasileira durante a 2ª Guerra Mundial

Rendição japonesa em setembro de 1945




              

Izabel Liviski é articulista da coluna Incontros, e escreve quinzenalmente na  Revista ContemporArtes. É fotógrafa e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná.

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3 Poemas de Elisa Lucinda!


TRÊS POEMAS DE ELISA LUCINDA
por Altair de Oliveira

Através de 3 belos poemas, nesta semana apresentamos outra grande poeta capixaba, trata-se da formosa Elisa Lucinda, que é também atriz, jornalista, cantora e professora; enfim uma mulher atual e atuante nas artes e nas causas sociais contemporâneas. Como atriz, Elisa está atualmente trabalhando na novela das oito da rede Globo (Insensato Coração), onde faz a personagem Vilma, mãe da personagem de Camila Pitanga.

Como poeta, o trabalho de Elisa alcança uma musicalidade próxima da prosa, é arrojado, inteligente e inteligível e tem a marca da guerreira fêmea que busca com convicção um lugar ao sol do mundo contemporâneo e globalizado. Uma poesia própria para ser lida à viva voz e que faz de sua autora "a grande dama moderna da poesia brasileira falada" de nossos dias. Seus livros de poemas costumam coincidir com a montagem de espetáculos teatrais onde a própria poeta-atriz faz a leitura de poemas do livro, e que ela costuma levar às importantes capitais do país. Quem puder assistir, por favor, não hesite! Uma deliciosa leitura para todos vocês!




UM POUCO SOBRE A POETA


Elisa Lucinda dos Campos Gomes nasceu em Vitória-ES em 2 de fevereiro de 1958, aos 11 anos ela participou de um curso de interpretação teatral de poesia, ministrado pela professora Maria Filina Salles Sá de Miranda, quando começa a declamar poemas. Formou-se em jornalismo em 1982 e chegou a exercer a profissão de jornalista por alguns anos, mas em 1986 mudou-se para o Rio de Janeiro, disposta a seguir a carreira de atriz. Trabalhou em algumas peças, como "Rosa, um Musical Brasileiro", sob direção de Domingos de Oliveira, e "Bukowski, Bicho Solto no Mundo", sob direção de Ticiana Studart. Integrou o elenco do filme "A Causa Secreta", de Sérgio Bianchi. Seu primeiro trabalho na televisão foi na telenovela "Kananga do Japão", em 1989, na antiga TV Manchete.

Fez várias apresentações teatrais, com declamação de seus poemas, e algumas com a participação especial de Paulo José. No mesmo formato apresentou em seguida "Euteamo Semelhante". Acredita no poema vivo pela declamação, tanto que criou uma associação no Rio de Janeiro de estudo de declamação que promove saraus. Atualmente a poeta excursiona pelo país com mais um espetáculo solo, “Parem de falar mal da rotina”.

Em 2010, a atriz foi agraciada com o "Trofeu Raça Negra 2010" pelo sua contribuição à cultura brasileira.
Em 2011, a poetisa foi entrevistada no programa online "Filossofá - Desertores do Cotidiano", gravado em um sofá, em cima das dunas de Itaúnas, no Espírito Santo. Itaúnas é o lugar em que Elisa passa as férias e que mantém uma "casa-poema".
A poeta ainda mantém a “Escola Lucinda de Poesia Viva” (veja site http://www.escolalucinda.com.br/bau.htm/), no Rio de Janeiro, onde ensina interpretação teatral da poesia seguindo o lema: “Falando poesia sem ser chato”.



Livros:



* A Menina Transparente
* Euteamo e suas estréias
* O Semelhante
* Coleção Amigo Oculto (trilogia infantil).
* Contos de Vista
* A Fúria da Beleza (2006)
* Lili a rainha das escolhas
* Parem de Falar Mal da Rotina(2010)


CDs de poesias:

* Semelhante - sob o selo da gravadora Rob Digital
* Euteamo e suas Estréias - sob o selo da gravadora Rob Digital
* Notícias de Mim, com poemas da poeta paulista Sandra Falcone, participação de Miguel Falabella, direção e produção de Gerson Steves. O CD é resultado do espetáculo homônimo com roteiro e direção de Steves.



Em Telenovelas:

* 2011 - Insensato Coração .... Vilma
* 2009 - Viver a Vida .... Rita
* 2006 - Páginas da Vida .... Selma
* 2003 - Mulheres Apaixonadas .... Pérola
* 1995 - Sangue do Meu Sangue .... Beatriz
* 1990 - Araponga
* 1990 - Escrava Anastácia.... Ermelinda (Yatunji)
* 1989 - Kananga do Japão .... Sueli


Séries:


* 1997 - Você Decide - episódio: Preconceito


No Cinema:

* 2003 - Gregório de Matos
* 2003 - As Alegres Comadres .... Mrs. Rocha
* 2002 - Seja o que Deus Quiser
* 2001 - A Morte da Mulata
* 1997 - O Testamento do Senhor Napumoceno .... Dona Jóia
* 1994 - A Causa Secreta
* 1990 - Barrela: Escola de Crimes




TRÊS POEMAS DE ELISA LUCINDA




LATE ILUSÃO


Em noite de lua cheia
geme ao meu lado o meu cão
acabado de chegar
late ilusões ao meu ouvido
e meu sentido
diz que ele veio pra ficar
Mas a vida passa e vira
páginas da folhinha
o que era cheia e domingo
foi minguando em segundas e terças
e meu homem, minha besta
voltou novo e repetido
como se fosse ficar até sexta
três dias de ele chegando de madrugada
Três dias de ele nadando na minha água
Conversas de homem e mulher
beijo na boca
tirar a roupa
novos latidos de ilusão no meu duvido
meu homem partiu na derradeira manhã
todo agradecido
dos momentos de amor que uivou comigo
eu fiquei lua sozinha no céu com aquela saudade amarela
e ele na terra cantando latindo partindo
uivando pra ela.



***


O BREU



meu eu

Deus meu

Alguém chamou minha mãe

e não pediu a mim

Alguém de algum Deus, algum querubim

retirou-a de cena sem a minha permissão

Alguém arrancou-me o umbigo

sem falar comigo

Alguém, de alguma misteriosa verdade,

Puxou-lhe o fio da vida, a echarpe, a pipa, a idade

Alguém anjo a levou pra compor outro coral

Alguém roubou de mim a sua voz

e sua música que era o meu melhor vento

Adeus moqueca, adeus convento,

Alguém levou meu mundo, meu invento,

minha bruxa boa, meu ungüento

Estou ainda de vestido azul de bolinha

calcinha de babado, sentada na calçada, sozinha

Minha mãe não está na cozinha, no piano, na aula, na vizinha

Alguém badalou meia-noite e a Cinderela virou açoite, pernoite.

É breu, Deus... um buraco fundo, um vão sem chão, o infortúnio

Quero ao menos que, ao morrer o criador, não se vá também a criatura.

Está escuro, quero luz, dá-me a luz...

Alguém desatarraxou daqui minha lâmpada maravilhosa

Agora não posso mais ter febre

Agora ninguém mais reza e não há compressa

Agora eu estou com pressa.




Elisa Lucinda, In: "O Semelhante", Ed. Record 2006.


***


INCOMPREENSÃO DOS MISTÉRIOS



Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.



Elisa Lucinda, In: "O Semelhante", Ed. Record 2006.


***

Para ver mais
:

- Site da poeta: http://casapoema.com.br/
- Blog sobre o trabalho da poeta: http://afuriadeelisa.blogspot.com/

- Vídeo do poema "Só de Sacanagem", por Elisa Lucinda: http://www.youtube.com/watch?v=iTFPPgYj5uQ
- Vídeo do poema "Aviso da Lua que Menstrua", por Elisa Lucinda: http://www.youtube.com/watch?v=K4hu3Jbh0AY&feature=related


Ilustrações: 1- foto da poeta Elisa Lucinda; 2- foto da capa do livro "Semelhante", de Elisa Lucinda; 3- "Forças da Natureza", do pintor Di Cavalcanti; 4- "Mãe Negra", do pintor Di Cavalcanti.



Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.


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Pelos olhos do Guilherme rememoro minha infância (parte 1/2)




Não posso deixar a minha Sony Cyber-shot ou o meu celular a vista, que o Guilherme sai pela sua ainda breve vida a registrar em imagens o mundo à sua volta.

Fotografia 1: Ao tirar mais uma foto da televisão (são várias) buscando registrar os seus desenhos favoritos, sua imagem segurando a câmara digital reflete no tubo da tv; um auto-retrato de cuecas, uma imagem a revelar sua ação, a animação com a brincadeira. Ele sabe que o captado permanece, retoma as fotografias uma a uma, na própria máquina ou depois, no meu computador. No fundo a silhueta de sua mãe se olhando no espelho da sala do nosso apartamento. Janeiro de 2011.
 
Guilherme Reis Mattos Duarte Lima, meu neto, 4 anos, filho da minha querida Natália, tem um tio um pouco mais velho, meu amado João Vitor de 8 anos. Moramos todos em um pequeno apartamento alugado no bairro de Cantagalo em Três Rios/RJ.
São centenas de imagens captadas em um período muito curto. A maioria destas tenho guardado – são imagens digitalizadas, no meu Neopc e em dvds devidamente gravadas. A cada oportunidade de revelar por onde percorre o seu olhar, me encontro fascinado, animado mesmo, assim como descreve Barthes:

Nesse deserto lúgubre, me surge, de repente, tal foto; ela anima e eu a animo. Portanto, é assim que devo nomear a atração que a faz existir: uma animação. A própria foto não é em nada animada (não acredito nas fotos “vivas”) [não será neste artigo que discordarei de Barthes, mas, há vida nas fotografias, pois são lugares de memória] mas ela me anima: é o que toda aventura produz. [1]

O desejo de expressar em um artigo este “estado de animação” vinha ficando em separado, pois no momento o pouco do tempo dos meus dias é dedicado aos estudos e construção da dissertação de mestrado. Mas hoje, ao transferir mais umas tantas imagens registradas pelo Gui, me deparei com a fotografia 1, e... lá estava ele, no gesto, na ação de fotografar, auto se retratando sem assim o perceber, refletido no tubo da televisão.
Dubois afirma que...
 “é a fotografia, antes de qualquer outra consideração representativa, antes mesmo de ser uma imagem que reproduz as aparências de um objeto, de uma pessoa ou de um espetáculo do mundo, é em primeiro lugar, essencialmente, da ordem da impressão, do traço, da marca e do registro (marca registrada, diria Denis Roche). [1]

Fotografias 2 e 3: Sua mochila destacando os “heróis” do Hot Wheels (seu mundo esta repleto de heróis) e seu tio João Vitor dormindo. A relação dos dois é de muito carinho, com as provocações inerentes a idade e ao convívio como irmãos. Objetos, pessoas, espaços de sua vida.  Janeiro de 2011, imagem registrada pela Sony Cyber-shot.

Suas fotografias são registros, traços do mundo que consegue observar com a atenção e preferências da sua idade. Os brinquedos, os bonecos seus heróis, os espaços do apartamento (sala, seu quarto, o meu quarto, a cozinha), sua mãe, seu tio, seu avô, sua mochila do colégio, as capas dos seus dvds favoritos, os decalques colados no caderno ou nas mobílias, os desenhos na tv, seu rosto. Quando na casa da sua bisavó, a atenção se volta para as primas Nicole e Clara, para o Tuffy o gato e também para o espaço entorno; na rua, são as motos, os carros, o antigo prédio onde moramos e o atual, a rua ao lado do apartamento onde brinca com o tio, meu carro, o estacionamento improvisado... seu espaço de vida. Não tenho condições de expor todas neste artigo, apenas aquelas mais representativas do universo por mim descrito.




André Luiz Reis Mattos Mestrando em História Cultural pela Universidade Severino Sombra – Vassouras/RJ



A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.





[1] DUBOIS, Philippe. “O Ato Fotográfico”. Papirus Editora. Campinas/SP. 12ª edição, 2009, pp 61.



[1] BARTHES, Roland. “A Câmara Clara”. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 2008, pp 127.
[2] DUBOIS, Philippe. “O Ato Fotográfico”. Papirus Editora. Campinas/SP. 12ª edição, 2009, pp 61.

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