Renovando a Arte: o movimento Aldravista



Em 2000, foi lançado em Mariana, interior de Minas Gerais, o Jornal Aldrava Cultural, que marca o início do movimento aldravista. O objetivo dos artistas que aderiram à produção da Arte aldravista era (e é) a criação de uma arte mais livre, sem as amarras impostas pela academia ou pela crítica elitista. Esta forma artística buscava (e busca) criar e ousar na produção de novos conceitos nas artes plásticas.
Segundo J.B Donadon-Leal (que é um dos artistas aldravistas): “Aldravismo vem de aldrava, termo que designa o utensílio com o qual se bate nas portas para que estas sejam abertas. Assim, o aldravismo pode ser caracterizado pela arte que chama atenção, que insiste, que abre portas para as interpretações inusitadas dos eventos cotidianos, em relatos daquilo que só o artista viu.[1]
A explanação feita acima deixa claro que a produção aldravista se debruça sobre o leitor, ou seja, é uma produção que, visa o contato com o receptor, aquele que lê, que sente, que interpreta, cria expectativas e que, realmente, dá vida à Arte. Dentro desse contexto, vale ressaltar que os poetas e artistas participantes desse movimento têm um importante papel social, uma vez que vão de casa em casa, batem às portas, pedem para entrar e ao penetrar nas casas, levam consigo a arte, a poesia. Eles levam poesia às casas das pessoas, semeiam a arte Aldravista nos lares e proporcionam às pessoas o desfrutar da poesia e, porque não, formam novos leitores.
“Arte aldravista é metonímica, pois não tem a pretensão de mostrar uma totalidade; contenta-se em apresentar um indício, uma metonímia.[2]” O grupo aldravista criou uma nova forma poética, chamada aldravia que “Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração[3].” Exporei abaixo alguns poemas produzidos pelos artistas aldravistas:
do sexo[4]
/
corpo
pelo
corpo
//
alma
pela
alma
///
Vibrar
:
todo
sexo
sabe
a bênção do amor
que o gratifica
e
o crime do estupro
que o bestifica
:
Deixem-no saudável
!
Outro poema aldravista:
iluminura
ferro retorcido
exposto a agruras
pendurada letra
bordada inicial
a
aldrava
a brava
abra[5]
O erotismo em Andreia Donadon Leal:

dança de estrelas
brinde na noite
céu enluarado
eu e você
efêmero sopro
de sedução[6]
E, por fim, a poesia de J. S Ferreira:
Meu
São Gonçalo
do Rio Abaixo[7]:
I- (Da infância)
Nasci na rua direita
defronte à igreja do rosário
Minha mãe dizia que eu
cabia na palma de sua mão.
Hoje, o movimento iniciado em 2000 no interior de Minas Gerais, no berço do arcadismo, expandiu-se e possui adeptos em todo o Brasil , como também no exterior. Há a produção de artes visuais, poesias, contos, crônicas, charges, além do desenvolvimento de projetos culturais e educacionais, que já são reconhecidos em todo território nacional. O desenvolvimento desta nova forma artística e dos projetos sociais de incentivo à leitura proporcionaram o recebimento de prêmios importantes como o prêmio VivaLeitura em 2009. Com destaque também para o quadro de Déia Leal intitulado “O irreversível”, exposto no C.S.S Vera – Escultura, em Granada na Espanha, hoje a tela faz parte do acervo permanente do Museu Internacional de Artes Plásticas, em Durango, México.
O Jornal Aldrava Cultural possui uma versão online também. Nele encontramos muita Arte, poesia e tudo sobre o Aldravismo. Para acessá-lo, clique no link abaixo e boa leitura!
Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras , com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa.










[1] DONADON-LEAL, J. B. O que é Aldravismo. Disponível em: http://www.jornalaldrava.com.br/pag_quem_somos.htm. Acesso em 29. abr. 2011
[2] Idem. ibidem
[3] DONADON-LEAL, J. B.Aldravia – nova forma, nova poesia. Disponível em: http://www.jornalaldrava.com.br/pag_aldravias.htm. Acesso em 29.abr.2011
[4] BICALHO, Gabriel. do sexo. In:BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.17.
[5] DONADON-LEAL, J. B. “Iluminura”. In: BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.76.
[6] LEAL, AndreiaDonadon. “dança de estrelas”. In: BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.87.
[7] FERREIRA, J.S. Meu São Gonçalo do Rio Abaixo. In: BICALHO, Gabriel et all. Ventre de Minas – poesia. Mariana: Aldrava Letras e Arte, 2009, p.120.
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Perdas e ganhos em SHORTBUS


Nesse pequeno texto gostaria de registrar alguns pontos que vem tomando meu tempo nos últimos tempos, vou falar sobre o corpo e suas relação intrínseca com a cidade, tema que venho que colocando tanto no horizonte das práticas políticas como na esfera da reflexão teórico-crítica.


Além de serem apresentados em inúmeros debates, encontros, conversas, leituras, atividades e lutas, dos quais pude participar – ou presenciá-los apenas –, tais pontos são reflexões mediadas pela minha própria experiência pessoal como homem contemporâneo que tem atravessado algumas fronteiras sociais e simbólicas, entre a vivência cotidiana em nossa sociedade machista e sexista e minha formação acadêmica em Artes.

O corpo central da experiência, que dá margem à costura dos pontos apresentados a seguir, define-se basicamente pela pesquisa desempenhada no Estágio de Pós-Doutoramento em Literatura e Crítica Literária da PUC de São Paulo onde pude desenvolver o projeto “Cartografias do desejo e novas sexualidades: aspectos da cena contemporânea dos anos 90 e depois”. Nesse Projeto, devo destacar, além das leituras de textos de dramaturgos não publicados brasileiros e estrangeiros, também, o envolvimento em uma rede de debates e ações em torno da questão das masculinidades em outros tipos de narrativas. Aqui nos debruçaremos sobre o filme Shortbus.

Shortbus, filme dirigido por John Cameron Mitchell (1963), autor do lendário Hedwig and the Angry Inch, que no Brasil foi traduzido por Hedwig – Rock, Amor e Traição ou Hedwig e o Centímetro Enfurecido em sua versão teatral (dirigida por Evandro Mesquita com Paulinho Vilhena e Pierre Baitelli dividindo o papel da transexual que dá título ao filme), já se tornou cult entre os apreciadores de cinema e cinéfilos queer. Após o sucesso do musical sobre o transexualismo, Mitchell voltou a abordar a questão da sexualidade em Shortbus, filme produzido em 2006.


Embora apresentado como uma comédia, Shortbus vai além disso. Desde a primeira seqüência o espectador sente o que o espera e pressente o que será o filme. Da dominatrix praticando explicitamente uma – desconfortável - posição de kamasutra, até a imagem perturbadora de um homem que pratica yoga e se masturba ao mesmo tempo ejaculando em sua própria boca, o filme choca. Seus muitos personagens , um casal gay que procura reativar sua relação aparentemente perfeita – os “Jamies”, uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo, mas ajuda os outros, seus clientes, a conseguirem, o seu marido, a tal dominatrix (lésbica), um voyeur, travestis, transexuais, mulheres e bichas, homens e ex-gays, ex-homens e futuros gays novaiorquinos, todos se encontram em um clube, o Shortbus, para orgias felizes e despreocupadas, trepadas espetaculares e irrestritas, shows e boa música porém, ao mesmo tempo que nos divertimos e nos excitamos com as cenas explícitas de sexo, Shortbus proporciona verdadeira dissecação do homem contemporâneo, seus frágeis vínculos humanos, o sentimento de insegurança; navalha na carne, nu e cru, íntimo e individual nos diz que o projeto da contemporaneidade ainda está sendo escrito e a pena com que se escreve a carrega de matizes fortes, grave tristeza, melancolia e amargura.

Se for correto pensarmos com Foucault, que a sociedade moderna era regulada e vigiada pelas instituições normativas, que a constituição de um sujeito se dá através de um conjunto de estratégias que fazem parte das práticas sociais produtoras de “corpos que pesam”, as verdadeiras “edificadoras da ordem”, podemos dizer que Shortbus traz à tela exemplos vivos e explícitos de pessoas que representam a tentativa de fuga dessas mesmas regulações, controles e ordens - os mal-estares da sociedade pós-moderna, resultado do excesso de normas e sua inseparável companheira – a escassez de liberdade.

À época, Foucault pensava desenvolver um estudo crítico do estabelecimento de técnicas que implicam coerção das operações do corpo, garantindo a sujeição permanente de suas forças e impondo-lhe uma relação de docilidade-utilidade - as disciplinas - que terminam por funcionar junto a procedimentos de normalização da sociedade, constituindo-se um poder cuja forma é a da dominação. Assim, do mesmo modo que a vigilância, a normalização torna-se um dos grandes instrumentos de poder a partir do final da época clássica acrescentando graus de normalidade, que são signos de pertença a um corpo social homogêneo, objeto de poder, que pode ser manipulado, modelado, treinado, que responde e obedece, tornando-se dócil e hábil à medida que suas forças se multiplicam. O século XVII descobriu, não só a dimensão metafísica do corpo, como também o conjunto de técnicas e processos empíricos que controlam suas operações, centralizando na noção de “docilidade” toda uma teoria do adestramento.

Em Vigiar e Punir e em A vontade de saber, Foucault aponta não só o modo peculiar de funcionamento das normas modernas, como também o mal-estar que causa. Dentre as técnicas, as práticas, os saberes e os discursos por ele analisados, a normalização constitui um alvo central, pois todas as sociedades têm normas de acordo com as quais socializam os indivíduos. O problema, para Foucault, é que, em nossa sociedade, as normas são especificamente perigosas, já que funcionam de modo muito sutil, como estratégias sem estrategista, impondo uma rede uniforme de normalidade.


O corpo aparece, então, como provido de condições de funcionamento próprias a um organismo, que fazem com que o poder disciplinar se dirija a uma individualidade analítica, celular, natural e orgânica, a partir dos corpos que controla atribuindo-lhe valor e utilidade. As leis funcionariam, assim, como normas devido a suas funções reguladoras capazes de criarem, classificarem e controlarem sistematicamente as anormalidades.

Se como afirmou Bauman ao citar Freud na introdução de seu “O mal estar da pós-modernidade, “o homem civilizado trocou um quinhão das suas possibilidades de felicidade por um quinhão de segurança” (BAUMAN, p. 8), queremos demonstrar como os personagens de Shortbus reagem ao inverterem essa lógica de segurança e optarem por um pouco mais de liberdade, afinal, “se você ganha alguma coisa e, em troca, perde alguma outra coisa” (BAUMAN, p. 10), o que ganham e perdem os personagens de Shortbus, frágeis indivíduos, que carregam sobre suas costas os desejos, as sexualidades ou os prazeres ex-cêntricos?
O que acham, leitores?




Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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AO DIA DA DANÇA - 29/04



CANÇÃO: A Dança Das Estações
Nenê Altro e Fausto Oi
FOTOS: ao dia da dança, performance urbana
centro de Salvador - 19/03/2011
Duda Woyda


Vem sem medo a meus braços, meu amor.
Que a tristeza não vai mais espreitar pelos cantos
e apertar assim o peito.
Fica assim, aqui perto,
que o teu cheiro me faz seguro,
teu calor me protege e teu corpo me cura o vazio.


Pra que brincar de ter razão?
É besteira não querer errar
e é tolice demais curtir a dor.
Deixa pra lá tudo isso
e vem dançar a dança das estações.


Ah, tenta não ligar pra essa gente
chata e sem graça.
São tolos demais
esses mortos cegos e adultos.


Gosto de te ver rindo
e da riqueza das coisas simples
que guardo qual tesouros.
E a beleza está em não ter pressa.
Que corremos demais, meu amor,
e é hora de parar, deitar na grama,
falar só besteira e rir da vida.


Ah, deixa isso pra lá
que esse mundo é todo errado.
Fica perto então
que tanta solidão já feriu demais.




DUDA WOYDA, ator, com experiências no Paraná e Rio de Janeiro, cidade com a qual mantem contatos profissionais. Integra a CIA Ateliê Voador e a CIA Teatro da Queda. Pesquisa questões relacionadas ao teatro físico e a sua relação entre dramaturgia corporal e teatralidade, priorizando a multidisciplinaridade. dudawoyda@yahoo.com.br
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Do Cinza ao Dark: 1955 à 1961 - O segundo surto de industrialização em SP






Este período podemos chamar de "boom" da indústria automobilística o que marca o Brasil como uma país que deixará por muito tempo a opção ferroviária como meio de locomoção prioritário. Além disso 1955 é marco para outras descobertas: O início do cinema novo com Rio 40 graus, direção de Nelson Pereira Santos, início da transmissão de Céu é o limite, programa de maior público na época, a realização da 3 bienal, lançamento do carro Romi-Isetta fabricado pela extinta Vemag, Brasil bate o número de 700 fábricas de autopeças, produção de 2 milhões de barris de petróleo, vôos regulares para Nova York pela extinta Varig. No mundo os EUA utiliza pela primeira vez um gerador de energia atômica e é assinado o Pacto de Varsóvia.
É possível perceber que a partir deste ano o Brasil passa a ter contato com um novo tipo de política e passa a ter acesso a novos produtos. Podemos afirmar que no que se refere ao progesso industrial é possível enxergar uma divisão entre antes de depois de 1955. Basta compararmos o setor de eletrodomésticos, por exemplo, enquanto os aparelhos de rádio dobrava neste período, os de televisão quintuplicava. Em um único ano, 1955-1956, a produção de máquinas de costura obteve um aumento de 331% e a de refrigeradores na faixa de 126%. Números pequenos perto do que houve com a chama indústria de base ou pesada, em que a palavra de ordem era crescimento.
Mas não eram apenas estes setores que fervilhavam. Enquanto isso havia uma grande tensão no que diz respeito ao momento político no país. Aliás vale ressaltar que o período de 1955-1961 começa e termina em meio a grandes turbulências políticas. Para se ter uma idéia em 1955 o Brasil deu posse a 3 Presidentes da República: Café Filho, Carlos Luz e Nereu Santos. Ano tumultuado ainda mais quando no mês de novembro houve uma tentativa de impedir a posse do nome que colocará a indústria automobilística como força motriz da economia brasileira: Juscelino Kubitschek Oliveira.
Na contramão da crise, JK se colocava para o país como o ícone de otimismo e confiança no futuro. E não podemos esquecer do famoso plano de metas que faria o Brasil acelerar devidamente motorizado 50 anos em 5. Em 31 de janeiro de 1956 JK toma posse e se inicia uma nova conduta política. Palavra de ordem era o desenvolvimentismo e o desafio era conciliar empresários,políticos, militares e assalariados urbanos para esta empreitada. O programa de JK se desdobrava em 30 metas, separadas em 5 setores: energia(43,4% investimentos), transportes (29,6%), alimentos (3,2%), industrias de base (20,4%) e educação (4,3%). Fora estas estatísticas estava o projeto mais ousado que apesar de não ter sido finalizado no prazo se tornou o marco do plano de metas: a construção de Brasília. Ousado ao vermos que o Brasil amargava uma renda per capita de US$ 205, além dos altos índices de mortalidade infantil e analfabetismo.
"Industrializar um país não é obra de mágica, que possa ser feita sem preparo ou sopros de inspiração" diria JK após sua posse. Ora, se não seria mágica JK teria que provar que meios iria utilizar para conseguir seu objetivo. O adjetivo "novo" parecia estar ecoando em todas as esquinas, assim como o filme rio 40 graus que marcaria exatamente o cinema novo, o manifesto concretista, no teatro a renovação por meio de grupos como o grupo Oficina. É possível perceber um momento de passagem que gerou esperanças e pitadas e euforia.
Mas desde a fabricação do primeiro Romi-Isetta em 1955 até a fabricação do Simca-Chambord em 1960 muitos kms precisaram ser percorridos. Para começar a fundição do primeiro motor diesel para caminhões Mercedes-Benz, produzido em escala industrial pela Sofunge, no final de 1955 quebrou com a persistente idéia de que era impossível produzir motores no hemisfério Sul. O presidente da Sofunge, Eduardo Simonsen: "A fabricação de motores abrirá nova era na indústria nacional e, em breve, em lugar da exportação de minério de ferro a talvez, Cr$ 0,60 0 quilo, estaremos exportando motores a razão de, aproximadamente, Cr$ 300,00 o quilo". Para realização disto JK não trabalhou sozinho, entre os diversos grupos de trabalho o mais importante destacar aqui foi o GEIA, grupo fundado para cuidar especificamente da indústria automobilística. Em 8 anos de existência o GEIA obteve um investimento total de US$ 356 milhões, aprovou 400 projetos para criação ou implantação de fábricas de autopeças e veiculos. Na década de 60 doze empresas brasileiras já produziam veículos automotores. As indústrias de autopeças em 1941 eram apenas 5, em 1962 1.650, das quais 1.470 estavam na grande SP.
São Paulo era o foco deste grande "boom" da indústria automobilística. Fiat, Ford, Vemag, Volkswagen e Mercedes Benz estavam no Ipiranga, Bom Retiro ou próxima a via Anchieta. A vemag por exemplo se encontrava ao lado da estação ferroviária que era conhecida como parada Vemag, hoje atual Tamanduateí. Para a ferrovia pouco se fez a não ser alimentar o que seria o grande inimigo para o investimento em transportes coletivos.
" O brasil acordou" disse JK. Assim como apareceu em uma revista americana business week: " São Paulo, a capital industrial do Brasil, está se convertendo, rapidamente, na Detroit da América Latina". Mas não podemos esquecer que todo este ritmo frenético foi subsidiado por recursos de capitais estrangeiros. Houve até o interesse do Bank de Washington investir US$ 125 milhões ao se interessar nas metas brasileiras de renovar o equipamento ferroviário e o reaparelhamento e dragagem dos portos. Em 1956 éramos um dos maiores receptores de capital de risco norte americano e um dos países mais liberais, ou seja, o brasil abre suas portas.
Para instaurar no povo brasileiro este entusiasmo todo o papel da mídia foi importante. Na década de 60 Roberto Carlos fazia sucesso a 300km por hora nas curvas da estrada de Santos. Não era mais o trem que o levaria até lá, no Brasil, que viveu no governo JK um significativo processo de substituição de importações de bens de consumo durável, a instalação da indústria automotiva significou a afirmação da identidade do país como moderno, por isso a ferrovia nesta fase era obsoleta, retrógada.

Roberto Carlos 120,150, 200 km


O automóvel transformou-se no meio de transporte diário de uma expressiva parcela da classe média, mas os centros urbanos não se desadensaram e os transportes coletivos não foram alvo de investimentos significativos. Já o slogan do candidato Juscelino, 50 anos em 5, afirmava ser necessário acelerar a história, colocá-la em uma autovia e trazer o futuro para o presente.
A internacinalização da economia proporciona à São Paulo 35% de suas indústrias ampliadas, a formação do CNPq e a comissão de energia nuclear. os novos materiais de vida inauguram uma nova sensibilidade nos programas de televisão. para dar impulso a idéia de modernidade do automóvel uma das séries mais vistas no Brasil, o vigilante rodoviário, é uma das séries que incita o espectador a ver o automóvel como moderno:


vigilante rodoviário - abertura.

A estrada e o automóvel brasileiros, repetindo o seriado americano Route 66, patrocinado pela GM, também seriam personagens de um dos primeiros seriados brasileiros para a TV, o Vigilante Rodoviário que, ao lado de seu fiel cão Lobo, fazia merchandising da Simca.
Aero Willys e o Simca Chambord, inspirados no“rabo-de-peixe”. A Willys Oveland, a Vemag, a
Simca e a FNM, seguindo a tendência internacional de apresentar protótipos futuristas e velozes,passaram a produzir carros fora de série para serem expostos no Salão do Automóvel.

Em poucas palavras, Paulinho da Viola expressou criticamente toda a sensibilidade deste projeto de modernidade: o olhar sempre para frente, o viver rapidamente, a fragmentação das relações,a rápida circulação do capital, a lógica da circulação individual em detrimento ao coletivo:

Sinal Fechado:

Olá, como vai?
Eu vou indo e você tudo bem?
Tudo bem eu vou indo
Correndo pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem eu vou indo em busca de um sono
tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo, pois é quanto tempo...
Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios
Oh, não tem de que, eu também só ando a cem
Quando é que você telefona, precisamos nos ver por aí
Pra semana prometo talvez nos vejamos, quem sabe?
Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na
poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer mas me foge à lembrança
Por favor telefona eu preciso beber alguma coisa
rapidamente
Pra semana, o sinal, eu procuro você, vai abrir, vai
abrir, prometo não esqueço, por favor não esqueça,
não esqueça, adeus...

Paulinho da Viola.








Marina Rosmaninho é formada em Ciências Sociais no Centro Universitário Fundação Santo André(2008). É socióloga, amante da linguagem audiovisual, documentários, ferrovias, indústrias e escombros e procura juntar todas suas paixões para analisar a sociedade. Convida a embarcar neste trem sem descarilhar!

















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PAIXÃO FULMINANTE




A Telefonica e eu temos uma velha história de amor. Fomos apresentados há cinco anos, quando retornei ao Brasil. Antes dela, eu era casado com uma companhia americana totalmente eficiente, mantínhamos uma conexão de banda larga de altíssima velocidade e nunca houve nenhuma discussão entre nós.
No caso da nossa querida Telefonica, foi amor à primeira vista. Abracei o plano business do Speedy que me dava segurança de total fidelidade e companheirismo. Não demorou muito para eu perceber que fora enganado. A provedora de internet é bipolar: em um momento funciona, é dócil e fiel, de repente fica nervoso, briga comigo e para de funcionar, desaparecendo sem aviso e deixando meu telefone mudo por dias.
Como é muito vaidosa, ele nunca me procura de volta. Eu tenho que ter a humildade de ligar e pedir para reatarmos. Em represália, ela não atende minhas ligações, deixa-me incontáveis minutos aguardando e depois desliga na minha cara. Passado algum tempo, ela se acalma e marca um encontro em no máximo 48 horas. Muitas vezes demora uma semana para aparecer.
No Carnaval, por exemplo, fiquei sem telefone e internet por três dias. Disse que fora hospitalizado por causa de uma chuva forte que caiu na estrada. Que bateram em um poste comfios danificados que ficou caído sem socorro. Que suas madeixas se enrolaram aos fios elétricos. Sei que é mentira, rumores dizem que no carnaval muitos funcionários estavam aproveitando o trio elétrico em Salvador, fantasiados de Batman, com capacete e cinto mil utilidades.
Depois o telefone voltou descaradamente, ficou na minha casa por dois dias e sumiu novamente sem deixar vestígios. Faz quatro dias que não tenho notícias. Deixei recado, mandei mensagem pelo site, recado pela Anatel e pelo amigo Procon. Quanto mais eu a procuro, mais ela tarda a voltar para mim. Isso não é mais amor, virou uma doentia necessidade minha. Uma obsessão.
No começo, os amigos me avisaram que essa relação seria tumultuada. Impressionados com minha paixão inicial, contaram casos e mais casos. Mas eu não queria enxergar. Dizia que agora seria diferente, ela estava mais madura e havia aprendido com seus erros. E assim eu a presenteava todos os meses com flores verdes chamadas Cifrão, suas favoritas.
Hoje já me conformei com ela não ser nada do que aparenta ser. Ela faz propaganda dizendo que é confiável. Pois sim! Não passa de uma mercenária. Investe em relações que lhe dêem lucro e esquece rapidamente dos relacionamentos com pessoas comuns como eu. Ambiciosa, só quer se encontrar com pessoas importantes e empresários que movimentam grandes quantias de capital.
Assim sendo, tomei uma decisão. Preciso de um novo amor. Não aguento mais ser corno. Procurei uma telefonia móvel que oferece um pacote com 3G, telefone fixo e celular. Eu sempre quis ter uma família grande. O custo é alto, mas pelo menos não vou mais sofrer. Sou homem de uma companheira só e me dói muito ter que trocá-la.
A bem da verdade, eu não a deixei. Ela fez de tudo para que eu a deixasse. É inegável que não tenho valor para ela. Se todos que ela maltrata e faz sofrer tivessem essa atitude, ela aprenderia com a solidão – e falta de flores – que atualmente só perduram as relações éticas, baseadas no respeito e cumplicidade. É a lei da selva. A lei da concorrência. Vencem os melhores, os mais fortes e os mais rápidos. Ela vive no passado, vendo no espelho um rosto que não mais existe, recordando uma fase em que ela tinha poder de sedução inquestionável.
Os tempos mudaram. O mundo se globalizou. E ela se estagnou. Agora, ou ela se moderniza, ou acabará sozinha. Eu já fiz minha escolha. Não vale a pena insistir em um relacionamento falido como esse. Adeus, minha querida. Que os bons ventos a levem para bem longe de mim.


Simone Alves Pedersen nasceu em São Caetano do Sul, viveu anos no exterior e hoje mora em Vinhedo, SP. Formada em Direito, participa há três anos de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior. Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. Escreve para jornal, revista e diversos blogs literários. Mãe do Dennis e da Natalie, escreveu seu primeiro livro infantil em 2008, o “Vila felina” e não parou mais. Autora dos infantis Conde Van Pirado, Vila Encantada, Sara e os óculos mágicos, Coleção Pápum e Coleção Fuá. No Prelo encontram-se “A vila dos ecomonstros”, “A galinha que botava batatas” e “Cartilha sobre o meio-ambiente”. Para adultos lançou “Fragmentos & Estilhaços” e “Colcha de Retalhos” com poemas, crônicas e contos: http://www.simonealvespedersen.blogspot.com



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COELHINHO DA PÁSCOA, O QUE TRAZES PRA MIM?



MOMENTO REFLEXIVO DE EUNICE, RAQUEL, TOBI E SEUS AMIGUINHOS.

Hoje a coluna uni.verso vai abrir uma exceção, um espaço muito especial pós-páscoa, chocolates e momentos de reflexão, para uma prosa da querida e admirável amiga e escritora Eunice Garcia.

Membro do Espaço Literário “Nelly Rocha Galassi” (Americana/SP), começou a escrever para crianças em 2001.

Autora de “As aventuras de Briny e Spify no planeta Terra” (Editora Adonis - Americana/SP), participou ainda das Antologias “Via Palavra 9”, “Via Palavra 10” (Editora EME) e da Antologia Internacional “Haiti – aqui estamos” pela Real Academia de Letras do Rio Grande do Sul.

Pessoa extremamente delicada e sensível, em cada uma das linhas, e também nas entrelinhas, Eunice mostra o perfeito domínio das letras, das palavras, tanto na técnica como na forma e no conteúdo. Um estilo inconfundível, único, inspirador; um grande exemplo da boa literatura. Este seu conto, além da forte mensagem, vem recheado de sentimentos, momentos inesquecíveis e de muita poesia. Delicie-se.

UM CONTO DE PÁSCOA

Quando dei por mim, estava sentado em uma mesa, entre caixas de bombons, ovos de páscoa e embrulhos coloridos. O perfume que havia naqueles pacotes de puro chocolate, me deixavam com água na boca. Mesmo sendo um coelhinho de pelúcia, eu tenho muitos sentidos: até posso pensar!
Naquela noite, a casa encheu-se de gente. E num determinado momento, uma garotinha linda, linda como um anjo, me tomou nos braços.
_ O meu coelhinho de pelúcia – ela disse, toda feliz – o meu presente de Páscoa!
Todos me admiraram e eu passei de colo em colo, até voltar aos braços de Raquel. Pois este era o nome da minha dona.
Começou aí a época mais feliz da minha vida. Eu participava de todas as brincadeiras e até viajava com Raquel e sua família.
Certo dia, Tobi, o cachorrinho da casa, morreu. Raquel soluçou a noite toda, até encharcou a minha pelúcia. No outro dia, mais consolada, ela me disse:
_ Sr. Coelhinho, o Tobi está no céu dos cachorrinhos. E encerrou o assunto.
Ah! O tempo que os humanos contam, como passa de pressa.
Raquel se transformou numa linda mocinha e eu fui colocado numa prateleira em seu quarto. A minha pelúcia estava bem desbotada e as minhas orelhas não mais se erguiam, por mais que eu tentasse
Mas, não pensem que tudo era tristeza, não. À noite eu saia pela casa acompanhado do meu melhor amigo e colega de prateleira: um soldadinho de chumbo.
O meu amigo sabia contar muitas histórias e eu não me cansava de ouvi-las.
Nossas brincadeiras só terminavam com os primeiros raios de sol. E não voltávamos à prateleira.
Certo dia, a mãe de Raquel entrou no quarto com um decorador.
_ Este quarto está muito infantil; quero uma decoração própria para uma mocinha – ela disse.
Em seguida, começaram a fazer uma lista do que sairia e o que ficaria. O meu amigo e eu ficamos muito apreensivos; tínhamos certeza de que não permaneceríamos ali.
Fomos para a sala naquela noite e ficamos sentados no tapete, sem vontade de brincar.
A partir daí, tudo aconteceu rapidamente. Fomos colocados dentro de caixas com muitos outros objetos e hoje moramos no sótão da casa.
À noite, sentamos na pequena janela do sótão e olhamos as estrelas que cintilam lindamente. A lua, quando está cheia, nos dá a impressão de que podemos tocá-la. E quando uma estrela cadente risca o céu aproveitamos para fazer um pedido.
O que pedimos? Ah! Sim. Eu peço para ir para o céu dos coelhinhos de pelúcia, quando tudo terminar, e o meu amigo para o céu dos soldadinhos de chumbo.


Para não dizer que não falei também do lado poeta de Eunice Garcia, a seguir, uma das suas belas incursões pelo uni.verso do poema.


SE EU PUDESSE
Em memória de Adão P. Garcia,
cuja alma repousa nas águas pantaneiras.

Ah! Se eu pudesse
Fragmentar a saudade
E diluir no tempo
Esta tristeza imensa.
Se eu pudesse operar milagres
Trilhar o teu caminho
Como se fosse meu
Doar o meu caminho
Para que seja teu.
Se eu pudesse emprestar meus olhos
Para a tua mirada
Silenciar meus lábios
No silêncio teu
No espaço capturar
A dimensão que habitas
E nesta, onde existo,
Para sempre entrelaçar...
Ah! Se eu pudesse entender
O porquê das ausências
O porquê das partidas
E este percurso estranho
Que é a vida.

Abraços literários e até +.


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Dicas Drops

A coluna Drops Cultural traz mais algumas dicas de eventos culturais. Confira!

Entre os dias 29 de abril e 8 de maio, acontece o  Salão do Livro da cidade de Guarulhos. O evento que contará com a presença de autores como:  Zuenir Ventura escritor e jornalista – e  Thalita Rebouças, jornalista e escritora de livros juvenis, terá em sua abertura o show do cantor e compositor Chico César.
Durante os dez dias de evento a programação estará dividida entre apresentações culturais, palestras e sessões de autógrafos.
Local: Avenida Odair Santanelli, Cecap – Guarulhos.
Mais informações: http://salaodolivro.guarulhos.sp.gov.br/?page_id=6



Ainda falando sobre livros...


O lançamento do livro “Torne suas aulas de Português um momento agradável”, de autoria de Sérgio Simka. O livro que é composto por cinco partes que podem ser lidas de forma independente, apresenta sugestões e reflexões com o objetivo de tornar a aula de Português um momento mais agradável, começando por uma relação mais humana entre professor e aluno.
Mais informações através do site da editora: www.wakeditora.com.br


E para os que pensam que a Virada Cultural já terminou...





Acontece entre 14 e 15 de maio a 5ª edição da Virada Cultural Paulista. O evento ocorre em 23 cidades do interior, do litoral e da Grande São Paulo. Com 24h ininterruptas de programação artística, o projeto, realizado pelo Governo do Estado de São Paulo e Prefeituras Municipais, em parceria com o Sesc SP, tem início às 18h do dia 14 e segue até as 18h do dia 15 de maio.
Mais informações: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/busca.cfm?page=2&buscar_curso=0&palavra=&unidade_id=0&ATIVIDADE_ID=0&mostra_evento=79&data2=0







Ana Paula Nunes é jornalista e pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo - USP. Escreve aos domingos, quinzenalmente, na ContemporARTES.
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