Notas Sobre a Cultura Soviético.
Vinte anos após o fim da URSS, o capitalismo enfrenta sua maior crise desde 1929. Com fim da URSS, houve o fim de uma cultura própria, a cultura soviética.
Afinal de contas o que foi a cultura soviética? Ela existiu?
Sim, existiu uma cultura soviética! Ela foi construída desde antes da revolução à partir da interpretação dos textos de Marx e Lênin. Nos primórdios do governo soviético, os bolcheviques tiveram uma grande preocupação em trabalhar a questão cultural a partir de novos paradigmas de organização cultural, compreendendo a cultura como comportamento e não como conhecimento acumulado, nem como simples manifestação artística. Esta visão antropológica de cultura era muito avançada para o período no qual ela foi concebida. Infelizmente a historiografia ocidental não se debruçou sobre autores como Anatoly Lunacharsky que compreendiam o comportamento humano através da analise cultural.
Dentre as organizações culturais criadas e consolidadas pelos bolcheviques destacamos o Proletkult, acrônimo russo para “Cultura Proletária”. Participaram desta organização diversos artistas e teóricos cujo prestígio ultrapassava as fronteiras soviéticas: Maiakovski, Eisenstein, Viértov,Bogdanov, Lunacharsky, Krupskaia entre outros. Sem dúvida, o papel que Lunacharsky tinha nesse período era muito importante, coube a ele organizar as bases teóricas que a Cultura Soviética foi organizada.
Foto: Anatoly Lunacharsky
Como ressaltamos acima, a maior preocupação dos bolcheviques ao tomar o poder foi a criação de uma atmosfera social que desse condições para o florecismento de uma cultura soviética, livre das influências burguesas e de acordo com os preceitos marxistas-leninistas. Isso foi explicito em diversas obras, de caráter público, sobre como a cultura deveria ser organizada pós-revolução e de como esta organização iria impactar o cotidiano da população, na tentativa de transformar culturalmente a população dos países que formaram a URSS, em especial a Rússia.
Na tentativa de criação de uma nova cultura, majoritariamente influenciada pelos valores de combate ao capitalismo e rejeição a moralismos burgueses, eclesiásticos e capitalistas, houve diversas formulações teóricas acerca do papel das instituições culturais soviéticas neste processo. Com isso, o debate vanguardista sobre a funcionalidade da educação e das artes ganhou destaque entre os acadêmicos partidários da revolução, cuja compreensão sobre a durabilidade da mesma estava diretamente relacionada com a irradiação e assimilação de novos valores culturais que não coadunavam com as antigas tradições e costumes.
Assim, as artes em geral foram direcionadas para este combate no plano do comportamento. Alguns autores afirmam que este processo de direcionamento artístico foi o alicerce para a rigidez da produção cultural a partir da década de 1930 até p começo da década de 1950. Não acredito nesta hipótese, neste momento qualquer governo usaria todos instrumentos necessários para a manutenção do status quo, e os soviéticos não poderiam agir de forma diferente. Esta teoria não pode ser aceita, uma vez que os agentes culturais mais atuantes durante a década de 1920 foram reprimidos duramente quando o realismo socialista hegemonizou a produção cultural soviética.
Vale dizer que, os soviéticos tiveram sucesso na transformação cultural que os lideres bolcheviques almejavam para o país. Realmente existiu uma Cultura soviética. Ela pode ser apreciada, na atualidade, através das fontes históricas que foram preservadas. A URSS, só durou tanto tempo porque os valores da população do maior Estado do mundo, na época, foram radicalmente alterados. Para isso, todo um aparato de fomento a cultura foi desenvolvido pelo Estado Soviético.
Continua...
Diogo Carvalho é historiador pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Cultura e Sociedade pela mesma instituição. diogocarvalho_71@hotmail.com