Drops Cultural - Exposições, cursos e lançamentos

       

A Contemporartes começou 2012 animada, com muitas postagens e novidades para vocês, leitores. A Drops Cultural volta também "no pique", trazendo dicas de exposições, cursos e eventos. E não se esqueça, qualquer sugestão para nossa coluna pode ser enviada para o e-mail contemporartes @ gmail.com.br 



Quem estiver na região do ABC paulista pode conferir até o dia 04 de março, próximo domingo, a exposição “Angela Camata: entre outros meios”. A mostra está no Espaço de Convivência Gambalaia, na Rua das Monções, n° 1018, na Vila Guiomar, em Santo André (SP), e pode ser visitada de terça à sexta-feira, de 14h às 17h, e aos sábados e domingos das 19h às 21h. A curadoria da exposição é do colaborador da ContemporARTES Douglas Negrisolli, e o catálogo online está disponível aqui


De 06 a 08 de março, em Campinas, será realizado o I Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura – EDICC1. A organização do evento é do Programa de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural  (MDCC) do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. 
Podem participar estudantes, professores, pesquisadores e outros profissionais interessados nos estudos das relações entre Ciência e Cultura. O prazo para envio de trabalhos já se encerrou, mas as inscrições para ouvintes – que são gratuitas e dão direito a certificado - podem ser feitas até o dia 05 de março. Mais informações sobre a programação no site ou pelo e-mail edicc01@ gmail.com. 


Para os interessados em edição de livros, a Escola do Escritor promove no próximo sábado, dia 03, o curso “O Livro na era Digital: edição e suporte”, ministrado pelo coordenador geral do Cadastro Nacional do Livro Ednei Procópio. O conteúdo vai abordar as mudanças no processo de edição advindas dos avanços tecnológicos, aspectos técnicos e mercadológicos do setor, entre outros pontos. 
O curso acontece na Rua Dep. Lacerda Franco, n° 165 , no bairro de Pinheiros, em São Paulo, de 09h às 13h, e o valor da inscrição é de R$ 130,00. Outras informações aqui


Os colaboradores da Contemporartes estão com tudo. A Fundação Dorina Nowill, que trabalha a inclusão social de crianças e adultos com deficiência visual, juntamente com a Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto Juvenil – AEILIJ, lançou o primeiro livro em braile e com letras ampliadas da nossa colunista Simone Pedersen.
Os livros serão distribuídos gratuitamente para mais de 5.000 bibliotecas em todo o país.  Segundo a autora, o ilustrador Paulo Branco criou imagens “de acordo com as necessidades de crianças com baixa visão ou cegueira, com poucos detalhes e cores fortes, comprovando mais uma vez seu talento e versatilidade”.  Além da distribuição para bibliotecas, o livro pode ser adquirido diretamente na loja virtual da Fundação.

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Mônica Bento é jornalista, formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Em seu trabalho de conclusão de curso estudou a função social das salas de cinema e desenvolveu a reportagem multimídia CineMemória. Pertence a equipe de Comunicação da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural. 



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O Carnaval da Diversidade.




Salvador, realiza um dos melhores carnavais do mundo. A festa é reconhecida internacionalmente como uma das expressões populares de maior dimensão, seja na participação popular, ou na geração de dividendos para o Estado e emprego à população. Este ano, o carnaval da Bahia esteve ameaçado.


Na semana anterior ao carnaval, os policiais militares da Bahia entraram em greve. Alguns dos policiais grevistas cometeram diversos crimes pela cidade, às vésperas do carnaval, a Bahia viveu uma crise na segurança pública e o número de ocorrências aumentou consideravelmente.

As conseqüências da paralisação policial à festa foram enormes. Muitos turistas cancelaram seus pacotes turísticos comprados com bastante antecedência, isso resultou num fluxo menor de visitantes quando comparamos com outros anos. Apesar destes elementos, o carnaval ocorreu em clima de paz e respeito à diversidade. Este ano o carnaval se reoxigenou, graças ao investimento do Estado e do patrocínio de algumas entidades privadas, diversos artistas carnavalescos saíram com seus trios sem corda ofertando à população várias atrações. O folião pipoca , teve a oportunidade de ver estes artistas sem ser molestado pelo esquema de segurança montado pelos Blocos.





Além destas iniciativas de cunho privado, onde o patrocínio de algumas empresas possibilitou o desfile de trios sem cordas, a Secretaria de Cultura do Estado, financiou diversas atrações com o mesmo viés popular. Os blocos afros foram algumas das entidades que receberam apoio financeiro da SECULT, através de um programa especifico denominado Ouro Negro. A SECULT também apoiou os trios independentes através do seu programa de apoio denominado Carnaval Pipoca.

Outra iniciativa voltada para democratização do carnaval e promoção da diversidade de gêneros musicais se deu através da organização do Carnaval da Diversidade, no Pelourinho, onde artistas históricos como Armandinho, fizeram grandes espetáculos gratuitos para o público. Assim, através de ações com este perfil, democrático e popular, a Secretária de Cultura do Estado da Bahia, em conjunto com o Centro de Culturas Populares e Identitárias, está reconfigurando o carnaval baiano que, chegou ao limiar do esgotamento de um modelo elitista que privilegia os camarotes e os blocos com cordão de isolamento. A população da cidade está se mobilizando contra isso. Este ano um camarote ocupou, ilegalmente, uma área pública da cidade e armou sua estrutura neste local causando depredação do patrimônio público. Nas redes sociais houve uma série de debates que culminaram em manifestações contra a instalação do Camarote, ou seja, a população não tolera mais a privatização dos espaços públicos no carnaval que deve ser uma festa popular, gratuita e repleta de diversidade.



Diogo Carvalho é Historiador e Mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia.

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Performance e Humor Subversivo

           

Raid das Moças e a Cultura da depressão: performance e humor subversivo ou quando Foucault visita as chanchadas da Atlântida



      Durante a ditadura militar no Brasil, a resistência artística não se deu exclusivamente através do engajamento de esquerda. Houve uma tendência cultural, detectada por Renato Ortiz (Ortiz, 1988) no ensaio “O popular e o nacional / Do popular nacional ao internacional popular”, que o autor nomeia de “Cultura de Depressão”. Diz o autor que:

Cultura de Depressão com variações no irracionalismo, no misticismo, no escapismo, e sob o signo da ameaça, eis os traços essenciais que acompanham alguns setores da produção cultural brasileira a partir de 1969. (...) Declara-se espúria ou careta a esfera do político e, através de um argumento equivocado do perigo da recuperação via indústria cultural ou pelo establishment, faz-se a profissão de fé do silêncio teórico, isto é, a recusa apologética do discurso conceptualizado sobre a produção artística, sobretudo a musical. Isto tudo mesclado a um culto modernoso do nonsense, a um repúdio à pontilhação racional do discurso. Portanto, ênfase no sujeito “alienado”, que busca na droga, no misticismo ou na psicanálise, a forma de expressar sua individualidade; desarticulação do discurso, reificação da linguagem, o que equivaleria a uma desvalorização do conhecimento racional; recusa em se encarar o elemento político (Ortiz,1988:158).

      O presente trabalho apresentará um fenômeno cênico que, advindo da contracultura dos anos setenta viria a ser, na década de noventa e depois, alvo de fervorosas discussões e responsável por uma renovação da platéia brasileira. Híbrido por natureza e essência, o Raid das Moças em sua proposta estética apresenta em cena o pastiche, o nonsense costurado por canções consideradas brega e/ou cafona da música popular brasileira destinada às consideradas camadas populares. Com uma sonoridade que apresenta síntese da música eletrônica com baladas de cunho romântico cujos conteúdos refletem desilusões amorosas e a chamada “dor de cotovelo” alicerçada por interpretações exageradas e melodramáticas, coreografias retiradas de filmes das sessões da tarde e de dançarinas de programas de auditório, respaldada por um figurino que passeia pelo kitsch, pelos cabarés e boites gays; o grupo se debruça neste espetáculo a mapear a partir de uma linha de tempo histórico com inicio na década de sessenta até a atualidade a re/apresentar cada bloco como pequenos esquetes que não privilegia apenas o lado musical, mas traz ainda um forte apelo de teatralidade e humor que resulta num espetáculo cênico lúdico e interativo.
      Teatro Besteirol designa montagens de humor não muito exigentes que buscam antes de tudo cumplicidade com a platéia por debochar de temas cotidianos, contando com atores que não hesitam em assumir a paródia até o mais infame cabotinismo. Se a isso se incorporar temas escatológicos e uma estética voluntariamente de mal gosto e mal-acabada, estamos no caminho certo para esse começo de conversa.
      Linda Hutcheon, em Uma teoria da paródia (Hutcheon, 1986)assim define a paródia: ‘A paródia é pois, repetição, mas repetição que inclui diferença; é imitação com distância crítica, cuja ironia pode beneficiar e prejudicar ao mesmo tempo’ (Hutcheon, 1986:54). Versões irônicas de transcontextualização e inversão são os seus principais operadores formais, e o âmbito de ethos pragmático vai do ridículo desdenhoso a homenagem reverencial.
     Flávio Marinho comenta que o espectador para usufruir do humor do espetáculo necessita de uma certa formação cultural:

O humor do espetáculo, no entanto requer uma certa informação cultural do espectador e, especialmente, algum conhecimento (ou vivência) teatral para melhor curtí-lo. De outra forma, corre o risco de perder grande parte dos achados cômicos. Seja como for, trata-se de espetáculo altamente recomendável que, devido ao seu caráter meio marginal, talvez estivesse melhor abrigado – e com maiores chances de sucesso em sessões de meia-noite do Cândido Mendes do que no horário vespertino do Teatro dos Quatro (Marinho, 1983: Jornal ‘O Globo’).

      Essa idéia esboçada por ele – a de que o espectador da peça precisa de uma certa formação teatral para melhor usufruí-la – vem ao encontro do que Affonso Romano de Sant’Anna diz a respeito da assimilação da paródia, paráfrase e estilização:

Os conceitos de paródia, paráfrase e estilização são relativos ao leitor. Isto é: depende do receptor (...) Isto equivale a dizer, em outros termos: estilização, paráfrase e paródia (e a apropriação, que veremos proximamente) são recursos percebidos por um leitor mais informado. É preciso um repertório ou memória cultural e literária para decodificar os textos superpostos (Sant’Anna, 2006: 26).

      Citamos, à guisa de exemplo, o texto que a atriz Kátia Leal fala entre a primeira parte do primeiro bloco e a segunda:

Nesse verão nós decidimos reviver e recontar uma história de sucesso, decidimos ficar em Salvador, na Varanda do SESI tomando nossos bons drink (sic) nesse verão maravilhoso da Bahia e dividindo com vocês esses momentos nossos. E teve boatos que nós ainda estávamos na pior, se isso é tá na pior, poonrra! O que é dizer estar bem, né?” (THÜRLER, 2011: original em cópia).

      Esse texto, responsável em si, por boa parte do riso do espetáculo só faz sentido para quem conhece o famoso vídeo da travesti brasileira radicada na Itália, Luiza Marilac:



      Outro momento importante é o que a atriz Kátia Leal assume o papel da Psicopedagoga especialista em linguagem de libras e traduz a música Fico assim sem você, de Claudinho e Buchecha. Guardando algumas mudanças, inserções e releituras, o que fazemos é um processo intertextual e tropicalista coma versão que o ator Raul Franco fez para a mesma música em seu espetáculo solo "Saída de emergência”, que ficou em cartaz no teatro Vanucci, no Rio de Janeiro.


      Ainda mais radical é a cena da diversidade, em que a cantora e atriz Marilda Santanna interpreta, invocando a musa Nara Leão, uma típica Bossa Nova. Até aí, nada de muito especial se não fosse esse número uma apropriação da versão escatológica de Mc  Grizante para o clássico pop "I Will Survive" de Gloria Gaynor.


      Foi comum durante os dias de espetáculo e frente à divulgação maciça na imprensa brasileira a dúvida sobre a identidade sexual das performers Claudia Sisan, Kátia Leal e Marilda Santanna. A provocação intencional teve origem através do conceito de camp, que para nós, pode ser entendido a partir das palavras Halperin (Halperin, 2007), como uma forma de resistência cultural que repousa sobre a consciência compartilhada de estar situado dentro de um poderoso sistema de significações sociais e sexuais. O camp, segundo o autor, resiste ao poder desse sistema de dentro dele por meio da paródia, do exagero, da amplificação, da teatralização e da explicitação de códigos tácitos de conduta – códigos cuja autoridade provém de seu privilégio de nunca ser enunciado explicitamente e, por conseguinte, de sua imunidade à crítica.


      Contrastando com outras posturas, a estética camp equivale, de alguma forma, à estética gay, o aspecto camp mais marcante no espetáculo Cultura da Depressão, aliás, é importante lembrar que, muitas vezes, as representações estereotipadas com personagens afeminados e com uma estética camp, que, de acordo com Sontag (1987), pode ser caracterizada pela “predileção pelo inatural, pelo artifício e pelo exagero” (p.318) ou como “um certo tipo de esteticismo (...) uma maneira de ver o mundo como fenômeno estético” (p.327).
     O camp é arte que se propõe a si mesmo como séria, mas que exige, para sua recepção, uma atitude de valorização de seu artifício e exagero, sua incorporação nostálgica e intelectual do mau gosto. “Cultura da depressão” deve ser vista a partir das referências culturais a gêneros considerados inferiores na Arte que nos permite visualizar o tema da memória, a cultura de massa e uma postura kitsch frente aos objetos sobrecarregados mediante um discurso sentimental, só assim foi possível que o Raid das moças inserisse uma marca pessoal na experimentação autoral com modelos populares.



Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.

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Alemão e inglês

 


“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”
(Vinícius de Moraes)

“Bagdá Café” é um filme que pode começar a ser analisado em torno do número dois. Temos duas palavras em seu título, que apontam para dois macrocosmos: geografia e alimentação. Dentro da narrativa fílmica encontramos duas mulheres que podem ser interpretadas como as personagens principais. Uma gorda, uma magra. Uma branca, uma negra. Uma delas advém da Alemanha, a outra metralha palavras exaltadas em inglês. É sobre quando os dois tornam-se um (sem conotações sexuais, por favor). A temática que salta aos olhos nesse filme é a dos encontros casuais, nada premeditados, assim como quase tudo em nossas vidas.

Não se trata aqui de destino, já que o filme não aponta para transcendências desse tipo; tudo se dá no campo da solidão e do agir em separado. Temos uma turista que sofre o descaso de seu marido e acaba por deixar-se perder em uma paisagem desértica dos Estados Unidos, conhecida nossa deroad movies como “Sem destino” (1969, de Dennis Hopper). Em vez de retornar ao seu habitatnatural, ela opta por vagar em seu entorno, chegando ao Bagdad Café, coordenado pela outra mulher. 

Temos aqui a construção de um grupo de relações geográficas que acaba por envolver Europa, América e Oriente Médio, nesta ordem. Curiosamente, é neste último espaço que os personagens conseguem encontrar uma mínima sintonia e possibilidade de diálogo. Ao contrário disso, na capital do Iraque dos anos 80, contemporânea ao filme, encontramos a guerra contra o Irã e a Guerra do Golfo, além de mais recentemente a campanha norte-americana anti-Saddam Hussein.

Os pólos opostos dão-se para além da narrativa, sendo demonstrados nas opções de linguagem do diretor Percy Adlon. Em um plano presente nos quinze minutos iniciais do filme, quando Jasmin e Brenda ficam frente a frente pela primeira vez, ele divide a tela em dois espaços.

Sentada em uma poltrona, à frente de seu estabelecimento, aquela que já é natural deste ambiente desértico. Do outro lado vemos a estranha, a exótica, trajando roupas tradicionais alemãs, mala próxima e olhando para o “outro”. A alteridade cultural dá o tom ao filme. Separando ambas uma parte de arquitetura começando a enferrujar, no centro da composição. É possível interpretar a chegada de Jasmin justamente no caminho oposto ao enferrujar. Ela e sua bagagem cultural (metaforicamente lida nesse mesmo plano através de sua mala) inicialmente causam espanto aos habitués de Bagdá – e vice-versa, já que em um rápido plano, ao deparar-se com uma série de pessoas cuja cor de pele não é a sua própria, ela se imagina sendo devorada por canibais.

Mas não teriam sido ambas as partes devoradas, transformadas? Se os clientes da cafeteria são atingidos pela mania de limpeza da mulher alemã, esta também se entrega à família de Brenda, mudando sua forma de vestir e mesmo servindo de modelo para as pinturas do mais velho dos freqüentadores do espaço. Lidamos com uma recodificação cultural de ambas as partes; a “outra” servindo como modelo do “outro”, dentro do ponto de vista diagonal de cada um deles.

Podemos utilizar as palavras do personagem de Vittorio Gassman em “O jantar” (1998, de Ettore Scola), e dizer que “Bagdá Café” é um filme sobre conviver, viver em conjunto, dentro de um espaço construído para tal, ou seja, uma cafeteria/restaurante, projetado para o “comer-beber-viver”, já sob uma perspectiva de Ang Lee. Se a inconstância da qualidade do café servido em Bagdá poderia ser um problema, rapidamente transforma-se em um detalhe e aquele ambiente permeado pela imanência das refeições, uma de nossas necessidades fisiológicas, acaba dando espaço para a mágica, o inusitado, o irreal. O conviver cobre o comer-beber.


Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana”, "O cinema de Ettore Scola" e "Cinema pós-iugoslavo" (realizadas na Caixa Cultural de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, em 2011 e 2012). Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).
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Machado de Assis, um ícone na Literatura Brasileira e Mundial







Se não fosse Machado, talvez a literatura brasileira ainda estivesse se encontrando. Não desmerecendo nenhum outro escritor ou outra escritora que nosso país já teve ou acolheu antes e depois de Machado. Contudo, o autor escreveu não apenas obras que perpassam todo um panorama literário, trabalhando com temáticas universais, mas além de grande romancista e poeta, foi ainda contista, cronista e crítico literário.

Nascido na capital carioca no século XIX, Joaquim Maria Machado de Assis é, sem dúvida, um dos nomes que mais se destaca no cenário literário nacional e também mundial. Nascido em família pobre, conseguiu status através de muito sacrifício. Com mais de 200 contos, 9 romances e 5 coletâneas que reúnem suas poesias e sonetos, Machado de Assis tem entre as obras mais conhecidas: Dom Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas e diversos contos, como “A cartomante” e “Missa do Galo”.
Em sua obra é destacável um estilo próprio, com tons de ironia e “ataque” a sociedade da época. É considerado o introdutor do realismo no Brasil, através de sua obra Memórias póstumas de Brás Cubas.

Machado foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Morreu antes de completar os setenta anos, mas vivendo seus anos com muita disposição e vigor.



BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!


Trecho do conto “A cartomante”

“Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo”.




Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras (Português) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa. É idealizador e administrador do site EFFI, que divulga o cinema e conteúdos audiovisuais.


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