Versos rasgados

          

         Hoje, apresentarei a vocês, leitores, alguns poemas que escrevi. Já, de antemão, utilizo de ideias da minha amada Maria Bethânia que diz não ser cantora, mas intérprete. Modificando as palavras desta grande cantora da música brasileira, digo que não sou poeta, escrevo versos.


Pra que tentar explicar o inexplicável
Pra que entender o inintendível

Viver seria apenas um fardo
Se tudo fosse meticulosamente calculado.



Dizem que as cabras 
com suas patas
perfuram o chão

Elas pisam o pedregulho
E com as patas
perseguem a imanência divina

Todos os dias 
nos tornamos cabras
e nossas palavras
se convertem em patas
que penetram o chão
das palavras
que cada homem guarda em si.

Era ele
era eu

Sob o alvo tecido
destacava-se a pele branca
deleite, desejo, luz, som
tudo fugiu
naquele instante
em que encontrei comigo mesmo

A confusão de sentidos
defrontou a imagem de mim
silêncio
De medo abriu-se a boca carmim
E o corpo lânguido
desfez-se em milhões de sentidos.

Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.
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Pina Bausch homenageada por Wim Wenders



Wenders e Pina, simplismente amigos....

Inegável o impacto visual e sonoro que o cinema 3D proporciona aos espectadores, ainda mais quando na tela grande são exibidos filmes oriundos de espetáculos cênicos. O diretor Win Wenders, fazendo uso desta tecnologia, tornou possível ampliar o público de Philippine Bausch e de sua Companhia Tanztheater Wuppertal mostrando espetáculos como “Café Muller” e “Le Sacre du Printemps”, para um grande número de pessoas em todo mundo. 

Cena de "Café Müller"
Para os amantes da dança e também para os leigos no assunto, o filme “Pina” emociona pelo lindo trabalho de palco e pela riqueza de detalhes que leva o público a vivenciar cada movimento, cada respiração, cada expressão facial e corporal dos bailarinos. Sem dúvida, assistir ao filme é sentir-se num imenso teatro, com o privilégio de ver planos de detalhes incríveis e ainda de quebra imagens externas com bailarinos encenando sobre planos do campo e da cidade. Sobreposições de planos que lembram os quadros cubistas.

Pina, olhar profundo e sincero
Indicado ao Oscar de Melhor documentário 2012, “Pina” não é o tipo de filme que se nutre da vida e obra da coreógrafa. Wenders, que foi também seu amigo, preferiu desvelá-la pela dança, que sempre foi sua mais louca paixão.
Magra, pálida e com olheiras, Pina era uma fumante inveterada,  fez-me lembrar de Serge Gainsbourg com seu cigarro vivo e criativo. Seu talento em superar limites pela dança era fantástico. Sua Companhia era sua vida, sua arte sua essência. Wenders consegue extrair essa máxima de Pina em seu filme.

Elemento - água - cenas do filme
Wenders tem vocação para lidar com artistas; músicos, bailarinos.... Seu filme “Buena Vista Social Club”, 1999, revive o Clube de Havana e seus músicos cubanos, verdadeiras jóias guardadas que,  a partir desse encontro com o diretor, tornaram-se um marco da música cubana para o mundo. Wenders consegue, com o filme, emergir a salsa das entranhas de Havana e mostrá-la para o mundo revelando artistas como Compay Segundo, Eliades Ochoa, Ibrahim Ferrer, Amadito Valdés e outros.  O filme é uma viagem no espaço e no tempo pelas imagens e pela música cubana. Magnífico!

Em "Buena Vista Social Club", Wenders traz de volta a bela música cubana
 Em “O Hotel de um milhão de dólares”, 2000, Wenders filma a história criada por Bono do U2, que também participou da trilha sonora, sobre um hotel decadente onde houve a morte de um milionário. Um investigador, interpretado por Mel Gibson, tenta achar os culpados. Dá para perceber o envolvimento que o diretor consegue estabelecer com músicos e artistas, algo particular que move seus filmes dando um tom todo especial à trama documental ou ficcional. Particularmente, gosto muito de como Wenders faz isso.


Em “Pina 3D”, ele faz uma homenagem sincera, porém nada singela.  Sofisticada, à altura de sua musa, tudo é bem cuidado, os figurinos, as luzes  e uma trilha sonora instigante em que  pode-se ouvir Caetano Veloso com seu “Leãozinho”.
 Pedro Almodóvar e Federico Fellini imortalizaram Pina em seus filmes, respectivamente em,   “Hable con Ella” e “E La Nave Va”. Lindas imagens no início de “Hable com Ella” em que vemos um trecho da peça “Café Müller” de Pina e em “E La Nave Va”, em que a bailarina alemã vive a princesa cega Lherimia.

Pina em "E la nave va" de Fellini
Wenders, visceral, sincero; Pina, expressionista e contemporânea; sua Companhia, impecável. Amigos e contemporâneos unidos pela arte, Wenders e Pina inspiram e transpiram numa química incrível. Apesar do filme ter sido realizado após a morte da coreógrafa, os bailarinos, apaixonados pela dança, pela dança de Pina, revivem com fervor a musa. Fica evidente a paixão e dedicação dos bailarinos da Companhia que seguem os mandamentos da coreógrafa como uma religião, um dogma, sem contestar  deixando se renderem aos espetáculos com paixão e dedicação. No filme, a bailarina brasileira Regina Advento, que faz parte da Companhia, fala em português e dança em homenagem a Pina, uma leve dança das cadeiras. 
No jogo de cenas entre palco e cidade, alguns bailarinos prestam homenagem a grande Pina, dançando pequenos trechos e poucas palavras.
O filme é lindo, vale muito a pena assisti-lo. Bom filme!

 Cenas de "Sagração da Primavera" 
Cenas da cidade - cenário urbano



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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FOTÓGRAFOS PARANAENSES: a VERSATILIDADE de CADU SILVÉRIO

  

A coluna Incontros inicia uma série que vai trazer alguns fotógrafos paranaenses emergentes ou já conhecidos e consagrados. Através de entrevistas e fotografias vamos conher o estilo pessoal e a imagética de cada um deles. Hoje trazemos Cadu Silvério e uma mostra de seu portfolio, composto de um corpus fotográfico diversificado e primoroso em composição e técnica.

Carlos Eduardo da Silva Silvério dos Santos, mais conhecido como Cadu Silvério, é curitibano, nascido em 1979, formado em Jornalismo com Especialização em Fotografia pela UEL – Universidade Estadual de Londrina. Atua há oito anos no mercado, com trabalhos publicados em diversos veículos institucionais, além de trabalhos documentais, books assinados e cobertura de eventos corporativos e sociais.
Participou também, entre 2010 e 2011 como professor do Curso de Capacitação para Professores em Fotografias da Natureza, organizado pelo departamento de Educação da UFPR.



O espectador constrói a imagem e a imagem constrói o espectador (Jacques Aumont)



                                                          "Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina"


1. Quando começou a fotografar e motivado pelo que?

Acredito que desde pequeno já existia essa atração, alguma coisa dentro de mim que fez eu ir atrás como profissional. Meu interesse pela fotografia veio através da necessidade de ter um curso extracurricular para completar a grade na faculdade de Jornalismo. Lá, o curso de Fotografia era superficial, então procurei me aprofundar no assunto e fui atrás de algo mais completo. Durante cinco meses estudei Técnica Fotográfica com a Fernanda Biazetto Vilar Fabricio, hoje professora de Fotografia, Estética e Arte na PUC – Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Naquela época, fiz um ano de fotografia na Escola de Fotografia Portfólio, estudando desde o Pensar Fotográfico até os procedimentos de revelação em laboratório. A partir daí não larguei mais a fotografia. Quando concluí a faculdade de Jornalismo, fui para Londrina atrás do conceituado curso de Especialização em Fotografia da UEL – Universidade Estadual de Londrina. Aí sim, respirava fotografia todos os dias.

                                                           " O escritor Cristóvão Tezza em sua residência"

2. Teve alguma influência decisiva no seu fazer fotográfico?

Sim, nas primeiras aulas de fotografia da UEL, estava diante dos grandes “Monstros da Fotografia”, como Clicio Barroso, Fernanda Magalhães e Simonetta Persichetti. Foram eles que me despertaram para a profissão, para a figura do fotógrafo. A partir disso me dispus a ir atrás do conhecimento e da prática que me faltavam. A fotografia tornara-se minha vida. Foi um ano de preparação, conhecimento e satisfação com o que estava fazendo.

                                                                   "Navio Mariner of the Seas"


3. Qual a área da fotografia que mais o interessa?

Todo o meu trabalho é voltado para fotografia de pessoas. O foco profissional é total em retratos. Seja em ensaios, eventos corporativos, eventos sociais, editoriais, enfim, retrato tem se tornado a minha especialidade. Agora, quando entro de férias, a minha satisfação vem com a fotografia documental, é a área que eu mais me identifico. Além de ter uma linguagem muito forte, entrar na vida das pessoas e poder documentar o habitat, a cultura delas. É uma das coisas que me faz aprofundar ainda mais na fotografia.

                       "Foto documental"

4. Como foi sua experiência como fotógrafo na revista Interview?

Trabalhar com revista sempre foi um grande sonho. Quando recebi a proposta através do editor e jornalista Fernando Henrique Oliveira, vi que era um grande desafio. A revista Interview vinha com a chancela da conceituada Editora Abril, tiragem de 18 mil exemplares, 100% produzida em Curitiba. Aceitei a proposta de imediato! Oportunidade única. Foi a primeira vez que trabalhei com revista e as primeiras vezes são sempre as decisivas e as que fazem aumentar a minha adrenalina. (risos). Produzia 80% do material fotográfico. Desde os editoriais aos eventos da cidade. Acompanhei as pautas, registrando diversos perfis de personalidades curitibanas. Lidei com situações onde há toda uma produção para passar uma ideia previamente concebida, e por outras, fotos espontâneas de situações onde o inesperado é a peça fundamental do registro. Tudo era muito rápido. Produzia o material e em seguida já encaminhava para São Paulo. O que ficou foi uma experiência única que vem abrindo muitas portas.

"Atriz Regina Vogue, Curitiba"

5. Como você define seu próprio trabalho?

Gosto de citar uma frase do grande fotógrafo Ansel Adams: "Não fazemos uma foto apenas com uma câmera; ao ato de fotografar, trazemos todos os livros que lemos os filmes que vimos à música que ouvimos as pessoas que amamos".Eu me envolvo integralmente enquanto estou desenvolvendo um trabalho, seja ele um editorial, uma publicidade, um ensaio para uma exposição, um book ou um evento. O conceito é direto. Unir o momento certo, aliado a uma boa ideia e alguma técnica. Minha preocupação ao produzir uma imagem é principalmente com o fato de ser fiel ao tema proposto, ao belo, ao bem composto e a superação de expectativas.


"Crianças no Peru"

                    “Você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda sua cultura”. Sebastião Salgado.




                                                              "Torre da Telepar, Curitiba"

“A gente olha e pensa: Quando aperto? Agora? Agora? Agora? Entende? A emoção vai subindo e, de repente, pronto. É como um orgasmo, tem uma hora que explode. Ou temos o instante certo, ou o perdemos... e não podemos recomeçar...” Cartier Bresson.

"Paço da Liberdade, Curitiba"

“A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registro da realidade e um auto-retrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira.” Gérard Castello Lopes.


"Ilha de Superagui, litoral do Paraná"

“A fotografia, antes de tudo é um testemunho. Quando se aponta a câmera para algum objeto ou sujeito, constrói-se um significado, faz-se uma escolha, seleciona-se um tema e conta-se uma história, cabe a nós, espectadores, o imenso desafio de lê-las.” Autor desconhecido.

Fotos: Cadu Silvério
Texto: Izabel Liviski


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Izabel Liviski é Fotógrafa e Doutoranda em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual. Escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.










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Araguaia: história submersa




Nas duas colunas anteriores, abordamos dois aspectos diferentes sobre as vozes do silêncio. Na verdade, apontamos gêneros literários que trazem em seu bojo as vozes antes sufocadas pela ditadura militar brasileira. No texto de 29 de fevereiro, além de introduzir o assunto, comentamos o romance de Luiz Fernando Emediato, Verdes Anos, falamos sobre a dificuldade da pesquisa, certa desatenção para a temática (que nem é tão grande; ainda falarei sobre isso neste espaço), a dificuldade de encontrar materiais etc. No segundo texto, publicado em 21 de março, sobre a literatura infantil, ou mais especificamente sobre a Coleção Taba – Histórias e canções brasileiras, destacamos o fato de nem mesmo a literatura para crianças ter passado sem se aperceber da realidade histórica circudante, pelo contrário, ter se tornado instrumento de combate (ou de modo mais ameno, de reflexão sobre a matéria bruta da história).

Hoje, optei por sair um pouco da representação simbólica (arte, literatura, etc) para indicar aos leitores outro meio como o silêncio tem se expressado, como os interditos encontram frinchas para dizer. Especialmente no que se refere à “página infeliz de nossa história” ou ainda sobre os rodapés desta página. Existem vários documentários a respeito do recorte histórico 64-84/5. A lista passa dos 50. Se incluirmos os vídeos amadores postados no youtube e os vídeos da “verdade sufocada”, devemos ultrapassar 200.


Um dos vídeos não-profissionais (mas nem tão amador) que acho valer a pena assistir foi feito por Roger Turchetti e tem por título: “Ditadura Miltar no Brasil onde tudo começou?”. No próprio youtube consta o resumo que transcrevo aqui: “Matéria que fala sobre este triste período da história de nosso país. Através do olhar de Roniwalter Jatobá (jornalista/ escritor), que trabalhou numa das principais revistas que era contra este regime militar. E Brenno Silveira (Ex-Hippie), que foi Hippie. Contam como foi o regime Militar com os presidentes da época, milagre econômico, censura, movimentos revolucionários e muito mais”. Um documentário também pertinente e que assistido logo após o anterior funcionaria como um caminho didático para quem ingressa na temática e também como cronologia é: “O dia que durou 21 anos”, produzido pela TV Brasil. Nele, sabemos como ocorreu o golpe, quais os interesses e motivações, mas principalmente como foi a participação do E.U.A. na “contra-revolução”. Seguindo esta ordem, creio que o documentário seguinte seria “Tempo de Resistência” de Leopoldo Paulino (há também um livro com o mesmo título) e depois “AI 5: o dia que não existiu". Após assistir esses quatro documentários, o neófito no assunto estará de vez dentro do furacão (para usar uma expressão comum para se referir aos piores anos dos piores anos do Brasil recente).

Além desses, e para se aproximar mais ainda de um canto de grilo, de canto sussurrado de grilo, sugiro que se assista a documentários sobre a Guerrilha do Araguaia. Um deles produzido pela TV Brasil para o Caminhos da Reportagem e disponível no canal da emissora no youtube. Ainda é um documentário bastante higienizado, cheio de dedos, como se diz. Ou seja, documenta, expõe, tomando muitos cuidados, restrito a uma parcialidade que beira a estereotipia, mas que serve como introdução ao assunto. Se a ditadura no Brasil ainda carece de vozes, se ainda necessita de relatos, seja para a conciliação nacional, seja para o trabalho de luto. (E aqui está um dos fulcros do problema.) A Guerrilha do Araguaia é um episódio da história que está ainda mais submerso. Nisso, também a região está no atraso. Ainda um clima de Idade Média, ainda um receio de falar, ainda vozes silenciadas.

Daí a importante de um documentário como Araguaia: campo sagrado, realizado pela produtora Labor Filmes, resultado de um projeto organizado pelo professor Evandro Medeiros, na época em que estava lotado no Campus da UFPa. O documentário traz “relatos de camponeses, ex-mateiros e ex-soldados que testemunharam e foram vítimas das ações do exército durante o período da Guerrilha do Araguaia”. Chama a atenção não apenas pelo fato de fugir a certa “cleanização” dos fatos, mas também pela organização, seleção, encadeamento da narrativa. Destaque ainda precisa ser dado ao discurso do discurso. Mateiros, camponeses, viúvas, ex-militares, etc. não só falam sobre os fatos, mas revelam uma consciência histórica muito forte. Eles falam sobre os discursos gerados sobre a Guerrilha, sobre o fato de os brasileiros não fazerem a mínima ideia do que ocorreu e também para a dificuldade de trazer à tona a verdade. (veja um trecho do documentário em: http://www.youtube.com/watch?v=rmukVH8H77c)

Quando li que os mortos da guerrilha começariam ser desenterrados, pensei comigo: daí virão muitas narrativas. Os mortos falam, os cadáveres falam. No Araguaia, entretanto, o silêncio perdura, não há cadáveres, os mortos nada dizem e os vivos dizem muito pouco. A história da guerrilha do Araguaia continua, e ainda continuará (não há perspectivas de que isso mude) por algum tempo, submersa, sagrada, imperscrutável.


Abilio Pacheco é professor universitário, escritor e organizador de antologias. Três livros publicados. É membro correspondente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense (com sede em Marabá), integra o conselho de redacção da Revista EisFluências, de Portugal, é Cônsul dos Poetas Del Mundo para o Estado do Pará e é Embaixador da Paz pelo Cercle Universal des Ambassadeurs de la Pax (Genebra-Suiça). Site: www.abiliopacheco.com.br.


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UM POUCO MAIS DAS MINHAS.

           

UM POUCO MAIS DAS MINHAS. ESPERO QUE GOSTE!


Abraços literários e até +.

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O Caso Instagram: preconceito e engajamento nas redes sociais




Na última semana as redes sociais presenciaram uma série de declarações e desabafos preconceituosos por causa do lançamento do Instagram para usuários do sistema Android.

Vamos entender melhor, o Instagram é um serviço de compartilhamento de fotografias que mistura filtros para foto e recursos de uma rede social. Utilizando o Instagram, o usuário ao tirar uma foto, aplica efeitos, publica em sua conta e compartilha em redes sociais como: Twitter e Facebook. Seguindo a lógica de rede social, esse mesmo usuário também pode seguir e ser seguido por outras pessoas que também usam o aplicativo.

Apesar da grande adesão – o Instagram foi considerado o aplicativo do ano em 2011 – o serviço lançado em outubro de 2010, estava disponível apenas para os usuários do sistema IOS (IPhone, IPad e IPod Touch, ou seja, os produtos da Apple). Porém, no início da última semana eles disponibilizaram o aplicativo para o sistema Android.

Esse lançamento para smartphones de plataforma Android causou repudio nos usuários dos produtos Apple e automaticamente gerou uma reação nas redes sociais. Durante a semana apareceram inúmeras postagens revelando mais do que descontentamento por parte desses usuários do IOS, mostraram um preconceito latente.

Ao analisar o teor das declarações feitas e rapidamente espalhadas pelas redes sociais, percebemos que os usuários do sistema IOS, ou seja, os consumidores da Apple se sentem superiores aos consumidores da plataforma Android (maioria dos possuidores de smartphones no Brasil). Assim, percebemos que havia um contentamento por parte dos usuários Apple em saber que o aplicativo era restrito e elitizado.

O Instagram era a possibilidade dos usuários do sistema da Apple se diferenciaram nas redes sociais, era a forma que eles encontravam de demonstrar o status de superioridade que eles acreditavam possuir por conta do aparelho Apple que eles possuíam. Mas, com essa mudança, eles se sentiram lesados e passaram, através de pré-conceitos, a criticar os usuários Android.

Vale ressaltar que em menos de um dia de lançamento, a versão do Instagram para Android atingiu 1 milhão de downloads, o que reforça a idéia de que antes o aplicativo era exclusivista e que os usuários de Android compõem uma maioria no nosso país.

Tendo em vista esse episódio, podemos questionar e refletir sobre diversos pontos: sobre a presença constante do preconceito em nossa sociedade. Sobre o fetiche que determinadas marcas exercem em seus consumidores, fazendo-os adquirir muito mais que um produto, esses consumidores compram o status.

Outra questão interessante é analisarmos o ambiente das redes sociais, que possibilita engajamento. Porém, esse engajamento pode servir a causas nobres (o caso da morte da cachorrinha yorkishire morta à pancada por sua dona e que causou grande comoção e revolta nas redes sociais) como a causas iguais a do Instagram. Lembro do que uma professora da USP comentou sobre a uma certa tendência de encaramos as redes sociais de forma positivista, ela disse algo como “as redes sócias são apenas um meio, as afinidades continuam as mesmas, os gostos também’. E eu acrescento, o ser humano também continua o mesmo, o preconceito só encontrou mais um meio, está presente agora também nas redes sociais.

Abaixo listo alguns links que exemplificam esse preconceito ofensivo praticado nas redes sociais:

http://orkutgram.tumblr.com/
http://androidnoinstagram.tumblr.com/
http://androidinstagram.tumblr.com/











Ana Paula Nunes é jornalista, Especialista em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo. Coordena a Comunicação da Revista ContemporARTES.
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