MINHA IMAGEM REFLETIDA


Essas coisas loucas
invadem meus ouvidos
adoçam minha boca
provocam arrepios

em minha pele
meus pelos
meus poros

Ah... essas coisas loucas
que sinto quando te imagino
inebriam meus sentidos
provocam gemidos
enlouquecem minha libido

em mãos me perco
em toques sutis 
intensos e provocantes

mãos que são tuas
que me invadem
através das minhas
na tua ausência

perdendo-se em carícias
adentram penetrantes
insistentes...

mas... 
num átimo de segundo
um erro fatal cometo...
abro os olhos...

procuro pelo homem que anseio
pelo fruto do meu ardente desejo
e tudo que vejo refletido no espelho
é a minha própria imagem



Ianê Mello


*


Pintura de Francine Van Hove.



*


Inspirado na música de Lester Young 
These Foolish Things - Lester Young with the Oscar Peterson Trio











*** 





Ianê Rubens de Mello nasceu no Rio de Janeiro (RJ). É educadora e pós-graduada em Pedagogia. Identificada com as diversas propostas em textos literários, escreve também com resultados diversificados. Seus textos incluem contos, crônicas, aforismos, haicais e poesias. Alguns deles são publicados na internet, em sites, blogs e revistas eletrônicas. 





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Rui Ribeiro Couto e a sua inegável contribuição para a literatura brasileira





Consultando o site oficial da Academia Brasileira de Letras, deparei-me com o perfil de Rui Ribeiro Couto. Valendo-me de alguns dos seus principais dados biográficos, ressalto que Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto, filho de José de Almeida Couto e Nísia da Conceição Esteves Ribeiro, nasceu em Santos, no dia 12 de março de 1898, e faleceu em Paris, em 30 de maio de 1963. Ele foi diplomata, poeta, contista, romancista, magistrado e jornalista. Na sucessão de Constâncio Alves, foi membro da Academia Brasileira de Letras desde 28 de março de 1934, ocupando a cadeira 26 até sua morte.

Rui Ribeiro Couto cursou a Escola de Comércio José Bonifácio, em Santos, onde em 1912 estreou no Jornalismo. Em 1915, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, trabalhando, ao mesmo tempo, no Jornal do Commercio e, posteriormente, para o Correio Paulistano. Em 1919, bacharelou-se na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Em 1921, publicou o seu primeiro livro de poesia, O jardim das confidências. Ele trabalhou em diversos jornais e participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Ainda neste ano, problemas de saúde o obrigaram a se mudar para o interior de São Paulo, período em que saíram os volumes de contos A casa do gato cinzento e O crime do estudante Batista. Após dois anos em Campos do Jordão, foi para São Bento do Sapucaí, onde exerceu o cargo de delegado de polícia. Logo depois, transferiu-se para São José do Barreiro, onde foi nomeado promotor público.

            Em 1925, transferiu-se novamente por causa da saúde, dessa vez, para Pouso Alto, Minas Gerais e ali exerceu a promotoria pública até 1928, ano em que regressou ao Rio de Janeiro para trabalhar como redator no Jornal do Brasil. Logo depois, Ribeiro Couto foi designado para o posto de auxiliar de consulado em Marselha, onde assumiria o posto de vice-cônsul honorário. Em 1931, foi para Paris, ocupar o cargo de adido do consulado-geral. Em 1932, foi promovido a cônsul de terceira classe. Paralelo à carreira de escritor e jornalista colaborou com o Jornal do Brasil, O Globo e A Província (de Pernambuco), seguindo uma carreira diplomática bem-sucedida e ocupando-se de divulgar, mesmo na Europa, a literatura brasileira.

            Com uma copiosa produção e atuação na vida literária brasileira, observamos em muitas das obras de Rui Ribeiro Couto, o dia-a-dia das pessoas humildes e anônimas dos subúrbios. Na sua poesia, encontramos: O jardim das confidências (1921); Poemetos de ternura e de melancolia (1924); Um homem na multidão (1926); Canções de amor (1930); Noroeste e outros poemas do Brasil (1932); Província (1934); Cancioneiro de Dom Afonso (1939); Cancioneiro do ausente (1943); O dia é longo (1944); Rive etrangère (1951); Entre mar e rio (1952); Le jour est long (1958); Poesias reunidas (1960); Longe (1961). No que diz respeito à prosa, temos: A casa do gato cinzento, contos (1922); O crime do estudante Batista, contos (1922); A cidade do vício e da graça, crônicas (1924); Baianinha e outras mulheres, contos (1927); Cabocla, romance (1931); Espírito de São Paulo, crônicas (1932); Clube das esposas enganadas, contos (1933); Presença de Santa Teresinha, ensaio (1934); Chão de França, viagem (1935); Conversa inocente, crônicas (1935); Prima Belinha, romance (1940); Largo da Matriz, contos (1940); Barro do município, crônicas (1956); Dois retratos de Manuel Bandeira (1960); Sentimento lusitano, ensaio (1961).
            Rui Ribeiro Couto não entrou para a lista de nomes canonizados pela historiografia literária, embora muito ligado ao Movimento Modernista brasileiro. No entanto, sua bibliografia apresenta uma extensa e valiosa contribuição para a literatura brasileira.
           
Referências Bibliográficas

COUTO, Rui Ribeiro. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2002.

Disponível em: http://www.academia.org.br. Acesso: 29/11/2011.  



Maikely Teixeira Colombini, nascida em 1989. É natural de Mimoso do Sul, Espírito Santo, mas viveu grande parte da sua vida em Cachoeiro de Itapemirim. Hoje é graduanda em Letras com Licenciatura em Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.  Entre as suas grandes paixões está a Literatura. Atualmente está pesquisando osEspaços íntimos e espaços públicos na narrativa de Joaquim Manuel de Macedo. Áreas de interesse: Linguística, Letras e Artes, e mais especificamente, Literatura Brasileira. 

A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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Vida: corpos em performances



Há uma luz, no fim da tela. De onde surgem imagens em camadas em meio a uma escuridão gradual. Nem bem definida, nem claramente exposta, apenas camadas de um eu, que não pode ser focalizado até este instante. A platéia aguarda para saber de onde ou para onde vai aquele pedaço de matéria que se move em meio aos quadros de luz. Lentamente os fragmentos dão forma aos corpos. Corpos. Tão concretos e modelados. Ocupam o espaço da sala e da tela. Misturam-se e se desintegram diante dos olhos d@s expectador@s.


A dança circular impede qualquer tipo de fixação, no exato momento em que o que se mais deseja é decifrar o (i)material. Olhos. Olhos que acreditam ver as imagens e pelos quais se busca separar o real da pura fantasia. Tentativa insana de tomar para si e recriar o que está fora. Como num sonho, o sonho da vida, no qual passamos intrigad@s quanto à gênese e perturbad@s quanto ao fim. Como num flash de luz, tudo passa tão rapidamente. Com o tempo os acontecimentos acabam por parecer meros esquetes acumulados, ensaiados e dirigidos para darem algum sentido aos dramas, tragédias, comédias e outros gêneros nos quais tentamos classificar os diversos momentos deste espetáculo miserável.


Entre uma cena e outra, as vezes conseguimos olhar para o palco, de fora, com a exclusividade de quem sabe o que acontece dentro. Quem faz parte da concepção, execução e crítica da obra. Quem, diante do espelho se aterroriza por ver mais do que pensa mostrar ao seu público e perceber a distância que há entre o que pulsa na interioridade e o que se mostra na vitrine. E não há nada a fazer  além de caminhar, ir de encontro, enfrentar o terrível e ininteligível fenômeno. O espanto diante de si, dos espelhos que jogam em cima de você, mais de você, até você não suportar mais e fugir.


Algum@s criam mitos. Outr@s, conceitos, provas, dogmas e todas as outras bobagens certificadoras da inteligibilidade impossível. Tentam fugir, da inescapável condição de transitoriedade, limitação, corporeidade. Lá está @ jovem aprendiz, a implorar à sua musa, que lhe instrua em sua ciência. Ela, se derrama nas luzes, parece cair, parece voar, temo que não iremos decifrar. Ele se multiplica no chão, parece tão real, sem nem mesmo estar presente, assim como a vida, que muita gente crê e sente.


Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal do ABC. Integrante do grupo de pesquisa ABC das Diversidades. Bolsista de iniciação científica do CNPQ, no qual desenvolve pesquisa com o seguinte tema: Formação e atuação de entidades de representação LGBT no grande ABC: Impactos na formulação de políticas públicas.




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Primeiras exibições do Neblina





Várias exibições foram realizadas nestes últimos dias, Espaço Gambalaia, Instituto Sagrada Família, USCS, Colégio Galeão, Escola Esperança... e outras estão agendadas. Pela visto atingiremos a meta de levar para 50 instituições até junho/2012.


 Espaço Gambalaia, Quarta em Movie. Fotos Heitor Glauber

Nesta exibição, o público presente prestigiou a exibição e um dos participantes conhece a Vila de Paranapiacaba a mais de 50 anos e comentou um pouco sobre seus conhecimentos. Após sua fala iniciou um debate acerca do sucateamento do sistema ferroviário e os interesses econômicos, alguns dos participantes são de um núcleo de pesquisa sobre o trabalho ferroviário e trouxeram algumas questões ao debate referentes ao tema.




 Escola Esperança, Mauá. Fotos Heitor Glauber

Cerca de 50 alunos, +/- 10 anos de idade, assistiram ao documentário. Foi interessante provocar um dialógo com esta turma que num primeiro momento estava inibida e após conversar sobre História regional, estação ferroviária, Barão de Mauá etc. Dialogaram com base nos seus conhecimentos e anseios. 






Aguardamos e estamos motivados a difundir cada vez mais nosso compromisso com a difusão de nossa produção, que apesar dos causos e dificuldades ocorridas, conseguimos finalizar o documentário e fazer jus ao comprometimento do projeto de pesquisa e extensão.

Agradeço a Ana Maria, o Cláudio Penteado, o Sá, a Fernanda, o Felipe, o Heitor e o Paulo Akio, por ajudar na continuidade deste projeto em 2012. 

E aos interessados em nos receber com a exibição e dialogo, favos nos contatar: soraia.o.costa@gmail.com ou facebook/neblinasobretrilhos.

Atenciosamente,



Soraia Oliveira Costa, graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Professora de Geografia, Filosofia e Ética na Escola Paineira, trabalha também com fotografia, audiovisual e oralidades desde meados de 2007, quando começou a analisar o cenário urbano, a natureza, o trabalho, os transportes, o comportamento, a cultura, a arte... 
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Marianazinha




Hoje tomei a liberdade, ainda que não devida, ou indevidamente necessária, para trazer ao leitor algo diferente. Um pouco deste comovido colunista. Para reflexão, proponho o conto de minha autoria chamado "Marianazinha", ainda, trago para uma quadrinho de Calvin, para que possamos realizar o diálogo entre ambos os textos.

O conto, que surgiu de inúmeras impressões pessoais acerca do cuidado e dos desejos de cada indivíduo, tenta ponderar dois pontos em uma relação entre mãe e filha. A literatura nos permite que façamos essas considerações e que possamos perceber esses enlaces da vida.

O endereço eletrônico de meu blog pessoal, para quem quiser conhecer um pouco mais de meus textos, é renatodering.blogspot.com. O blog já existe há mais de 5 anos, e conta com muitos dos meus escritos.




MARIANAZINHA




Era a hora de jantar e Marianazinha não descia do quarto. A mãe, depois de chamar várias e várias vezes, perdeu a paciência. Onde estaria Marianazinha? A janta era a comida preferida dela, sopa de letrinhas. Cada letrinha com uma cor diferente, menos a cor verde, ela não gostava... sabia que era de legumes. Passava das nove horas, e nove horas era a hora da janta. Onde está Marianazinha?

Sua mãe gritava, e gritava, pela filha no pé da escada. Escada essa que Marianazinha sempre brincou como sendo a entrada da casa de princesa de filmes da Disney. Quando cresceu um pouco mais, desistiu dessa brincadeira. Cansava subir e descer as escadas sozinha. Uma coisa parecia certa, Marianazinha não parecia estar no quarto, ou não ouvia sua mãe gritar. Onde estará Marianazinha?

Cansada de gritar, sua mãe subiu as escadas para ir ao quarto ver o que acontecia com Marianazinha. Eram nove e dez, e nada de a filha vir jantar, como pode? Um passo, dois degraus. Dois passos quatro degraus. Três passos, cinco degraus. A escada nem era assim, de princesa... era a imaginação de Marianazinha que a fazia. Aliás, era a imaginação de Marianazinha que dava àquela casa um tom de azul celeste, misturado ao rosa claro, cor de edredon preferido da mãe meninazinha, não dela.

A porta do quarto estava entreaberta, não mais trancada. O quarto, intacto. Marianazinha ali não estava. Não jantaria em casa de novo, assim como não jantou noite passada, assim como não jantou semana passada, assim como não jantava há alguns anos. Marianazinha já era Mariana. E sua mãe, ainda era... bem... ela não tinha imaginação. Era muito limitada para Marianazinha, digo, Mariana.

Daqui uns tempos, quem sabe, Mariana não volte para casa. Quando a casa tiver mais degraus, talvez, ou a mente de sua mãe ter um pouco mais de espaço, para poder entender que Marianazinha agora era Mariana. Pode ser que Laura esteja mudando, hoje já se deu nome e sempre deixa a porta entreaberta, caso a filha volte. Amanhã poderá tirar o edredon rosa claro da cama... Só restaria os degraus... Laura precisa aprender a usar a imaginação e subir mais alguns.




Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.
Contato: renatodering@gmail.com
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Criação literária: um processo autobiográfico?

         


É claro que muito já foi dito a respeito do processo de criação do texto literário; não se pode ler uma obra pensando apenas como um reflexo do próprio autor, porque se assim o fosse, o que seria a literatura se não um simples recontar de próprias experiências, um mero espelho que refletiria apenas as próprias memórias? Não, definitivamente, literatura é muito mais do que isso. Por outro lado, não deixo de perceber que, muito do que escrevo diz sobre o que sou, o que leio, o que ouço, o que gosto e, enfim, revela a matéria de que sou constituída. Sendo assim, quando leio uma obra e me reconheço nela, é porque, de alguma forma, aquilo que leio está me lendo também.

            Margarida de Souza Neves (2004) considera que "[...] prenhe de seu autor, o texto nos leva, a cada passo, ao encontro da figura humana (...), de suas idiossincrasias, do estilo do escritor, dos temas que lhe são caros, de seus interlocutores intelectuais, de sua peculiar forma de ler o mundo".

Isso tudo me faz pensar que, se por um lado, não devemos restringir a literatura às experiências pessoas de cada autor, por outro, essas mesmas experiências devem ser consideradas como elementos fundadores da criação literária. E não é só no campo das letras que essa questão se aplica; há que se considerar também a música, as artes plásticas, a arquitetura e tantas outras formas de expressão.

Será que Cazuza, ao compor suas músicas com letras ousadas e com um certo teor de ousadia, somado às diversas críticas sociais e políticas, de alguma forma, não estaria demonstrando seu próprio posicionamento diante da sociedade brasileira, diante da vida?

E quanto aos escritores que, inconfundivelmente envolvidos com seus contextos regionais, com seus pequenos mundos, produziram obras que nos dão um verdadeiro panorama histórico, social, político e cultural de seus lugares de origem? O leitor mais atento, com certeza, lembrará de alguns nomes, como João Guimarães Rosa, Erico Veríssimo e Jorge Amado, pro exemplo. Com esses autores, é possível visitar o Rio Grande do Sul, Minas Gerais e a Bahia, apenas através das páginas de seus livros... E eles não estariam, de alguma forma, nos devolvendo aquela matéria de que permeia a própria vida deles?

É claro que, como leitores, sabemos o lugar da literatura. Não olhamos para uma obra, apenas com os olhos de quem procura conhecer a pessoa que escreve. Contemplamos a obra para que, através da ficção, do relato memorialístico, possamos construir nossa própria idéia do que seja o estilo do autor e, quem sabe, numa dessas entrevistas que vira e mexe eles nos contemplam, a gente possa descobrir que uma paisagem, um acontecimento, um personagem, foi fruto de uma experiência rica e verdadeiramente pessoal. E isso tudo para quê? É simples; para descobrir que, além de nos sentirmos acolhidos pela obra que escolhemos ler, possamos ser também lidos por aquele que escreve e, quem sabe, estabelecermos um diálogo com o livro (ou com o compositor, ou com o pintor) que diz, artisticamente, aquilo o que nós realmente sentimos. E como nos adverte Jorge Luiz Borges (2004), “toda literatura é, finalmente, autobiográfica”.







Thaís Fernanda da Silva é aluna do Mestrado em Letras da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: thaisfsilva@ymail.com



Referência Bibliográfica
Livro. Disponível em: HTTP://www.cavacosdascaldas.blogspot.com. Acesso em: 12/11/11.

Leitora. Disponível em: HTTP://www.freepik.com.br. Acesso em: 12/11/11.

Cazuza. Disponível em:< HTTP://www.macho-crise.com>. Acesso em: 12/11/12.


A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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