Vida: corpos em performances
Há uma luz, no fim da tela. De onde surgem imagens em camadas em meio a uma escuridão gradual. Nem bem definida, nem claramente exposta, apenas camadas de um eu, que não pode ser focalizado até este instante. A platéia aguarda para saber de onde ou para onde vai aquele pedaço de matéria que se move em meio aos quadros de luz. Lentamente os fragmentos dão forma aos corpos. Corpos. Tão concretos e modelados. Ocupam o espaço da sala e da tela. Misturam-se e se desintegram diante dos olhos d@s expectador@s.
A dança circular impede qualquer tipo de fixação, no exato momento em que o que se mais deseja é decifrar o (i)material. Olhos. Olhos que acreditam ver as imagens e pelos quais se busca separar o real da pura fantasia. Tentativa insana de tomar para si e recriar o que está fora. Como num sonho, o sonho da vida, no qual passamos intrigad@s quanto à gênese e perturbad@s quanto ao fim. Como num flash de luz, tudo passa tão rapidamente. Com o tempo os acontecimentos acabam por parecer meros esquetes acumulados, ensaiados e dirigidos para darem algum sentido aos dramas, tragédias, comédias e outros gêneros nos quais tentamos classificar os diversos momentos deste espetáculo miserável.
Entre uma cena e outra, as vezes conseguimos olhar para o palco, de fora, com a exclusividade de quem sabe o que acontece dentro. Quem faz parte da concepção, execução e crítica da obra. Quem, diante do espelho se aterroriza por ver mais do que pensa mostrar ao seu público e perceber a distância que há entre o que pulsa na interioridade e o que se mostra na vitrine. E não há nada a fazer além de caminhar, ir de encontro, enfrentar o terrível e ininteligível fenômeno. O espanto diante de si, dos espelhos que jogam em cima de você, mais de você, até você não suportar mais e fugir.
Algum@s criam mitos. Outr@s, conceitos, provas, dogmas e todas as outras bobagens certificadoras da inteligibilidade impossível. Tentam fugir, da inescapável condição de transitoriedade, limitação, corporeidade. Lá está @ jovem aprendiz, a implorar à sua musa, que lhe instrua em sua ciência. Ela, se derrama nas luzes, parece cair, parece voar, temo que não iremos decifrar. Ele se multiplica no chão, parece tão real, sem nem mesmo estar presente, assim como a vida, que muita gente crê e sente.
Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal do ABC. Integrante do grupo de pesquisa ABC das Diversidades. Bolsista de iniciação científica do CNPQ, no qual desenvolve pesquisa com o seguinte tema: Formação e atuação de entidades de representação LGBT no grande ABC: Impactos na formulação de políticas públicas.
2 comentários:
Lindo texto, adoro seu lado artista as well. beijos! ou em grego:
19 de maio de 2012 às 13:35φιλάκια πολλά
Ótimo... a poesia da imagem descrita... sincera e livre. Um abração!!! T.
23 de maio de 2012 às 02:09Postar um comentário
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