Camilo Pessanha

          

Camilo Pesanha foi um poeta português, nascido em Coimbra, em 1867, e morto, vítima da tuberculose, em 1926. Ele possui uma única obra publicada, Clepsidra, sendo considerado o maior expoente do simbolismo português. A escrita de Camilo Pessanha é marcada pela a ótica da ilusão, da dor e do pessimismo, bem como pelo exílio do mundo e a desilusão em relação à Pátria, que passam a impressão de desintegração do seu ser. Vejamos alguns poemas desse famoso poeta:

Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
(PESSANHA, 2009, p. 53)

Notamos nesse poema uma desilusão quanto à pátria, tida como “um país perdido”. E nos questionamos: perdido porque corrompido? Perdido devido à perda da glória que um dia houve, trazida pelas colônias? Ou perdido porque o país afastou-se no tempo, perdeu-se no espaço e na memória? No caso presente, o termo país poderia tanto referir-se à terra natal, Portugal, quanto ao mundo em geral enquanto locais que não despertam nenhum tipo de esperança no sujeito poético que fala. Por isso mesmo, ele revela que a alma que possui está doentia, por esse motivo, indefesa, à mercê de todos os medos e anseio que acossam ao homem.


Nos dois últimos versos, notamos que o eu lírico deseja evadir-se do mundo real, como alguém que “pudesse deslizar sem ruído”. Em meio à esse anseio, como um corpo morto, devorado pelos vermes ele deseja “No chão sumir-se”.

Outro poema de Camilo a ser destacado aqui é “Madrigal”:

Aquela enorme frieza
Não entristeça ninguém...
Ela estende o seu desdém
À sua própria beleza

Quando, solta do vestido,
sai da frescura do banho,
O seu cabelo castanho,
Esse cabelo comprido,

Que frio, que desconsolo!
Deixa ficar-se pendente,
Em vez de feito em serpente,
Ir enroscar-lhe ao colo!
(PESSANHA, 2007, P. 56)

“Madrigal” é o nome dado a uma pequena composição poética que se celebra a uma mulher, é uma poesia em que se faz um galanteio. Conhecendo-se o significado do termo madrigal, juntamente com o poema escrito por Camilo Pessanha, observamos que ele se refere a uma mulher muito bela, que, no entanto, é fria como o gelo e desdenha àquele que lhe devota amor.

Na segunda e terceira estrofes, o eu lírico devaneia imaginando a figura dessa mulher ao sair do banho, nomeando-lhe os elementos corporais que a tornam tão bela: o cabelo castanho e comprido”. Esse cabelo que é cantado e exaltado fica pendente ao corpo da amada, em vez de, como serpente, ir enroscar ao colo daquela que envenena o sujeito poético com o seu amor. Notamos, portanto, que não é um amor que dá sede de viver, pelo contrário, ele envenena, retirando, aos poucos, o ar e a vida do amante rejeitado.

Aqueles que gostaram dos poemas apresentados na matéria de hoje, podem acessar  página da Biblioteca Nacional de Portugal que possui informações sobre a vida do autor e disponibiliza os poemas por ele escritos.


Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.

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30º Bienal Internacional de Arte de São Paulo: A iminência das Poéticas


Como apreciar a arte contemporânea?
Fotos: Katia Peixoto
O curador da 30º Bienal, Oramas, propõe um olhar poético do mundo pela ressignificação de objetos do cotidiano. Mais de 102 artistas discutem a falta de comunicação entre os seres.
Constelações que caminham paralelas e cruzam-se em suas comunicações.
A arte dando ao homem a capacidade de se comunicar.
O mito de Narciso e da Eco e a incapacidade de se comunicarem representam a vontade de destruir a incomunicabilidade. A arte pode ocupar o espaço da incomunicabilidade entre os seres?
Caminhos possíveis pela arte.
O que significa arte contemporânea?
Será que chegou a hora de se render a comunicação? O que o mundo espera do mundo?

Como entender o que se passa por detrás daqueles novelos enrolados, dos ressignificados dos objetos de Nino Cais?

O que pretende e propõe a arte contemporânea?
Fios que se expandem para caminhos possíveis? Quais seriam estes caminhos?
 O rosto? Porque escondê-lo? Onde está você autor da obra? Séra que se encontra por detrás ou dentro do cesto?
Se equilibrando no perigo e na sensibilidade?

Novelos coloridos enrolados, mil possibilidades e o relógio que insiste em marcar o tempo
Cor e cuidado, um trenzinho passa pelos copos e emitem sons singelos 
Onde está a outra metade? 
Sou o suporte do vaso, sou a mesa?
O Educativo da Bienal em conjunto com o Projeto Lugares de Aprender levam alunos de Escola Pública para questionarem a arte Contemporiaânea - Discussão e proposta de Constelações posíveis
Discussão entre meus alunos do CENEART e monitores do Educativo da Bienal
Reiventando novas Constelações...
A arte com seriedade
Atenção para criar as relações entre as obras
A Constelação realizada pelos alunos do CENEART
A solidão é um caminho possível?
Casa e cama para uma só pessoa, a solidão como caminho possível. Dormir só, comer e conviver interagindo...

Cacarecos e achados interessantes.....

Visite a Bienal e faça sua Constelação!!!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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NELLIE BLY, PIONEIRA DO JORNALISMO INVESTIGATIVO



Elizabeth Jane Cochran (1864-1922), conhecida pelo pseudônimo de Nellie Bly, foi uma jornalista norte-americana, pioneira das reportagens investigativas.
Sua carreira começou com uma carta revoltada, que ela mandou ao editor de uma coluna sexista do jornal Pittsburgh Dispatch, protestando contra um artigo que se intitulava: "Para que servem as mulheres?". Não há dúvidas de que já era uma militante, também no terreno do feminismo.
A qualidade desta carta levou o editor a pedir a Cochran, que estava procurando emprego, que se tornasse repórter desse jornal.

                  

Foi o editor que criou o pseudônimo de Nellie Bly, vindo do nome de uma canção popular de Stephen Foster.
Bly escreveu vários artigos investigativos antes de ser relegada à seção feminina do jornal. Ela deixa então o Dispatch e vai para Nova York, onde conseguiu trabalho no New York World, o jornal sensacionalista de Joseph Pulitzer, o mesmo que criou o Prêmio Pulitzer.



Seu primeiro trabalho foi sobre o Sanatório de Mulheres na Ilha Blackwell, no qual se expôs às mesmas condições inumanas das pacientes do local.O resultado dessa experiência foi uma série de artigos contundentes e um livro chamado Ten Days in a Madhouse (Dez dias em um manicômio).



Em 1888, O New York World decidiu mandar um repórter numa viagem ao redor do mundo, como no livro A volta ao mundo em 80 dias de Júlio Verne. Nellie Bly foi escolhida para essa viagem, que partiria de Hoboken, Nova Jersey,  em 14 de novembro de 1889. Depois de 72 dias de sua partida, Nellie chegou a Nova York, realizando a volta ao mundo mais rápida até então, recorde esse que seria quebrado em alguns meses mais tarde por George Francis Train, que completou a viagem em 62 dias.



Na sua viagem ao redor do mundo, valeu-se de cavalos, barcos, carruagens e muitos camelos nessa proeza. Ela visitou não só a Inglaterra, Japão, China e Hong-Kong como no livro, mas também Amiens, o lar de Júlio Verne. Ela também foi a primeira mulher a viajar ao redor do mundo sem a companhia de um homem, se tornando um modelo para as mulheres da época.



Nellie Bly casou-se com o empresário Robert Seaman em 1895, com a morte de seu marido em 1904 ela passou a controlar suas empresas, se afastando por um tempo do jornalismo. Mais tarde ela retoma as atividades, cobrindo um encontro de feministas em 1913 e também os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial, do front oriental na Europa.  



Durante a cobertura da guerra, chegou a ser presa pelo Império Austro-Húngaro por suspeita de espionagem, mas foi ajudada por um intérprete que a reconheceu e disse "na América até uma criança de 7 anos sabe quem é Nellie Bly".
Elizabeth Cochrane morreu de pneumonia aos 57 anos de idade. Há um pequeno parque de diversões no Brooklyn em Nova York, com o seu nome, baseado no tema da Volta ao Mundo em 80 dias.


Trecho do relato sobre o encontro de Bly com Julio Verne:
"Júlio abriu caminho até aos coches que esperavam à frente da estação. Nellie caminhava junto a Honorine (esposa de Verne), calada pois não falavam o mesmo idioma. 
«Caía a tarde. Durante o percurso pelas ruas de Amiens, pude ver por breves momentos lojas tentadoras, um parque muito bonito e muitas amas que empurravam carrinhos de bebê», lembra Nellie Bly. 



Interessante perceber que foi uma mulher, num tempo em que o gênero não tinha voz, a criadora do jornalismo investigativo. Em seu pouco tempo de vida, conseguiu mudar muitas coisas na sociedade em que vivia e abriu caminho para mudanças ainda maiores.
Hoje as mulheres são a maioria no jornalismo, mas todos nós - homens e mulheres - precisamos resgatar essa coragem de não se acomodar que Nellie Bly inaugurou em seu tempo.











Izabel Liviski é Fotógrafa e Doutoranda em Sociologia pela UFPR.
Seu campo de pesquisa abrange Estudos de Gênero, Sociologia da Comunicação e da Imagem, Estudos Culturais e História da Arte.
Escreve a Coluna Incontros às quintas-feiras, quinzenalmente, para a Revista ContemporARTES.


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Sobre nosso humor

 
Hoje apresentamos a crônica de Ana Luíza Duarte de B. Drummond. Nascida em Ferros, Minas Gerais, em 1988. Atualmente cursa Bacharelado em Estudos Literários e Licenciatura em Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Ouro Preto. Publicou recentemente o conto “O pio da coã”, na antologia de contos fantásticos Fantasiando. Possui artigos publicados na área de Educação e Literatura.



Coisa engraçada, dia desses peguei uma televisão emprestada com um amigo por que eu iria receber algumas visitas que não ficavam sem isso. Como as visitas não vinham (e não vieram até hoje), num certo dia, liguei o aparelho. Qual não foi meu susto assistir ao programa “Zorra total”. Fiquei pasmada, boquiaberta e pensei comigo: o que é isso? Estou exagerando? Talvez. Certo é que sem o aparelho há quase dois anos, acabei me desacostumando dele: deu nisso. Lógico que nesse tempo vi que muita coisa estranha (ou previsível) ainda acontecia nos “bastidores” televisivos. Tenho e-mails do Yahoo, site que sempre faz questão de me deixar a par dos “babados”. Além dos vários amigos do facebook, que além de não me deixarem esquecer que a sexta está próxima, ou que infelizmente já é segunda, ou que ainda o feriado não durou o suficiente, também me fazem saber de Carminhas e Ninas. Enfim! Fiquei pensando o que teria acontecido para chegarmos ao nível de um programa como o Zorra total ser exibido em rede nacional. Ora, não vou ser hipócrita para falar que nunca assisti programas idiotas na (da) TV. Alguém já disse que todo mundo precisa de um momento de alienação e eu, particularmente, adoro essa deixa. Gostava muito dos programas e desenhos infantis, como Caverna do Dragão (clássico!), Cavaleiros do Zodíaco, Cocoricó (qual marmanjo nunca cantou numa bateria ou guitarra invisível: “o Júlio na gaita e a bicharada no vocal, fazendo rock rural, cocoricó”?), Castelo Rá-tim-bum, Sítio do pica-pau amarelo, Os trapalhões... Fui seguidora assídua de algumas novelas, como Roque Santeiro, por exemplo. Mas algo mudou. Seria o humor ou o nosso humor? Corrijam-me, por favor, se eu estiver errada, mas acredito piamente que algo mudou. Eu me divertia tanto com Mussum e Zacarias, mas sequer consigo ouvir por um minuto aquele programa novo do Didi. E o esporte atual? Uma coisa é fazer um programa esportivo um pouco menos técnico, menos “duro”, outra coisa é achar que somos idiotas para assistir piadinhas idiotas, ideológicas e sem motivos esportivos (ou talvez sejamos mesmo idiotas). Nem vou entrar na questão de programas como Pânico na TV porque isso já é vergonhoso demais para mim.


Adelaide – personagem do Zorra Total



Falando sério, sempre me considerei uma pessoa otimista e não sou dessas que dizem “antigamente era melhor”, até por que meu antigamente é bem recente e é isso que me assusta. Gostava de fazer comparações do tipo: pelo menos hoje, nós mulheres, podemos lutar pelos nossos direitos e não sermos queimadas em praça pública (pelo menos em alguns países). Podemos mandar a polícia, a religião, os políticos, e cia. Ltda. pra onde quisermos, pelo menos por palavras. Sim, doce ilusão essa tal liberdade. Mas estou sendo sincera, é o que eu pensava. Hoje, penso numa temível teoria: será que atingimos em algum momento um ápice na escala evolucionista e agora estamos em decadência? Será que a raça humana está próxima à sua extinção e seres mais evoluídos tomaram nosso espaço? Então, ao pensar assim, chego a uma conclusão: não. 

                                            Máscara da comédia grega. Por volta de 350 a.C




Somos uma raça muito estranha, mas sempre fomos. Somos capazes de produzir a nona sinfonia e o holocausto; sete ou oito peças para um ballet e as bombas nucleares; doze girassóis numa jarra e a chacina da Candelária; a Vênus de Milo e o genocídio ruandês; Hamlet e o apartheid, Dom Quixote e Chernobyl, Ladrões de bicicleta e o Holodomor, etc., etc., etc.. Sempre fomos assim. Mas será que precisamos continuar sendo? Precisamos continuar aceitando programas como Zorra total de braços abertos e nos obrigando a rir disso? Precisamos procurar a graça onde ela não está?
Faço uma confissão que muito me magoa: tenho consumido excessivamente cultura estadunidense, principalmente em se tratando de comédias. Gosto de assistir a The Big Bang Theory e Community, várias vezes. E o pior, não me canso. Rio infinitas vezes do sorriso medonho de Sheldon Cooper e das bizarrices do Señor Chang, mas só consigo sentir vergonha naquele quadro do metrô do já citado programa global. Julguem-me, apontem-me críticas nas comédias que eu citei. Mostrem-me nelas preconceitos escondidos (ou não), ideologias capitalistas, nazistas, fascista, o que for. Por favor, eu peço isso, pois tenho sido alienada nesse ponto. Existe o preconceituoso Pierce em Community: ninguém ri de suas piadas, riem dele, por ser preconceituoso. No Zorra total riem de tudo (que não tem graça) e riem de nós, pretos, brancos, homossexuais, bissexuais, transexuais, heterossexuais, mulheres feias, mulheres loiras, mulheres “gostosas”, mulheres banguelas, etc. Tudo se torna motivo de riso onde falta humor. E vejam que não estou falando de humor bom e humor ruim, que isso não existe. Bakhtin acreditava que o caráter crítico e autocrítico, um dos componentes principais do romance, gênero moderno por excelência, só poderia ter vindo do riso, do riso que familiariza objeto e ser para que este possa examiná-lo de perto, revirá-lo, desmembrá-lo. Onde ficou esse riso? Enfim, há tempos não vejo humor no Brasil e o fato de que não tinha televisão não é o motivo. Que me perdoem, de todo o coração, os que ainda o fazem, mas, o que tenho visto hoje, no humor brasileiro, aproxima-se mais do horror. Aquele horror sussurrado pelo coronel Kurtz. 




                                                            Sorriso de Sheldon Cooper


                                  Ana Luiza Drummond
e-mail: analuizadrummond@yahoo.com.br
 
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Poemas pousaram nas árvores de Vinhedo

Como parte de um grande projeto em 86 cidades, organizado pelo Instituto Psia, selecionamos dez poemas de moradores locais e os pousamos nos galhos das árvores da praça no centro de nossa cidade, Vinhedo em SP. O resultado foi a leitura por transeuntes apressados, que encontraram minutos para acariciar e alimentar nossos poemas mansos. Desde o pessoal da limpeza , motoqueiros punk , executivos e pessoas crianças e idosas, comemoramos o Dia da Árvore com muita licença poética.


I VARAL DE POEMAS NAS ÁRVORES

CLUBE DOS ESCRITORES DE VINHEDO



“Poema que dá em árvore, quando amadurece não cai, pula e se agarra ao coração do leitor.”

Simone Pedersen



Inverno das horas

Estranho seria,
Se nessa pequena distância,
Entre um segundo e outro,
Não morasse dor, nem vazio.
Bom seria se surgisse barulho,
Gritaria desordenada e calor.
Mas é manhã cálida, cinzenta,
De gotas frias e ar gelado.
E nesse inverno das horas,
Estranhamente, reside saudade.
Faz brotar na face solidão.

Taiany Caroline Veronezzi


“Resto é Resto”

Tenho Deus na cabeça,
Tenho Deus no coração,
Respeito os mandamentos,
Busco a solução,

O resto é reza,
O resto é conversa...

Luto pelo pão de cada dia,
Respeito a minha vizinha,
Amo o próximo,
E os não próximos,
Amo a minha cachorrinha,

O resto é reza,
O resto é conversa...

Divido tudo o que tenho,
Pela Paz eu me empenho,
Desculpo, sempre, nunca odeio
Quando estou de saco cheio,

O resto é reza,
O resto é conversa...

Sem preconceitos,
Viva eu, viva as meninas e os meninos,
Viva os direitos, viva o hino!

O resto é reza,
O resto é conversa...

Marlene Cecília M. Sabatini


PROMESSA

O caminho que seguirei
Está repleto de lembranças
É saudade que não cala
É espera e é chegada...
O caminho por onde irei
Guarda a poesia nas flores
E o silêncio nos espinhos.
No pó dos meus passos
Toda a minha esperança.
Na distância do meu cansaço
A ternura do amanhã...
O caminho que farei
Está delineado nos meus sonhos.
Não é o antes, nem o depois
É o agora que se eterniza
Na paisagem de nós dois...

Vinhedo, Inverno de 2008.


Benevides Garcia

  
Levando a vida


o meu caminho

às  vezes escolho
às vezes aceito

o que a vida me oferece

às vezes acolho
às vezes rejeito

e assim vou levando

o amor eu recolho
o resto... dá-se um jeito!


Helenice Priedols


Será que o tempo parou?

Quando vejo um quadro belíssimo,
com paisagens admiráveis,
pergunto-me:  Será que o tempo parou?
Tenho certeza! Foi em ti que o artista se inspirou.

Tua beleza radiante,
agregada a teu sorriso transparente.
- Será que o tempo parou?
És maravilhosa? Ou sinto-me tão carente?

Oh! Minha musa e fonte inspiradora,
que move meus impulsos e pensamentos,
alguma vez já amaste?
Se esse alguém fosse eu, diria: - De fato, o tempo parou.


Aparecido Bi de Oliveira


Cinzas

Quero meus cigarros.
Dá-me e não me amoles.
Quero fumar a noite inteira.
E, já aviso, não irei à escola.

Quero ir a um lugar temido.
Por horas quero fazer amor.
Pouco me importam tuas doenças,
Se não quero prazer, mas dor.

Quero deliciar-me em teu choro,
Enquanto te conto teu problema:
Vivo contigo um romance forjado.
Nossa liberdade usa algema.

Não, não quero nada de ti.
Desta vida, só peço a morte.
Se essa me ouve, então virá,
Pois esta é minha sina, minha sorte.


Fernanda Farrenkopf


Distâncias

É a distância que nos aproxima,
Esse jogo de lua e sol, de luz e sombra,
De vento encrespando as ondas do mar
Até chegar à areia que espera solitária,
De pássaros atravessando nuvens no ar
Sem rotas traçadas no mapa astral,
Sem as linhas do destino desenhadas
Na palma das estendidas mãos.
Minhas mãos encontrando as tuas
Formando pontes à beira de precipícios.
E quando nossos corpos se encontram
As distâncias se encurtam
É como o céu beijar o mar
É se perder e não se encontrar
É como o sol e a lua estarem no mesmo lugar.


José Antonio Zechin


OLHAR

Seu olhar me fez sonhar
sonho que, como tantos outros,
imaginava seria fugaz, esqueceria;
mas, triste sina, continuo a sonhar,
agora inutilmente.


MARIAS

Se um dia me virem dormindo,
por favor, não me tragam flores
porque, destas, perfume já não sinto;
tragam-me recordações de amores
e imaginem estar eu, ali, fingindo.


Conrado Amstalden



Confidência

Um amigo me ensinou a voar, a abrir os braços e me lançar no espaço, sem medo e com confiança.
Me permiti sentir o vento no corpo inteiro e a respiração encurtada pela emoção.
Me deixou no alto da montanha e se despediu desaparecendo no céu.
Gritei que ele era lindo e acordei feliz para mais um dia.
Meus amigos me presentearam no meu aniversário, com uma queda livre num espaço coberto de estrelas e novamente o vento vestiu todo o meu corpo.
Acordei entorpecida de emoção e acreditando no amor existente na amizade.
Já visitei a lua e lugares coloridos e encantados.
Já me vesti de seda branca e ouvi uma promessa de amor.
Aprendi a acreditar nas diversas possibilidades, a seguir meu coração e viver para a eternidade.

                                                            
Núbia Hübner



Decisão

Deitada na cama,
Coberta de silêncio,
Escuto o escuro
Do meu dia.
Não tento mais fugir,
Sei que a vida
Sempre me acha.
Abro minhas janelas
Permito que os sonhos
Voem longe.
Choro ofensas e saudades,
Esvazio meu oásis.
Nada mais me atinge:
Hoje sou deserto.

Simone Alves Pedersen


POEMA FONÉTICO
consoantes surdas, sonoras...e não só.

Verdes vagas vagabundas*
vagueiam vagamente pelas marés...
O por do sol, poeta pintor
pincelou de cor a prata do mar...
e dolente, o dia, vaga vagamente
parte, penitente...


Ilda Regalato
Portugal


(*) Vagabundas: varejeiras



 rio sem dono

rio sem dono rio barrento rio brando rio bravo rio da dor
rio do amor rio das lavadeiras com suas rodilhas de pano as bacias cheias de roupas o rio doce o rio cercando
o rio lambendo as pedras o rio levando a vida
as lavadeiras cantando ensaboando o cheirinho de lavanda as águas do rio correndo o rio espumando
as   roupas quarando: de vez em quando a correnteza levando uma camisa.
eu feito um cascudo a bater desajeitados os braços e os pés
não fui um menino-peixe
(até hoje não sei nadar)
nem cacei passarinhos...
admirava-me o balanço das águas o vai e vem sem cessar
e o mistério escondido naquela ilha distante:
seria habitada?
por horas eu ficava a cismar chegava o crepúsculo a ave maria...
e a vastidão do céu dentro do meu olhar

Jair Barbosa
Belo Horizonte/MG

  
Recital da Goiabeira.

Eram cacos de acasos.
Pousados na goiabeira.
O tempo, correndo, rio abaixo.
E a sorte, feito sereia,
Riscava silhuetas de afeto
Entre bocas de areia.

Karline da Costa Batista
www.anancara.blogspot.com
Aracati/CE


abismo.

tínhamos: leite, luar e laço
faltava: amor, amora e amasso
restou um                    espaço.



Rafael Luiz Zen
www.rafikizen.blogspot.com.br
Brusque/SC




ENCANTAMENTO

                                    no balde de juçaras
                                    o homem busca
                                    a água de que precisa

                                    no terreno seco
                                    procura o vento

                                    encontra Deus
                                    disfarçado de sabiá


Luiz Otávio Oliani
Rio De Janeiro/RJ

memória afogada

O passado engoliu quase tudo
Não posso nem falar, nem lembrar, nem temer
O passado me roubou a alegria
Não deixou fotos,
Nem histórias ainda por contar
Podia ter roubado minhas lágrimas
e não deixá-las secarem ao sol
e não deixá-las molharem minha alma
Podia ter sido mais condolente
e devolver o que eu perdi
e trazer o que eu amei
Mas deixou apenas a certeza
de que nem tudo se repete
e que a pedra jogada não volta
O passado engoliu quase tudo
Insensível, deixou as lembranças 

Clarice Paes
www.
claricepaes.blogspot.com
Campinas/SP



O POUSO DO HAIKAI

Um poema pousou
na árvore do pensamento
e logo ficou.

Francisco Cleyson de Sousa Gomes
www.saladapoeticalia.blogspot.com
Teresina/PI



ár vore

                               ar ar ar ar ar ar árvore
foice

ar ar ar ar ar árvor
foice

ar ar ar ar árvo
foice

ar ar ar árv
foice

ar ar ár
foice

ar á
foice

...
foi-se

Reginaldo Costa de Albuquerque
Campo Grande/MS

  
Relíquia

Relíquia: deveras é o sentimento guardado...
O que não pode ser expressado...

Quimeras, outroras, remakes, releases  
Unidos por pontos. E as virgulas:
Entrelaçadas...


Robson Leandro Soda
Santa Cruz do Sul/RS


Feriado

Presente cheio de passado.
Afeto extravasado. 
Tempo e espaço para mim.
Livro, música, edredom, amor sem fim. 
Chega de pensar em futuro.
No fundo, nada é seguro. 
Fui morar um tempo dentro do meu coração.
Por favor, não me incomode não. 


Tatiana Wan-Der-Maas Guimarães
Governador Valadares/MG




Nuvens

    Nuvens são crianças.
    Crianças especiais.
    Que um certo dia
    De tanto comerem açúcar,
    Se transformaram em algodão doce!

Tom Vital
Belo Horizonte/MG


  
ALFABETO DO VERDE                                       

Um lagarto carrega os desusos da tarde
ao sol
sobre as pedras do muro.

O pensamento navega entre as fendas,
sob as folhas das trepadeiras,
com sede de entender o alfabeto do verde.

Se o jardineiro hoje vier com a foice
para arrancar as folhagens que dão significado à muralha,
ensinarei a ele:
não se matam essas pequenas paisagens individuais
que emprestam vida aos olhos
na leitura das coisas.

Sérgio Bernardo
Nova Friburgo/RJ

  
COCHICHO

Ela veio caminhando
toda acanhada

querendo me contar as boas novas


Aproximou-se de mim

com as mãos fechadas
diante do rosto

assim, como se trouxesse
só pra me mostrar

ao abrir dos dedos
um vagalume

Rodrigo Domit
Rio de Janeiro/RJ



Poema a Gonçalves Dias

A terra onde havia palmeiras
Hoje tem devastação;
Onde cantava o sabiá
Reina solta a erosão.

Que diria o poeta
Se vivesse para ver
Toda a sua poesia
Neste solo esmaecer.

Com certeza ia chorar
Pela triste imensidão
Pela seca e o deserto

Desencantado por certo
E com dor no coração
Pediria pra não voltar...


Valdeck Almeida de Jesus
Salvador/BA


Transeuntes

Fingimos que dormíamos ao anoitecer
E nossas risadas frouxas quase nos denunciaram,
Mas o velho mundo andava sonolento e não pode perceber
Que o nosso fingimento foi o bastante para ele ser enganado.
Então saímos pelos fundos sem ninguém nos ver,
E corremos bem depressa para longe de tudo que era claro,
Habitamos cada silêncio do desconhecido escurecer
Se alimentando de cada mistérios que nos era dado.
E cada esquina era um palco para você,
E cada sorriso era uma marca que deixávamos.
Fomos adentrando naquela noite sem perceber
Que colhíamos tudo aquilo que nos sonhos havíamos plantado.
Então tornamos depois de muitas voltas a entender
Que todo esse nosso reino era limitado,
A manhã carregada de pessoas estava prestes a aparecer,
E colocar fim em tudo nesse nosso grande achado...
Ei, noite, não se deixe amanhecer,
Que é no silêncio o nosso grande carnaval,
Ei, noite, não abra a porta para aqueles que abortam porquês,
Pois o existencialismo é o nosso assunto principal.


Leonardo Bruno de Araújo Santos
www.facebook.com/araujoleonardo
Arcoverde/PE


  
Visão Nefasta

A luz percorre a iris
E não revela a poesia

A realidade
Corre risco

Rosana Banharoli
Santo André/SP















Simone Pedersen é escritora e escreve para a revista Contemporartes há dois anos. Em outubro publica seu vigésimo livro. Publica para crianças e adultos.

www.simonealvespedersen.blogspot.com





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