Camilo Pessanha
Camilo Pesanha foi um
poeta português, nascido em Coimbra, em 1867, e morto, vítima da tuberculose,
em 1926. Ele possui uma única obra publicada, Clepsidra, sendo considerado o maior expoente do simbolismo
português. A escrita de Camilo Pessanha é marcada pela a ótica da ilusão, da
dor e do pessimismo, bem como pelo exílio do mundo e a desilusão em relação à
Pátria, que passam a impressão de desintegração do seu ser. Vejamos alguns
poemas desse famoso poeta:
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
(PESSANHA, 2009, p. 53)
Notamos
nesse poema uma desilusão quanto à pátria, tida como “um país perdido”. E nos
questionamos: perdido porque corrompido? Perdido devido à perda da glória que
um dia houve, trazida pelas colônias? Ou perdido porque o país afastou-se no
tempo, perdeu-se no espaço e na memória? No caso presente, o termo país poderia
tanto referir-se à terra natal, Portugal, quanto ao mundo em geral enquanto
locais que não despertam nenhum tipo de esperança no sujeito poético que fala.
Por isso mesmo, ele revela que a alma que possui está doentia, por esse motivo,
indefesa, à mercê de todos os medos e anseio que acossam ao homem.
Nos
dois últimos versos, notamos que o eu lírico deseja evadir-se do mundo real,
como alguém que “pudesse deslizar sem ruído”. Em meio à esse anseio, como um
corpo morto, devorado pelos vermes ele deseja “No chão sumir-se”.
Outro
poema de Camilo a ser destacado aqui é “Madrigal”:
Aquela enorme frieza
Não entristeça ninguém...
Ela estende o seu desdém
À sua própria beleza
Quando, solta do vestido,
sai da frescura do banho,
O seu cabelo castanho,
Esse cabelo comprido,
Que frio, que desconsolo!
Deixa ficar-se pendente,
Em vez de feito em serpente,
Ir enroscar-lhe ao colo!
(PESSANHA, 2007, P. 56)
“Madrigal”
é o nome dado a uma pequena composição poética que se celebra a uma mulher, é
uma poesia em que se faz um galanteio. Conhecendo-se o significado do termo
madrigal, juntamente com o poema escrito por Camilo Pessanha, observamos que
ele se refere a uma mulher muito bela, que, no entanto, é fria como o gelo e
desdenha àquele que lhe devota amor.
Na
segunda e terceira estrofes, o eu lírico devaneia imaginando a figura dessa
mulher ao sair do banho, nomeando-lhe os elementos corporais que a tornam tão
bela: o cabelo castanho e comprido”. Esse cabelo que é cantado e exaltado fica
pendente ao corpo da amada, em vez de, como serpente, ir enroscar ao colo
daquela que envenena o sujeito poético com o seu amor. Notamos, portanto, que
não é um amor que dá sede de viver, pelo contrário, ele envenena, retirando,
aos poucos, o ar e a vida do amante rejeitado.
Aqueles
que gostaram dos poemas apresentados na matéria de hoje, podem acessar página da Biblioteca Nacional de Portugal que
possui informações sobre a vida do autor e disponibiliza os poemas por ele
escritos.
Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.
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