sábado, 29 de setembro de 2012

Camilo Pessanha

          

Camilo Pesanha foi um poeta português, nascido em Coimbra, em 1867, e morto, vítima da tuberculose, em 1926. Ele possui uma única obra publicada, Clepsidra, sendo considerado o maior expoente do simbolismo português. A escrita de Camilo Pessanha é marcada pela a ótica da ilusão, da dor e do pessimismo, bem como pelo exílio do mundo e a desilusão em relação à Pátria, que passam a impressão de desintegração do seu ser. Vejamos alguns poemas desse famoso poeta:

Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
(PESSANHA, 2009, p. 53)

Notamos nesse poema uma desilusão quanto à pátria, tida como “um país perdido”. E nos questionamos: perdido porque corrompido? Perdido devido à perda da glória que um dia houve, trazida pelas colônias? Ou perdido porque o país afastou-se no tempo, perdeu-se no espaço e na memória? No caso presente, o termo país poderia tanto referir-se à terra natal, Portugal, quanto ao mundo em geral enquanto locais que não despertam nenhum tipo de esperança no sujeito poético que fala. Por isso mesmo, ele revela que a alma que possui está doentia, por esse motivo, indefesa, à mercê de todos os medos e anseio que acossam ao homem.


Nos dois últimos versos, notamos que o eu lírico deseja evadir-se do mundo real, como alguém que “pudesse deslizar sem ruído”. Em meio à esse anseio, como um corpo morto, devorado pelos vermes ele deseja “No chão sumir-se”.

Outro poema de Camilo a ser destacado aqui é “Madrigal”:

Aquela enorme frieza
Não entristeça ninguém...
Ela estende o seu desdém
À sua própria beleza

Quando, solta do vestido,
sai da frescura do banho,
O seu cabelo castanho,
Esse cabelo comprido,

Que frio, que desconsolo!
Deixa ficar-se pendente,
Em vez de feito em serpente,
Ir enroscar-lhe ao colo!
(PESSANHA, 2007, P. 56)

“Madrigal” é o nome dado a uma pequena composição poética que se celebra a uma mulher, é uma poesia em que se faz um galanteio. Conhecendo-se o significado do termo madrigal, juntamente com o poema escrito por Camilo Pessanha, observamos que ele se refere a uma mulher muito bela, que, no entanto, é fria como o gelo e desdenha àquele que lhe devota amor.

Na segunda e terceira estrofes, o eu lírico devaneia imaginando a figura dessa mulher ao sair do banho, nomeando-lhe os elementos corporais que a tornam tão bela: o cabelo castanho e comprido”. Esse cabelo que é cantado e exaltado fica pendente ao corpo da amada, em vez de, como serpente, ir enroscar ao colo daquela que envenena o sujeito poético com o seu amor. Notamos, portanto, que não é um amor que dá sede de viver, pelo contrário, ele envenena, retirando, aos poucos, o ar e a vida do amante rejeitado.

Aqueles que gostaram dos poemas apresentados na matéria de hoje, podem acessar  página da Biblioteca Nacional de Portugal que possui informações sobre a vida do autor e disponibiliza os poemas por ele escritos.


Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.

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