Antonio Parreiras, pinturas e desenhos na Pinacoteca do Estado de São Paulo





 Está em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo a exposição Antonio Parreiras, pinturas e desenhos com 20 trabalhos, dentre os quais 15 são pinturas e 5 são desenhos a carvão, realizados entre 1887 e 1929. As obras, dispostas em uma sala especial,  pertencem aos acervos da Pinacoteca do Estado e do Museu Antonio Parreiras, primeiro museu brasileiro dedicado à obra de um único artista e que em 2012 comemora 70 anos de existência. Parreiras é um dos ícones da História da Arte Brasileira, sobretudo no contexto da arte acadêmica, tendo uma produção bem prolífica (pintou 850 telas), se aventurou por diversos temas, Pintura de Gênero, Pintura de História, nus femininos, os chamado pompiers, que faziam sucesso nas academias europeias no século XIX e início do século XX, mas ele se consagrou com o gênero da Paisagem, ao qual conferia singular lirismo.
A exposição na Pinacoteca traz marinhas, paisagens, e figuras humanas.




Retrato fotográfico de Antônio Parreiras com boina à francesa, 1895. Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras



Foto de registro de Sete pinturas de Antônio Parreiras na exposição do seu jubileu, na Escola Nacional de Belas Artes. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Escaramuça, Luz Misteriosa, Croquis Defesa de Dourados, Caminho de Itaipu, Interior, A Queimada e Tempo Instável.  Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras.
A foto não integra a mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo



Foto da residência do artista Antônio Parreiras, em Niterói. Hoje o casarão é o Museu Antônio Parreiras. Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras



Antônio Parreiras, Estudo para Cabeça de Onça feito no Museé d'histoire Naturelle-Paris, desenho a carvão sobre papel, c. setembro de 1916, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras



Antônio Parreiras, Estudo para Cabeça de Onça feito no Museé d'histoire Naturelle-Paris, desenho a carvão sobre papel, c. setembro de 1916, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras


Antônio Parreiras, Chaumiere Saint Alpinien (Creuse, França), c. junho de 1919, desenho a carvão sobre papel, c. setembro de 1916, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras




O pintor Antonio Diogo da Silva Parreiras nasceu em 20 de janeiro de 1860 em Niterói, Rio de Janeiro. É considerado um dos maiores paisagistas da história da Arte Brasileira Deixou cedo os estudos para exercer diversas atividades comerciais burocráticas. Iniciou sua formação artística na Academia Imperial de Belas Artes, em 1883, aos 23 anos, já casado com Quirina Ramalho. Parreiras bancou seus estudos na Academia, pois ingressá-la era na maioria das vezes um luxo para poucos jovens. 

Na Academia foi aluno do pintor alemão Georg Grimm,  que inovou os métodos de ensino acadêmico, estimulando os seus alunos a compreender o paisagismo como uma pintura realizada exclusivamente ao ar livre, ou "plein-air", como dizia os franceses de da Escola de Barbizon, contrariando o método formal.


Sua vida como artista profissional inicia-se com uma série de excursões e exposições, até a sua primeira viagem de estudos para a Europa, em 1888. Dois anos depois, de volta ao Brasil, Parreiras realiza várias exposições, ensina na Escola Nacional de Belas Artes, cria a Escola ao Ar Livre, em Niterói, a exemplo da Escola da Boa Viagem, anteriormente liderada por Grimm.



Parreiras viajou por vezes ao continente Europeu, e por lá teve longas estadias, e também pelos Estados Brasileiros. Pintou a diversidade das visadas.


A partir de 1906, Parreiras realiza, por encomenda dos estados brasileiros, numerosas pinturas com temas históricos, como: A Conquista do Amazonas, Proclamação da República de Piratini, Fundação da Cidade de São Paulo e Fundação de Niterói.



Paralelamente viaja com frequência à Europa, mantendo ateliê em Paris e participando dos Salões Societé Nacionale des Beux Arts, no período de 1909 a 1920, chegando a ser nomeado Delegado para a América do Sul. 



Manteve contato com diversos artistas brasileiros e estrangeiros também, com quem teve amizades duradouras. Foi aclamado ainda em vida pela revista Fon-Fon, em 1925. Em 1926 publicou suas memórias ”História de um Pintor Contada por Ele Mesmo”.



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Antônio Parreiras, Ventania, 1888, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo. A paisagem é um dos ícones do acervo do museu paulista e foi concebida na Accademia di Belle Arti di Venezia, quando da estadia do pintor na Itália



Antônio Parreiras, Dia de mormaço, 1900, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo




Antônio Parreiras, Baía Cabrália, 1900, óleo sobre tela, Transferência do Museu Paulista para Pinacoteca do Estado de São Paulo




Antônio Parreiras, Manhã de inverno, 1894, óleo sobre tela,  Transferência do Museu Paulista para Pinacoteca do Estado de São Paulo





Antônio Parreiras, La mia dimora sulle Alpi [Minha casa nos Alpes], 1889 óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Antônio Parreiras, Neve (Suíça), c. 1915, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras





Antônio Parreiras, Casas em Piana (Córsega, França), 1915, óleo sobre tela,  Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras





Antônio Parreiras, Velha casas (Paisagem), 1922, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Antônio Parreiras, Tormenta, 1905, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras. Na tela, o espectador deve atentar como o pintor destaca a paisagem natural soberana, deixando diminutos os casarios e as figuras humanas



Antônio Parreiras, Marinha, c. 1905, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras. Vale destacar as pinceladas abstratizantes que Parreiras usa para formar a paisagem, negando a tradição acadêmica




Antônio Parreiras, Amanhecer no Adriático (Veneza), 1887, óleo sobre tela,  Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras





Antônio Parreiras, Marinha, 1902, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Antônio Parreiras, Marinha, 1911, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



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Antônio Parreiras, Fim de Romance, 1910, óleo sobre tela, Transferência da Secretaria do Interior do Estado de São Paulo para a Pinacoteca do Estado de São Paulo. A obra recria o contexto cultural caboclo, uma visada muito explorada tanto por Parreiras quanto pelo pintor Paulista José ferraz de Almeida Júnior. A cena suscita o fim de um romance, envolvendo um triângulo amoroso, com a morte  de um homem, trágico fim decorrente de uma prática comum antigamente, a do duelo de honra. A obra é uma das mais destacadas da obra de Parreiras e também da arte brasileira do contexto acadêmico




Antônio Parreiras, Leitura Matinal, 1916, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras. O tema da pintura de gênero da mulher leitora é recorrente desde o século XVIII, mas é amplificado no século XIX e XX, o que reflete uma mudança significativa nos hábitos com os livros e maior difusão da imprensa e da cultura livresca




Antônio Parreiras, Morte de Virgínia, 1905, óleo sobre tela, Museu do Estado do Pará. Esta obra não integra a mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo, mas um estudo para ela pode ser visto na exposição. A pintura de Antônio Parreiras recria uma cena do romance iluminista francês publicado em 1787, Paulo e Virgínia, de  Bernardin de Saint-Pierre, momento em que o corpo da heroína, morta em uma tempestade, é trazido para a praia. O romance Paulo e Virgínia relata a história de duas crianças que vivem na Ile de France (posteriormente chamada Ilha Maurício). Oriundas de duas famílias diferentes, são criadas juntas, como se fossem irmão e irmã no esplendor natural do cenário tropical. Quando adolescentes, a mãe de Virgínia, ao perceber um envolvimento amoroso entre o jovem casal, decide mantê-los longe um do outro e a envia para estudar na França. Vários anos mais tarde, Virgínia embarca em regresso à Ilha Maurício, mas o navio que a traz enfrenta forte  tempestade e naufraga, sob o olhar desesperado de Paulo: em pouco tempo ele sucumbe pela perda da amada. No romance de Saint-Pierre revela-se a ideia de uma sociedade natural, não formatada pela cultura e civilização, por influência dos conceitos de Jean-Jacques Rousseau. A civilização racionalista, segundo a tese do romance, fomenta a barbárie entre os homens, a infelicidade e a destruição daquilo de mais íntegro e puro nos indivíduos. O filme norte-americano dirigida por Randal Kleiser, em 1980, A Lagoa Azul, tem sua narrativa em muito assemelhada ao romance de Saint-Pierre.


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La Mort de Virginie, gravura de Marcellin Legrand d’après Michel Lambert (detalhe). Lorient, Musée de la Compagnie des Indes (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Legrand_-_La_mort_de_Virginie.jpg)





Antônio Parreiras, Dolorida, 1909, obra de Parreiras no acervo do Museu Antônio Parreiras (MAP), Niterói, Rio de Janeiro. A obra não integra a mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Na pintura, a figura de mulher nua, deitada, tem seu tronco e sua cabeça encontram-se ligeiramente erguidos, pois está recostada em almofadas. O braço direito encontra-se para trás do corpo e o esquerdo está estendido, tendo na mão um vidro. O seu corpo acha-se ligeiramente virado para o lado esquerdo. A perna direita está sobre a esquerda. Em primeiro plano: panejamento em cor roxa, ao fundo, panejamento em verde e amarelo. A modelo, de sensualidade transbordante, trata de ser a esposa francesa de Antônio Parreiras, Divine. Divine foi modelo do artista quando de sua estadia para estudos em Paris




Antônio Parreiras, Frinéia, 1909, óleo sobre tela, Coleção Particular. A obra, pintada na França, representa a famosa cortesã grega do século IV a.C.




Sobre a protagonista, "(...) sabe-se que serviu de modelo para o grande escultor do período clássico, Praxíteles, que nela teria se inspirado para suas estátuas da deusa Afrodite. E embora seja tão fascinante o episódio no qual o orador ateniense Hipérides conseguiu absolvê-la de graves acusações de obscenidade, por meio do astuto expediente de despi-la diante do tribunal, não foi na narrativa literal — como fez JeanLéon Gérôme (1824-1904), por exemplo — que Parreiras apoiou-se para criar sua obra-prima no gênero do nu feminino. Em sutil metáfora, apenas uma etérea deusa do amor e da beleza, mas uma verdadeira mulher plena de sensualidade, de intensa densidade lasciva muito rara mesmo na arte francesa de então". [1]



A pintura pertenceu ao diplomata e historiador brasileiro Manuel de Oliveira Lima (1867-1928), que viveu em Washington DC, nos EUA. "Quatro anos depois de sua morte, em 1932, a viúva de Oliveira Lima, cumprindo determinação do falecido marido, doou para The Catholic University of America sua extraordinária coleção de mais de 40.000 livros, manuscritos e obras de arte, com uma única e óbvia exceção: Frinéia. A tela foi destinada ao National Press Club -NPC, uma das mais afamadas instituições de imprensa em todo o mundo, fundada em 1908 como entidade exclusivamente masculina. Lá permaneceu exposta por meio século, em local privilegiado para satisfação e prazer de diversas gerações de expoentes do jornalismo norte-americano. Contudo, em 1982, com a admissão de jornalistas mulheres ao clube, prevaleceu uma absurda mistura de puritanismo e ‘correção política’ que conseguiu impor a remoção da magnífica pintura dos salões do clube para um reles depósito. E assim permaneceu oculta e abandonada por dezesseis anos até que, em 1998, consumando-se definitivo ato de ignorância e barbarismo da direção do NPC, foi votado o banimento da obra e sua venda em leilão, o que ainda demoraria oito anos para de fato acontecer...". [2] Entretanto, a obra retornou ao seu país de origem pelas mãos de um colecionador.



Notas:



[1] LEVY, Carlos Roberto Maciel. Odisséia de uma obra-prima 1909-2008, em Antônio Parreiras no século XX, catálogo digital de exposição realizada no Museu Antônio Parreiras, Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Niterói, dezembro de 2008, p.25-27.


[2] Idem, ibidem.


Foi elogiado paisagista, porém criticado por suas pinturas históricas. Tem obras presentes em diversos museus brasileiros e em coleções particulares. Entretanto, a obra de Parreiras teve pouca divulgação após sua morte e sua produção é raramente exposta.

Atualmente o Museu Antônio Parreiras, em Niterói, e antiga residência do pintor,está fechado para a visitação pública, pois passa por um grande projeto de restauro arquitetônico e mudança de plano museológico, e em breve voltará a abrigar o vasto e belo acervo de um dos mais importantes nomes da arte brasileira.


In ars veritas

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Referências Bibliográficas:

ARAÚJO, Marcelo Mattos; et alli. Arte no Brasil - Uma história na Pinacoteca de São Paulo. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2011.

CARDOSO, Rafael. Arte Brasileira em 25 quadros. Rio de Janeiro: Record, 2008.



Para saber mais: 


http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca/default.aspx?c=exposicoes&idexp=661&mn=100

http://www.museusdoestado.rj.gov.br/map/museu.htm

http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%2017%20-%20artigo%206.pdf

http://www.gestaocultural.org.br/pdf/katia-de-marco-antonio-parreiras.pdf


http://www.revistacontemporaneos.com.br/n4/pdf/parreiras.pdf











Mariana Zenaro é graduada e licenciada em História pelo Centro Universitário Fundação Santo André e bacharel em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo, pela Universidade Metodista de São Paulo. Tem Pós-Graduação, MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão, pela Fundação Getúlio Vargas. Frequentou os cursos livres de História da Arte na Escola do Museu de Arte de São Paulo (MASP) por dois anos e meio. Trabalhou em Museus, Arquivos e Instituições Culturais. Foi voluntária no Centro de Documentação e Biblioteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Dá cursos e palestras sobre história da arte em fundações, centros culturais. 




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A ANTROPOMORFIZAÇÃO DE FRANÇOIS ROBERT



Através de suas fotos, Francois Robert nos leva a imaginar diferentes padrões de rostos de maneira lúdica. Fotografando diversos objetos, Francois consegue fazer com que nossas mentes estimulem a interação com as imagens, encontrando sempre um rosto diferente. Já houve , tempos atrás, até uma comunidade no Orkut , chamada “Eu vejo rosto onde não tem” que possuía membros que basicamente enxergavam rostos e faces de pessoas em objetos comuns do dia-a-dia.
Esse fenômeno chama-se pareidolia, para os psicólogos, e envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e com significado. É comum ver imagens que parecem ter significado em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros tantos objetos e lugares. Ela também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se dissessem algo. A palavra pareidolia vem do grego para, que é junto de ou ao lado de, e eidolon, imagem, figura ou forma.



Em situações simples e ordinárias, este fenômeno fornece explicações para muitas ilusões criadas pelo cérebro, por exemplo, discos voadores, monstros, fantasmas, mensagens
gravadas ao contrário em músicas entre outros. O fenômeno psíquico, diante de uma figura com dados aleatórios, pode variar segundo o ângulo do observador. Para uma criança, por exemplo, uma figura notada talvez possua formas que tragam à lembrança animais de estimação, personagens de desenhos animados ou qualquer outra coisa condizente com a faixa etária de compreensão sobre coisas. Para uma pessoa com uma faixa etária superior, a mesma figura assume formas diferentes conforme a capacidade criativa de associação de formas.


Dependendo das figuras observadas, podem assumir um aspecto muito subjetivo que varia de observador para observador ao passo que outras mais claramente nítidas, possuem uma mesma interpretação ótica em comum entre vários observadores. Portanto, muito tem que ver com a condição psicológica de cada observador, do que se passa em sua mente.


Voltando ao nosso fotógrafo, ele retratou na série Faces essa nossa surpreendente capacidade cerebral de formar rostos em objetos comuns. Reconhecendo olhos, bocas e narizes em detalhes de ferramentas, tomadas ou até casas, levando a nossa imaginação a atribuir uma personalidade humana a estes objetos.


Todo mundo, alguma vez na vida, já observou pessoas imaginárias surgindo enquanto olhava para as nuvens. Ou de quantos rostos apareceram numa simples caixa de ferramentas. Eu mesma faço sempre isso, já vi até figuras animadas em azulejos de banheiro, com movimentos, conversas e tudo o mais!


Francois recorda bem o primeiro rosto que viu, era um cadeado, em 1977. Desde então, dedicou-se a registar todos os que encontrava: sorridentes, enigmáticos ou até tristes. O fotógrafo captou este mundo das expressões emocionais formadas pela nossa imaginação, pormenorizando a forma surpreendente como se associa caras humanas a estes objetos. E a verdade é que surgem, como por magia, por toda a parte: estão em casas, ferramentas, tomadas, esfregão ou sapatos.



No livro Face to Face  reuniu mais de 150 fotografias deste projeto. A edição obteve tal êxito que acabou por esgotar e levar a uma nova publicação - Faces da Chronicle Books. Desde 2004, estas imagens já passaram também por várias exposições na Suiça, Alemanha e Holanda. Veja abaixo, mais algumas dessas faces curiosas, captadas pelo fotógrafo:











O fotógrafo François Robert, nascido em La Chaux-de-Fonds, Suíça, é conhecido por seu trabalho comercial. Sua fotografia fine-art é igualmente provocativa e abrange uma ampla gama de assuntos, desde impressões de transferência evocativas Polaroid, fotografias de viagens, e naturezas-mortas. Entre as publicações de Robert estão:  GRAPHIS (artigo) de 1979, antes e depois  o livro 1981, UM DIA NA VIDA DA AMÉRICA (1986), A COR DA MODA (1992), Communication Arts (artigo) de 1988 e GRAPHIS 335, Outono de 2001. Seu livro mais famoso e que foi amplamente vendido na Europa e os EUA foi FACES publicado pela Chronicle Books. Seu livro mais recente é CRUZES publicados pela Graphis. Alguns dos clientes de Robert incluem Crate & Barrel, Coca-Cola, Chicago Board of Trade, a BP, a Sappi papel, Bentley Prince Street, Herman Miller, a Polaroid Corporation, Western Union e Yale Medical School. Francois estudou design gráfico, e atualmente vive nos Estados Unidos.



Fonte: Obvius.






Izabel Liviski é Fotógrafa e doutoranda em Sociologia pela UFPR.
Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem, participa do  Grupo de Estudos de Gênero da mesma universidade.
Escreve a Coluna Incontros, quinzenalmente, às quintas-feiras na Revista Contemporartes.















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Economia solidária e veganismo



Na última sexta-feira, aconteceu uma oficina do Programa Memória dos Paladares com o título "Economia Solidária e Veganismo". A ideia foi discutir a opção de muitas pessoas de optarem pelo vegetarianismo e Veganismo. A oficina aconteceu na UFABC, campus Santo André, no Laboratório-cozinha do Programa.
Por meio de uma roda de discussão, chamado pelos integrantes como "Caldeirão das Memórias", os participantes conheceram um pouco mais da história do veganismo e também explicaram como se deu a transição entre nossa cultura alimentar, que valoriza bastante a carne vermelha, para uma cultura alimentar baseada na opção não só de não se comer carne, mas também seus derivados, ovos, leites, etc. Segundo os participantes, isso foi uma escolha racional, afinal, o sistema montado para a criação e matança de animais é extremamente cruel. O crescimento da população mundial foi um dos fatores citados para se optar pelos vegetais. A criação de gado e outros tipos de animais consome uma grande energia, além de prejudicar o solo dedicados a esse tipo de atividade.
Do ponto de vista da economia solidária, iniciativas como a Casa da Lagartixa Preta, uma espécie de Cooperativa, estabelecida em Santo André, que possui uma horta agroecológica e elabora diversas atividades com o objetivo de promover a colaboração e repensar práticas que agridam o Planeta.
Na segunda parte da oficina, os participantes recitaram músicas e poemas que tinham relação com os alimentos. Percebeu-se uma grande produção musical onde o verbo comer, beber, devorar tem uma conotação metafórica, podendo significar o desejo, a necessidade humana.
O Laboratório-cozinha do Programa Memória dos Paladares continua aberto e pretende, em 2013, continuar com tais iniciativas para refletir sobre práticas alimentares e promover performances artísticas e culturais.
Abaixo, curiosidades sobre o veganismo/ vegetarianismo:






E entre as músicas declamadas, estava essa abaixo (trecho) em que o próprio gosto do amante permanece como sensação, mudando com o decorrer do tempo de amargo para salgado e finalmente doce, em uma contemplação sinestésica dos sentimentos de paixão e desejo expressos pelo sentido do paladar:


Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo.
De amargo, então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve,
Forte, cego e tenso, fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão.
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.


(Daniel Na Cova Dos Leões / Legião Urbana)



SAIBA MAIS
Sobre a Casa da Lagartixa Preta:

A Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa” é um laboratório para nossas práticas e nossos conhecimentos; para desenvolver o que acreditamos ser importante para uma vida autônoma coletiva e para a transformação da sociedade em que vivemos, na medida em que compreendemos que a transformação coletiva e individual não ocorre separadamente, mas são partes complementares entre si.
A Casa é também um espaço de fortalecimento de relações de amizade, onde há a abertura para troca com outros coletivos e indivíduos, um espaço para expor ideias e práticas do coletivo e de outr@s companheir@s que acabam não tendo espaço em outros lugares. Um espaço para experimentar e difundir essa quebra da lógica da nossa cultura não só no meio libertário, mas no bairro, nas nossas famílias, amigos não-ativistas ou militantes e tantos outros.

Outro fator importante de ter um espaço como esse é a aliança com outros grupos. Assim como temos o nosso laboratório e nossa prática, outros grupos também se colocam na construção do seu e, dessa maneira, a troca fica mais palpável, mais prática e mais real. Criando a rede de trocas autônomas e independentes mais rica e mais forte, onde podemos ficar nos outros espaços-laboratório e trocar conhecimentos práticos e receber outros na Casa da Lagartixa para o mesmo fim, fortalecendo nossos laços, nosso conhecimento, nossa prática e nossa autonomia.

Na Casa da Lagartixa Preta...

Tem uma Horta agroecológica. Onde antes havia terra com muito entulho, hoje tem muitas ervas medicinais, temperos, bananeiras, mamoeiro, goiabeira, feijão, milho, couve, hortaliças e muitas plantas espontâneas com as quais sempre aprendemos algo novo.
Tem uma biblioteca onde pretendemos realizar tanto curso de línguas quanto grupo de estudos mais políticos, tudo aberto a qualquer pessoa interessada.
Coletamos água da chuva e usamos para regar a horta e dar descarga no banheiro.
Tratamos a água da pia da cozinha, desviando o cano de saída para um círculo de bananeiras na horta.
Construimos um galpão para guardar todas as ferramentas e o banco de sementes. 

A Casa é autogerida pelo coletivo Ativismo ABC. De acordo com nossos princípios, o aluguel é pago com a realização de uma festa mensal, com as doações de gente que apóia o espaço e com contribuições voluntárias de pessoas que participam do coletivo. Nossas decisões são tomadas por meio do consenso, dando espaço para o erro e o acerto.
Dessa forma nos propomos a construir um outro mundo possível lado a lado a outros grupos e espaços, sejam eles anarquistas, camponeses, moradores do bairro e qualquer outro e outra que acredita ser necessária uma mudança social mais profunda.


Visite a Casa:

Rua Alcides de Queirós, nº 161, Bairro Casa Branca,

Santo André/SP. CEP 09015-550






















Ana Maria Dietrich é coordenadora da Contemporartes- Revista de Artes e Humanidades.
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Estão rolando os dados



Disparam a metralhadora cheia de novidades enquanto o sol vence a cortina. Enquanto o relógio atrasa a hora. Enquanto a tevê acorda o bicho. Enquanto a água ferve o dia.

Enquanto – o homem corre na direção contrária, o pódio não alcança o primeiro lugar, o beijo da namorada vaza nas redes, os ratos enchem a piscina, as ideias desenganam os fatos.

A puta frequenta as festinhas do Grand Monde, o ladrão posa para a capa da revista, a bicha enfeita a missa de domingo, o maconheiro marcha feito soldado cabeça de papel.

Mil rosas são roubadas.

O poeta não exagera mais nas cores, o amor não é mais reinventado, o liquidificador não guarda mais segredos, o herói não morre mais de overdose.

O inimigo está no poder.

E aquele garoto, o doce Zuzinha, não vai mudar o mundo. Não o elegeram chefe de nada. Não o convidaram para o banquete. Não lhe ofereceram nem uma Coca zero.

Por aqui a água ferve, o dia nasce quase feliz. A tevê acorda, o bicho precisa dizer que te ama. O relógio atrasa, a hora faz a vida breve. A metralhadora dispara, o tempo não para.

Não para, não, não para.








Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008) e escreve no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com.br).

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REFLEXÕES NATALINAS

         

PARA REFLETIR UM POUCO E AGIR UM POUCO MAIS


ABRAÇOS LITERÁRIOS, FELIZ NATAL E ATÉ +.


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