sábado, 22 de dezembro de 2012

Antonio Parreiras, pinturas e desenhos na Pinacoteca do Estado de São Paulo





 Está em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo a exposição Antonio Parreiras, pinturas e desenhos com 20 trabalhos, dentre os quais 15 são pinturas e 5 são desenhos a carvão, realizados entre 1887 e 1929. As obras, dispostas em uma sala especial,  pertencem aos acervos da Pinacoteca do Estado e do Museu Antonio Parreiras, primeiro museu brasileiro dedicado à obra de um único artista e que em 2012 comemora 70 anos de existência. Parreiras é um dos ícones da História da Arte Brasileira, sobretudo no contexto da arte acadêmica, tendo uma produção bem prolífica (pintou 850 telas), se aventurou por diversos temas, Pintura de Gênero, Pintura de História, nus femininos, os chamado pompiers, que faziam sucesso nas academias europeias no século XIX e início do século XX, mas ele se consagrou com o gênero da Paisagem, ao qual conferia singular lirismo.
A exposição na Pinacoteca traz marinhas, paisagens, e figuras humanas.




Retrato fotográfico de Antônio Parreiras com boina à francesa, 1895. Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras



Foto de registro de Sete pinturas de Antônio Parreiras na exposição do seu jubileu, na Escola Nacional de Belas Artes. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Escaramuça, Luz Misteriosa, Croquis Defesa de Dourados, Caminho de Itaipu, Interior, A Queimada e Tempo Instável.  Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras.
A foto não integra a mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo



Foto da residência do artista Antônio Parreiras, em Niterói. Hoje o casarão é o Museu Antônio Parreiras. Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras



Antônio Parreiras, Estudo para Cabeça de Onça feito no Museé d'histoire Naturelle-Paris, desenho a carvão sobre papel, c. setembro de 1916, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras



Antônio Parreiras, Estudo para Cabeça de Onça feito no Museé d'histoire Naturelle-Paris, desenho a carvão sobre papel, c. setembro de 1916, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras


Antônio Parreiras, Chaumiere Saint Alpinien (Creuse, França), c. junho de 1919, desenho a carvão sobre papel, c. setembro de 1916, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras




O pintor Antonio Diogo da Silva Parreiras nasceu em 20 de janeiro de 1860 em Niterói, Rio de Janeiro. É considerado um dos maiores paisagistas da história da Arte Brasileira Deixou cedo os estudos para exercer diversas atividades comerciais burocráticas. Iniciou sua formação artística na Academia Imperial de Belas Artes, em 1883, aos 23 anos, já casado com Quirina Ramalho. Parreiras bancou seus estudos na Academia, pois ingressá-la era na maioria das vezes um luxo para poucos jovens. 

Na Academia foi aluno do pintor alemão Georg Grimm,  que inovou os métodos de ensino acadêmico, estimulando os seus alunos a compreender o paisagismo como uma pintura realizada exclusivamente ao ar livre, ou "plein-air", como dizia os franceses de da Escola de Barbizon, contrariando o método formal.


Sua vida como artista profissional inicia-se com uma série de excursões e exposições, até a sua primeira viagem de estudos para a Europa, em 1888. Dois anos depois, de volta ao Brasil, Parreiras realiza várias exposições, ensina na Escola Nacional de Belas Artes, cria a Escola ao Ar Livre, em Niterói, a exemplo da Escola da Boa Viagem, anteriormente liderada por Grimm.



Parreiras viajou por vezes ao continente Europeu, e por lá teve longas estadias, e também pelos Estados Brasileiros. Pintou a diversidade das visadas.


A partir de 1906, Parreiras realiza, por encomenda dos estados brasileiros, numerosas pinturas com temas históricos, como: A Conquista do Amazonas, Proclamação da República de Piratini, Fundação da Cidade de São Paulo e Fundação de Niterói.



Paralelamente viaja com frequência à Europa, mantendo ateliê em Paris e participando dos Salões Societé Nacionale des Beux Arts, no período de 1909 a 1920, chegando a ser nomeado Delegado para a América do Sul. 



Manteve contato com diversos artistas brasileiros e estrangeiros também, com quem teve amizades duradouras. Foi aclamado ainda em vida pela revista Fon-Fon, em 1925. Em 1926 publicou suas memórias ”História de um Pintor Contada por Ele Mesmo”.



Ficheiro:Parreiras-ventania-pinac.jpg

Antônio Parreiras, Ventania, 1888, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo. A paisagem é um dos ícones do acervo do museu paulista e foi concebida na Accademia di Belle Arti di Venezia, quando da estadia do pintor na Itália



Antônio Parreiras, Dia de mormaço, 1900, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo




Antônio Parreiras, Baía Cabrália, 1900, óleo sobre tela, Transferência do Museu Paulista para Pinacoteca do Estado de São Paulo




Antônio Parreiras, Manhã de inverno, 1894, óleo sobre tela,  Transferência do Museu Paulista para Pinacoteca do Estado de São Paulo





Antônio Parreiras, La mia dimora sulle Alpi [Minha casa nos Alpes], 1889 óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Antônio Parreiras, Neve (Suíça), c. 1915, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras





Antônio Parreiras, Casas em Piana (Córsega, França), 1915, óleo sobre tela,  Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras





Antônio Parreiras, Velha casas (Paisagem), 1922, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Antônio Parreiras, Tormenta, 1905, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras. Na tela, o espectador deve atentar como o pintor destaca a paisagem natural soberana, deixando diminutos os casarios e as figuras humanas



Antônio Parreiras, Marinha, c. 1905, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras. Vale destacar as pinceladas abstratizantes que Parreiras usa para formar a paisagem, negando a tradição acadêmica




Antônio Parreiras, Amanhecer no Adriático (Veneza), 1887, óleo sobre tela,  Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras





Antônio Parreiras, Marinha, 1902, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Antônio Parreiras, Marinha, 1911, óleo sobre tela, Pinacoteca do Estado de São Paulo



Ficheiro:Parreiras-fim-de-romance-pi.jpg

Antônio Parreiras, Fim de Romance, 1910, óleo sobre tela, Transferência da Secretaria do Interior do Estado de São Paulo para a Pinacoteca do Estado de São Paulo. A obra recria o contexto cultural caboclo, uma visada muito explorada tanto por Parreiras quanto pelo pintor Paulista José ferraz de Almeida Júnior. A cena suscita o fim de um romance, envolvendo um triângulo amoroso, com a morte  de um homem, trágico fim decorrente de uma prática comum antigamente, a do duelo de honra. A obra é uma das mais destacadas da obra de Parreiras e também da arte brasileira do contexto acadêmico




Antônio Parreiras, Leitura Matinal, 1916, óleo sobre tela, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria do Estado de Cultura, FUNARJ/Museu Antônio Parreiras. O tema da pintura de gênero da mulher leitora é recorrente desde o século XVIII, mas é amplificado no século XIX e XX, o que reflete uma mudança significativa nos hábitos com os livros e maior difusão da imprensa e da cultura livresca




Antônio Parreiras, Morte de Virgínia, 1905, óleo sobre tela, Museu do Estado do Pará. Esta obra não integra a mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo, mas um estudo para ela pode ser visto na exposição. A pintura de Antônio Parreiras recria uma cena do romance iluminista francês publicado em 1787, Paulo e Virgínia, de  Bernardin de Saint-Pierre, momento em que o corpo da heroína, morta em uma tempestade, é trazido para a praia. O romance Paulo e Virgínia relata a história de duas crianças que vivem na Ile de France (posteriormente chamada Ilha Maurício). Oriundas de duas famílias diferentes, são criadas juntas, como se fossem irmão e irmã no esplendor natural do cenário tropical. Quando adolescentes, a mãe de Virgínia, ao perceber um envolvimento amoroso entre o jovem casal, decide mantê-los longe um do outro e a envia para estudar na França. Vários anos mais tarde, Virgínia embarca em regresso à Ilha Maurício, mas o navio que a traz enfrenta forte  tempestade e naufraga, sob o olhar desesperado de Paulo: em pouco tempo ele sucumbe pela perda da amada. No romance de Saint-Pierre revela-se a ideia de uma sociedade natural, não formatada pela cultura e civilização, por influência dos conceitos de Jean-Jacques Rousseau. A civilização racionalista, segundo a tese do romance, fomenta a barbárie entre os homens, a infelicidade e a destruição daquilo de mais íntegro e puro nos indivíduos. O filme norte-americano dirigida por Randal Kleiser, em 1980, A Lagoa Azul, tem sua narrativa em muito assemelhada ao romance de Saint-Pierre.


Ficheiro:Legrand - La mort de Virginie.jpg

La Mort de Virginie, gravura de Marcellin Legrand d’après Michel Lambert (detalhe). Lorient, Musée de la Compagnie des Indes (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Legrand_-_La_mort_de_Virginie.jpg)





Antônio Parreiras, Dolorida, 1909, obra de Parreiras no acervo do Museu Antônio Parreiras (MAP), Niterói, Rio de Janeiro. A obra não integra a mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Na pintura, a figura de mulher nua, deitada, tem seu tronco e sua cabeça encontram-se ligeiramente erguidos, pois está recostada em almofadas. O braço direito encontra-se para trás do corpo e o esquerdo está estendido, tendo na mão um vidro. O seu corpo acha-se ligeiramente virado para o lado esquerdo. A perna direita está sobre a esquerda. Em primeiro plano: panejamento em cor roxa, ao fundo, panejamento em verde e amarelo. A modelo, de sensualidade transbordante, trata de ser a esposa francesa de Antônio Parreiras, Divine. Divine foi modelo do artista quando de sua estadia para estudos em Paris




Antônio Parreiras, Frinéia, 1909, óleo sobre tela, Coleção Particular. A obra, pintada na França, representa a famosa cortesã grega do século IV a.C.




Sobre a protagonista, "(...) sabe-se que serviu de modelo para o grande escultor do período clássico, Praxíteles, que nela teria se inspirado para suas estátuas da deusa Afrodite. E embora seja tão fascinante o episódio no qual o orador ateniense Hipérides conseguiu absolvê-la de graves acusações de obscenidade, por meio do astuto expediente de despi-la diante do tribunal, não foi na narrativa literal — como fez JeanLéon Gérôme (1824-1904), por exemplo — que Parreiras apoiou-se para criar sua obra-prima no gênero do nu feminino. Em sutil metáfora, apenas uma etérea deusa do amor e da beleza, mas uma verdadeira mulher plena de sensualidade, de intensa densidade lasciva muito rara mesmo na arte francesa de então". [1]



A pintura pertenceu ao diplomata e historiador brasileiro Manuel de Oliveira Lima (1867-1928), que viveu em Washington DC, nos EUA. "Quatro anos depois de sua morte, em 1932, a viúva de Oliveira Lima, cumprindo determinação do falecido marido, doou para The Catholic University of America sua extraordinária coleção de mais de 40.000 livros, manuscritos e obras de arte, com uma única e óbvia exceção: Frinéia. A tela foi destinada ao National Press Club -NPC, uma das mais afamadas instituições de imprensa em todo o mundo, fundada em 1908 como entidade exclusivamente masculina. Lá permaneceu exposta por meio século, em local privilegiado para satisfação e prazer de diversas gerações de expoentes do jornalismo norte-americano. Contudo, em 1982, com a admissão de jornalistas mulheres ao clube, prevaleceu uma absurda mistura de puritanismo e ‘correção política’ que conseguiu impor a remoção da magnífica pintura dos salões do clube para um reles depósito. E assim permaneceu oculta e abandonada por dezesseis anos até que, em 1998, consumando-se definitivo ato de ignorância e barbarismo da direção do NPC, foi votado o banimento da obra e sua venda em leilão, o que ainda demoraria oito anos para de fato acontecer...". [2] Entretanto, a obra retornou ao seu país de origem pelas mãos de um colecionador.



Notas:



[1] LEVY, Carlos Roberto Maciel. Odisséia de uma obra-prima 1909-2008, em Antônio Parreiras no século XX, catálogo digital de exposição realizada no Museu Antônio Parreiras, Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Niterói, dezembro de 2008, p.25-27.


[2] Idem, ibidem.


Foi elogiado paisagista, porém criticado por suas pinturas históricas. Tem obras presentes em diversos museus brasileiros e em coleções particulares. Entretanto, a obra de Parreiras teve pouca divulgação após sua morte e sua produção é raramente exposta.

Atualmente o Museu Antônio Parreiras, em Niterói, e antiga residência do pintor,está fechado para a visitação pública, pois passa por um grande projeto de restauro arquitetônico e mudança de plano museológico, e em breve voltará a abrigar o vasto e belo acervo de um dos mais importantes nomes da arte brasileira.


In ars veritas

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Referências Bibliográficas:

ARAÚJO, Marcelo Mattos; et alli. Arte no Brasil - Uma história na Pinacoteca de São Paulo. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2011.

CARDOSO, Rafael. Arte Brasileira em 25 quadros. Rio de Janeiro: Record, 2008.



Para saber mais: 


http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca/default.aspx?c=exposicoes&idexp=661&mn=100

http://www.museusdoestado.rj.gov.br/map/museu.htm

http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%2017%20-%20artigo%206.pdf

http://www.gestaocultural.org.br/pdf/katia-de-marco-antonio-parreiras.pdf


http://www.revistacontemporaneos.com.br/n4/pdf/parreiras.pdf











Mariana Zenaro é graduada e licenciada em História pelo Centro Universitário Fundação Santo André e bacharel em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo, pela Universidade Metodista de São Paulo. Tem Pós-Graduação, MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão, pela Fundação Getúlio Vargas. Frequentou os cursos livres de História da Arte na Escola do Museu de Arte de São Paulo (MASP) por dois anos e meio. Trabalhou em Museus, Arquivos e Instituições Culturais. Foi voluntária no Centro de Documentação e Biblioteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Dá cursos e palestras sobre história da arte em fundações, centros culturais. 




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