TV 2.0



A coluna Drops Cultural recebe a colaboração do repórter Felipe Menicucci refletindo sobre a relação entre as mídias sociais e a televisão. 

Hoje, o ato de sentar no sofá, pegar o controle remoto e ligar a TV não vem sozinho. A cada zapeada na programação, o perfil nas redes sociais é sempre atualizado. A necessidade de assistir está acompanhada da vontade de comentar.

Uma pesquisa internacional, feita em 40 países, mostra que 62% das pessoas estão conectadas enquanto assistem à TV. No Brasil, esse índice ultrapassa a média e chega a 73%. Entre os assuntos mais comentados, as novelas, programas de TV aberta e seriados ocupam os primeiros lugares. Esses dados indicam que mudamos a forma como nos relacionamos com a TV. Ao invés de meros espectadores, queremos participar, mudar o final do capítulo ou ser compartilhado por mais pessoas.

Sabendo desse novo filão, as emissoras não deixam barato. Muitos programas de entretenimento permitem a participação ao vivo via twitter. No jornalismo, a participação do telespectador ajuda na elaboração de pautas e sugestão de temas. Os famosos “povo-fala” hoje são feitos pela internet. Comunidades e grupos no facebook ajudam jornalistas em busca de fontes. A parceria informal entre jornalista e telespectador cria um novo vínculo com o telejornal: a partir do momento em que você ajuda a produzir o conteúdo, fideliza a audiência.

Se a internet complementa a forma como a TV se organiza, um mérito é dado exclusivamente aos fenômenos virtuais: a notícia mudou de formato. Novidades, fatos inéditos são repassados, primeiramente, nos 140 caracteres. Depois, passam na telinha. A agilidade da internet forçou a TV a ser mais reflexiva. Por exemplo: do twitter vem a notícia de um acidente de carro. Na TV, mais tarde, a apuração detalhada: o trecho da pista é o mais perigoso, falta sinalização, o asfalto é ruim e a prefeitura não reforma há anos.  

Se os livros estão em risco, como dizem, essa é uma preocupação que a TV não precisa ter. Muito pelo contrário. Enquanto muita gente investe nas telas com muitas polegadas, outros se dão por satisfeito com uma antena no celular e um pacote de dados 3G. O suficiente para uma curtida instantânea.   


Felipe Menicucci é bacharel em Comunicação Social/ Jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é repórter da TV Integração, afiliada da Rede Globo. 
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Mulher, sejas a minha perdição



Excepcionalmente hoje publicaremos um texto do Espaço do Leitor.


mulher, hoje eu não quero
o teu bom comportamento,
não quero tua preocupação,
a tua ruga preocupada...
... quero-te liberta e com brilho,
dançarina de mil portos
em corpo sem inocência.
quero-te a dama altiva,
aquela que olha e sorri,
se entrega e vibra.
quero-te aquela
que pede e implora,
depois...
possui e devora
e sorri do amante.
quero-te inconstante
a beijar com olhos
de ternura,
a oferecer-se com loucura,
a gemer a excitação.
mulher, eu não quero a tua compostura,
não quero a tua blusa de botões,
não quero véus sobre o teu quadril!
não me importa a tua dúvida e o teu medo...
quero-te nua, livre de todos os pejos
a brincar de sedução.
não sejas, hoje, a puritana
e não permitas que seja aquela de um toque apenas
e não ruborizes se te parecerem obscenas
as minhas provocações.
sejas a amante voluntária
aquela que passeia e envolve em tua teia
este pobre vil encantado
que deseja, de teu corpo, todas as sensações.
mulher, de que vale a castidade,
o temor, o pudor na paixão?
se os teus seios enrijecidos,
são atrevidos como a flor em botão?
se teus olhos estão a brilhar
cobertos de um leve orvalho?
se o teu sexo é rósea flor umedecida...
vem! quero de tua pele a suavidade,
de teus lábios ânsia e ardor
e deixar nos teus seios as marcas
do calor dos meus beijos aquecidos.
vem! queira-me!
exija que eu passeie em teu ventre as minhas mãos
e, como se fosse eu, um renegado bandido,
me peça que faça amor contigo
como um condenado em busca de salvação.
mulher,
eu não quero o teu bom comportamento,
a tua boa compostura...


Daufen Bach. Poeta, escritor, antologista, promotor cultural e editor da Revista Biografia.
Servidor Público do Estado de Mato Grosso e um apaixonado pela cultura Matogrossense.
Se auto intitula Poeta Matogrossense. Possui os blogs: Omnia Vincit Amor e o Folhetim Papo de Esquina.


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Brian Setzer Orchestra e o Neo Swing

  

Bem, já se passou o Natal, mas não quero de forma alguma perder a efeméride, pois o que tenho para apresentar a vocês nesta edição de Vozes, caros leitores, é nada menos do que um show natalino da Brian Setzer Orchestra (BSO), intitulado Christmas Extravaganza.
Fundada no início da década de 1990, por Brian Setzer, importante referência da cena Rocker (também chamada de Rockabilly) por causa de sua banda anterior, a Stray Cats, a BSO procura reavivar o espírito das Big Bands de Swing, que fizeram grande sucesso nos Estados Unidos, especialmente, entre as décadas de 1930 e 1940. Atualmente, a BSO e bandas similares, como Big Bad Voodoo Daddy, criaram um movimento cultural que ficou conhecido pelo nome de Neo Swing. A diferença de um (o da década de 1940) para ou outro (o da década de 1990) é a inclusão, neste último, de elementos musicais do rock contemporâneo, como a guitarra com som distorcido e a fusão com outros estilos musicais, como o Ska.

A edição que irei apresentar foi gravada no Universal Amphitheatre localizado em Universal City (California – EUA), em 18 de dezembro de 2004 e lançado em DVD pela Surf Dog Records, no ano seguinte. O DVD também acompanha o Making Of do espetáculo.

O repertório mistura canções icônicas da cultura Rocker como o cover Jump Jive and Wail, originalmente composta pelo cantor e trompetista ítalo-americano Louis Prima, com canções de autoria do próprio Stray Cats (Rock This Town e Rumble in Brighton), além de versões rockabilly de canções natalinas, como a tradicional Jingle Bells.
Bem, não quero me alongar muito, por que a ideia desta edição é apresentar mais música do que texto. Feliz Natal (atrasado, mas de coração) e um sensacional 2013 !!!!

Abaixo, segue o vídeo e o setlist do show.



01 - Dig That Crazy Santa Claus [2:51] 
02 - This Cat's On a Hot Tin Roof [3:05] 
03 - Boogie Woogie Santa Claus [5:37] 
04 - The Dirty Boogie [3:16] 
05 - Winter Wonderland [2:58] 
06 - Sleigh Ride [2:40] 
07 - Santa Claus is Back in Town [4:29] 
08 - Everybody's Waitin' for the Man With the Bag [3:13] 
09 - Caravan [3:18] 
10 - Pipeline [:01] 
11 - Stray Cat Strut/ You're a Mean One, Mr. Grinch [1:59] 
12 - Jump Jive An' Wail [:49] 
13 - 'Zat You Santa Claus? [5:17] 
14 - Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow! [5:21] 
15 - Run Rudolph Run [3:18] 
16 - Gene & Eddie [2:14] 
17 - Blue Christmas [3:43] 
18 - Jingle Bell Rock [4:54] 
19 - Rat Pack Boogie [3:18] 
20 - Fishnet Stockings [2:26] 
21 - Rock This Town [3:44] 
22 - Nutcracker Suite [3:54] 
23 - Rumble in Brighton [7:55] 
24 - Gettin' in the Mood [8:11] 
25 - Jingle Bells [3:54]

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Luz, câmera e ação




        Hoje, véspera de natal, vamos falar de poesia... mas a poesia que nasceu nas grandes telas. Passearemos pelo nascimento das imagens cinematográficas e seus inventores.

        A data é 28 de dezembro de 1895 e o lugar é o Salão Indiano do Gran Café, nº 14 do Boulevard des Capucines, em Paris. Neste dia 33 espectadores puderam assistir, pasmos, às primeiras projeções de imagens realizadas pelos irmãos Lumière: um trem que a estação chegava. França, o berço de diversos outros movimentos, contribuiu também, ao fim do século XIX, com o que hoje conhecemos como Cinema. É evidente que se formos buscar uma origem precisa, assim como todos os inventos, temos em inúmeras partes do mundo e diferentes tempos, inventores e estudiosos que já se detinham desta busca pela projeção de imagens em movimento. Um ano antes dos Lumière, Thomas A. Edson, nos EUA, inventou o Kinetoscope, era uma caixa com cerca de 15 metros de filme, que girava em alguns tambores. Uma pessoa olhando por um pequeno orifício poderia ver as imagens em movimento que ali apareciam. 

       Contudo, Edson, acreditando que seria algo passageiro, não patenteou o invento, economizou cerca de R$ 300,00 (com referências atuais) necessários para os direitos internacionais. (Temos aqui um claro exemplo da importância de se ter os direitos sobre o que você produz) Dois anos depois, Edson tomou ciência da importância do feito e continuou a invenção. No que se refere a narrativa do cinema, foi George Méliès o primeiro a tomar frente de um cinema que, não apenas mostrou o cotidiano, mas inovando e incrementando com histórias, o primeiro que se tem notícias. 

       Com os irmãos Lumière o cinema encontrou sua forma de captar imagens em movimentos e trazer isso pra realidade, enquanto com Méliès, o cinema se viu diante sua vocação, tornar sonhos em realidade. Foi este que levou ao público as primeiras projeções em que as pessoas podiam sonhar em ir a Lua, por exemplo, (Le Voyage dans la lune - Viagem à Lua, 1902). Imaginem que aqui temos uma realidade no fim do século XIX, assim, seria o mesmo se comparássemos nossa realidade (século XXI) com carros voadores que pudéssemos comprar com mais acessibilidade. 

     Foi com esse alvoroço que as salas de cinema; com um pianista, um projetor e um narrador; começavam a ter mais frequentadores. “Viagem à Lua”, narra a história de 5 astrônomos que vão à Lua e são capturados por selenitas. A história do filme de Méliès foi baseada em um livro de Jules Verne (1828-1905), um escritor francês considerado o precursor do gênero ficção científica. Nessa simples história, Méliès inclui o imaginário, e começa a desenvolver técnicas de cinema que até hoje são utilizadas: fusão, sobreposição, exposição múltipla de imagens… Evidente que esses recursos foram se aperfeiçoando ao longo dos tempos e hoje conhecemos o cinema tal como ele é.

     Deixo vocês com o curta-metragem de Meliès, desejando a todos um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações! Nos vemos em breve!






Renato Dering é escritor, mestre em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como Professor em Literatura pela Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí. Desenvolve pesquisas na área de Literatura e Cultura, Contística, Literatura Brasileira Contemporânea e Cinema.



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“O Auto da Compadecida”: A arte e sua função histórico-social.




“O Auto da Compadecida”, obra que atraiu deslumbrantemente um grande público, foi aproveitado não só para o teatro que é uma manifestação artística da antiguidade clássica, como também na arte contemporânea (televisão e cinema). A representação da divindade por Ariano leva a população brasileira a uma reflexão e resgate de valores etnológicos, criando por meio disso uma realidade atual, uma vez que os cidadãos brasileiros precisam se conscientizar de que é necessário se libertar do preconceito e assumir que o sangue negro circula nas veias deste povo.
 
Esta é uma obra de fundo popular e religioso, encenada pela primeira vez em 1955, e que, embora seja contemporânea apresenta grande carga semântica ao representar a divindade por meio de um Deus Negro, além de mostrar as desigualdades  sociais de uma realidade marcada por sertanejos e coronéis. Desta forma a literatura busca, com base em um contexto histórico, analisar os pontos fulcrais de uma sociedade. Ela não só nasce vinculada a certa realidade mas também pode interferir nessa realidade, auxiliando no processo de transformação social.

“A literatura tem sido, ao longo da história, uma das formas mais importantes de que dispõe o homem, não só para o conhecimento do mundo, mas também para a expressão, criação e re-criação desse conhecimento. Lidando com o imaginário, trabalhando a emoção, a literatura satisfaz sua necessidade de ficção, de busca de prazer. Conhecimento e prazer fundem-se na literatura, e na arte em geral, impelindo o homem ao equilíbrio psicológico, e faz reunir as necessidades primordiais da humanidade: a aprendizagem da vida, a busca incessante, a grande aventura humana.” (VIEIRA, 1978)

            Dentre os pontos comuns entre as expressões artísticas, o principal é a própria essência da arte, ou seja, a possibilidade de o artista recriar a realidade, transformando-se em criador de mundos, de sonhos, de ilusões, de verdades. O artista tem, dessa forma, um poder mágico em suas mãos: o de moldar a realidade segundo suas convicções, seus ideais, sua vivência.

            O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar assim se manifesta sobre essa transformação simbólica do mundo:
“A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado – por cima da realidade imediata.Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das idéias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo”.(GULLAR, Ferreira. 1982)



O homem, como ser histórico, tem, anseios, necessidades e valores que se modificam constantemente suas criações entre elas a literatura – refletem seu modo de ver a vida e de estar no mundo. Assim, ao longo da História, a literatura foi concebida de diferentes maneiras. Mesmo os limites entre o que é e o que não é literatura variaram com o tempo. Literatura é a arte que utiliza a palavra como matéria prima de suas criações. A literatura (re)cria a realidade, utilizando suas próprias convenções e cada obra representa um modo particular de ver a realidade.       

            A obra “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna, possui uma preocupação estética, provocando prazer, entretenimento e cultura por sua forma, conteúdo e organização, sendo assim, uma expressão do homem com seus anseios e frustrações por meio da antítese (vida e morte), uma forma privilegiada de comunicação, ao explorar todas as potencialidades da linguagem. Ela busca o essencial, o universal, contribuindo ricamente para a formação dos homens, indicando-lhes modos de agir, retratando-os em seus desejos, angústias e prazeres. Desse modo, faz com que o homem se conheça cada vez melhor, e ao produzir modificações nas mentalidades, contribuindo para a transformação coletiva e individual.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. 2ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1980.
WITTGENSTEIN, L. Estética, psicologia e religião. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1966.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª ed. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1975.
GULLAR, Ferreira. Sobre arte. Rio de Janeiro: Avenir; São Paulo: Palavra e Imagem, 1982

Alice Vieira. O prazer do texto – perspectivas para o ensino de literatura. São Paulo: E.P.U., 1978 – p. XI.)








Luis Henrique de Oliveira é graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora, professor titular da FaSaR- Faculdade Santa Rita e professor do ensino médio na rede pública e privada de ensino.










Eliane Aparecida Goulart Mendes é mestre em letras pela UninCor e professora da Faculdade e colégio Santa Rita-FaSar.



A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.



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