sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eros

Coluna às Horas
“Jung observou que, se alguém procurava seu consultório queixando-se por um motivo sexual, o verdadeiro motivo muitas vezes era mais um problema do espírito e da alma. Quando uma pessoa relatava um problema de natureza espiritual, muitas vezes era na realidade um problema de ordem sexual. Nesse sentido, a sexualidade pode ser imaginada como um bálsamo para o espírito, sendo, portanto, sagrada. Quando o riso sexual é medicinal, ele é um riso sagrado. Quando o riso ajuda sem prejudicar, quando ele alivia, reorganiza, põe em ordem, reafirma a força e o poder, esse é o risco que gera a saúde (...)”

In. Mulheres que correm com lobos.



Será por isso, que as pessoas riem menos hoje? Sim, há uma maior liberdade sexual, mas o erotismo foi deixado de lado, não esse erotismo que a mídia vende e cobra caro, mas aquele erotismo relacionado ao amor, a descoberta, a total entrega, com o outro, o respeito por si e pelo outro.

As pessoas riem menos atualmente e quando o fazem não é o riso que cura e um riso vazio. Como aquilo hoje se entende por sedução, erotismo, sexualidade hoje tudo isso é aparentemente liberdade (hipocritamente), na verdade, o falso moralismo está mais vivo e atuante que nunca. Somos tão reprimidos e cobrados sexualmente como séculos atrás. A mulher precisa posar de Princesa a espera de seu Príncipe de cavalo branco e o homem precisa pegar todas as mulheres que puder, para poder satisfazer sua parceira, ele precisa treinar sempre, constantemente, enquanto a mulher precisa se deixar seduzir e receber as carícias de seu homem, embora deva se mostrar tão sedutora quando a Mulher Gato, a Tigresa de Caetano ou a ninfeta Lolita, a mulher não pode agir como tal, mas como uma gatinha de pêlo branco e macio que ronrona baixinho quando recebe um afago na barriguinha rosada.

Tal atitude apenas faz com que homens e mulheres esqueçam do fundamental, de sua essência, que somos frutos do desejo sexual de nossos pais. Do erotismo aflorado deles (por mais que para alguns seja difícil entender isso), que sem o desejo, sem o erotismo se quer existiríamos.

A sociedade atual reprime nossas Baubos, a sexualidade Sagrada dos seres humanos. Só que tem uma coisa, cedo ou tarde ela retorna, aflora ou simplesmente explode, por ser inerente a todo e qualquer Ser, o humano é que se julgando racional reprime o que há de mais genuíno, sua natureza. Fica separando amor e erotismo, como se fosse possível. O que não é todo tipo de amor tem em si a sedução e erotismo, até mesmo as amizades, um amigo seduz o outro mostrando o que julga ter de melhor ao outro; até nesse tipo de relação o Eros se faz presente. A diferença é que numa relação de tipo o encantamento não se desfaz não se cobra muito de um amigo, o aceitamos como é. Agora já com nossos amores a história é bem diferente...

Transferimos para o outro nossas frustrações, anseios; queremos que se torne um outro ser e o pior é que idealizamos isso, idealizamos aquilo que gostaríamos de ser, como se o outro tivesse função de tal ato, de nos servir satisfazendo-nos plenamente como se tivéssemos num harém, digo isso não somente no tocante ao sexo, mas também moralmente e socialmente.

Alguém já parou para se perguntar por que geralmente escolhemos criaturas bem diferentes de nós? É simples, buscamos no outro aquilo que não somos daí surgem às frustrações, os príncipes e princesas, tornam-se o que sempre foram. Os culpamos quando na verdade, o mundo de Oz foi criado por nós mesmos. O outro geralmente não importa muito, somente o EU, amamos a nós mesmos. Criticamos Narciso, mas somos iguais ou piores que ele. Narciso amou a si, mais que qualquer outro, por isso se afogou e nós? Amamos a nós mesmos e ainda tentamos transformar o outro em nós mesmos, só que isso é impossível e o mais complicado é que não há lago ou rio para nos afogarmos. Por isso nos afogamos na troca de pseudos amores.

Quem sabe esteja na hora de pararmos de olhar o espelho, para televisão, outdoors e olhar para o lado, para o Ser Humano que está a seu lado, olhar e enxergar o SER COMPLETO que está ali. Um Ser que ama e sim tem desejo, as mulheres possuem a deusa Baubo e os homens o Coiote Dick, aliás, cada ser possui ambos em seu interior. Chega dessa hipocrisia, somos os dois, e amamos SIM! Não há amor sagrado ou profano, o amor é Sagrado e Profano, um não pode existir sem o outro.

Nenhum Ser Humano é uno e imutável. Vivamos, gozemos a vida. É como dizia Carlos Drummond de Andrade, “amar... se aprende amando...” e eu completo o encaixe só se faz perfeito... Praticando...



Giliane escreve todas as sextas-feiras no ContemporArtes

rockgirl611@hotmail.com

2 comentários:

Rosana disse...

Gi, você como sempre me encanta. Você diz com harmonia aquilo que calo, reprimo. que ele texto seja devorado por todos os contemporates e muito mais.

25 de outubro de 2009 às 01:26
Ana Dietrich disse...

Gi, falou e disse, assino embaixo. a relação de amor hj em dia carece de espaço na sociedade contemporânea... q quer tudo no fastfood... mas, tem uma corrente de resistência a isso e aos tais sexismos disfarçados que vc. denuncia na sua bela crônica...essa corrente nos faz termos esperança ainda... bjs e viva EROS

30 de outubro de 2009 às 00:25

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