terça-feira, 3 de novembro de 2009

Bar ContemporARTES - ATITUDE POÉTICA











...palavras on the rocks, bacos e apolos, poetas e prosadores, anjos e demônios fazem encontros marcados para essa conversa de bar virtual. Sempre às 3a. feiras no ContemporARTES






Olá, caros e baratos. Está ficando divertido este troço do papel aceitar tudo.
Eu demorei muito pra ter tempo+vergonha na cara pra escrever o que ocupava minha cabecinha. Agora tenho um espasmo atrás do outro. Vamos ver até onde isso vai molhar.
Bom, para falar de ATITUDE POÉTICA, você vai precisar ter lido antes minha tese de bar intitulada AUTOSABOTAGEM. Sim, porque não dá pra repetir o que fazer se você ainda for o maior sabotador de si mesmo. Lamento, agora só posso me voltar aos resolvidos, (mesmo um semi-resolvido, neste país, já ajuda um bocado). Não importa ser um fodido de grana ou de família, a questão da A.S. precisa ter ficado pra trás. Certo, Joe?

ATITUDE POÉTICA. Atitude política. Atitude ecológica. Atitude anarquista. Atitude punk. Atitude religiosa. Atitude educacional. Atitude rock n’ roll. Atitude correta. Atitude teen. Atitude hippie. Atitude médica. Atitude social. Atitude transcendental. Não. Apenas ATITUDE POÉTICA.
Uma atitude de mudança de horizontes implica necessariamente no fato de não estar mais contente observando as coisas do mesmo lugar. É preciso estar cansado, ou aborrecido, ou simplesmente com coceira, para usar a tecnologia dos dois pés e sair do transe da imobilidade.
Às vezes, só atravessar a rua opera uns milagres.
Depois que se realizou com sucesso a primeira parte da operação, o ser individual estará a um passo de realizar a coisa por si mesmo, sem necessidade de maiores leituras. Isso porque está prestes a realizar a primeira e exclusiva leitura de um livro imenso e aberto, ainda não publicado: a realidade.
O excesso de idealismo é enxugado toda vez em que sujamos as pontas dos dedos com o quadro vivo da humanidade. Se for esperto o bastante para absorver o antídoto, sem deixar cair o corpo inteiro no rio Real, você não perderá a utopia – que não foi morta nem está descartada, e ainda é de grande utilidade.
O processo transformador continua se houver algo de insano e desmedido em seu interior. Se não houver, é mais provável que atravesse a rua de novo, retorne para seu antigo lugar e se contente em ver passar a repetição do filme.

A ATITUDE POÉTICA não é a publicação de um livro. Também não tem nada a ver com levantar um papel colado numa madeira e gritar frases de ordem. Muito menos em associar-se com grupos isolados do mundo, encher a cabeça com náusea de gente, escondendo sua covardia ou complexo infantil de superioridade.
A Atitude Poética é uma atitude de um Corpo Vivo. De uma organicidade constante na poesia. É sempre natural e não obedece comandos. Não precisa de fax, de celular, de fios, de nada para se fazer atuante e presente.
Quase sempre a Atitude Poética vem acompanhada de um profundo mal-estar com o Estado, mas ela não precisa ser espancada para depois aparecer nos jornais.
A Atitude Poética autêntica sempre ultrapassa o vitimismo e o ressentimento. Ela sequer se contamina com o cheiro podre que sai das salas de reunião, ela atravessa os dutos debaixo das solas dos indiferentes.
Notem: toda vez que um dirigente qualquer da arte direciona seu olhar para o ser das Atitudes Poéticas, ele exala constrangimento, num misto de vergonha com repulsa. Tenho visto muitos abaixarem a cabeça, quase que imperceptivelmente, e isso me traz um prazer incalculável – enfim o carrasco reconhece seu algoz.

Na Atitude Poética o que conta é esta ausência de reclamação com um fortíssimo ungüento para as feridas dilaceradas. Um grande berro recheia o sorriso malicioso. Esta combinação paradoxal de brio próprio com o uivo da miséria, é que torna a contemplação da Atitude Poética ao mesmo tempo uma revelação sublime para alguns e uma visão insuportável para os burocratas da cultura.
Vale lembrar que a Atitude Poética às vezes vem disfarçada de ignorância e adolescência. Mas nem sempre esta embalagem limitada é suficiente para desmerecer o conteúdo catastrófico que a Atitude Poética vem detonar.
Toda Atitude Poética põe o mundo (interior e exterior) em movimento. Toda Atitude Poética quer modificar os ares. Toda Atitude Poética se alia com o não dito para se fazer audível.
Porém nem toda atitude poética quer ser notada. Muitas ações alcançaram maior impacto nas retinas dançando suavemente na poeira do vento.

A Atitude Poética nunca é adiável, nunca é antes da hora ou “para ontem”. Ela é de sua própria maturação, só pertence ao seu tempo orgânico, à sua rota. Ela pode encarar uma gestação por duzentos anos, mas quando chega seu lançamento no mundo, não se intimida nem receia – simplesmente sai e faz o que tem de fazer.
A Atitude Poética lança sempre importância para o que estava esquecido e sobrepujado. Por isso, ela tem tanto a ver com os humilhados. Mas ela não veste a roupa de soldado, indigente ou escravo. Ela se impõe sem necessidade de cultuar sua pobreza ou marginalidade.
A Atitude Poética mais amadurecida entende que nada está absolutamente marginalizado, mas interligado pelas ações e reações contínuas. O Todo respira no viés do Todo.

A Atitude Poética não quer salvar ninguém. Seu maior compromisso é com o fluir – conectando-se com a Vida, a própria Atitude Poética deixa de ser intitulada ou pensada, torna-se um modus operandi. E quando se vê, já não se consegue viver de outra forma.
A Atitude Poética enraíza o ser na mutação inimaginável dos Corpos do Universo, preservando-o da degradação cotidiana.
Para realizar uma Atitude Poética não é preciso andar quilômetros, descer a serra do mar, muito menos apenas comprar um par de óculos com lentes cor de rosa.
A Atitude Poética não precisa ser defendida por nenhum advogado. Ela é sentida como uma urgência do ser cansado-atrofiado, olhando a rua do mesmo lugar.

Algo sempre acontece no movimento.

Atitude ecológica-política ou bio-energética ou punk-religiosa ou anárquica-inventiva. Todos os nomes, mix ou nenhum.

MAIS Atitude Poética.






Mônica Rodrigues é atriz, diretora de teatro, arte-educadora e mãe.

1 comentários:

Beth Brait Alvim disse...

quase a hora dita morta; mas ainda é horário de verão. que febre essa mania/imposição.olha, fidelia, como não sei o que fazer com essa tesis, googlei e te achei, maravilhoso amor.
efervesçaassimemmimmesalve.que texto porra diboooommmmm!!!! um ca´pitulo pórnto pra USP, usp!
vais ao B_arco-é assim a porra do nome do bar que 'levantará' piva TAMBÉM?????????? OU JÁ FOI???? se não, vamos juntas e loucas e belas? em atitude poética!!!!!!! começo em março as 'disciplinas' para abordar na academia a indisciplina poética.besos

11 de fevereiro de 2010 às 23:56

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