quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Luz... câmera... som!!!


Pode ser que você não goste de filmes violentos, desses que só falta espirrar sangue no público. Talvez também não goste filmes de gangster, de kung-fu ou de guerra. Quem sabe seja por isso não goste dos filmes do roteirista, diretor e produtor estadunidense Quentin Tarantino. Tudo isso faz sentido, e por saber que esta coluna se direciona a falar da obra dessa cultuada e polêmica personalidade, você não chegue ao segundo parágrafo. De uma coisa é certa, você já deve ter se perguntado, mesmo que inconscientemente: será que sou eu o problema?

Se este é o seu caso, talvez devesse se apegar a um fator que também é uma marca e um ponto forte de Tarantino: a trilha sonora. Ele sabe preparar um "set list" como ninguém. Como já havia comentado na coluna anterior, eu costumava gravar para amigos uma fita K-7 com uma seleção bem variada que dizia algo sobre a personalidade da pessoa. Fazia isso muito antes de assistir Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000) filme inspirado na obra homônima de Nick Hornby. Pois bem, o diretor faz o mesmo com os seus filmes, todos com características próprias. Grande sacada da Ann Donahue, que publicou na revista Billboard Brasil um artigo sobre os dotes de disc jockey de Tarantino (tem a versão original em inglês no sítio www.billboard.com). Na seqüência aponto meus filmes favoritos acompanhados de algumas músicas para nossa coletânea. E como diriam os locutores antigamente: "atenção para apertar o REC e o PLAY...".


Em Cães de aluguel (Reservoir Dogs, 1992), primeiro filme de Quentin Tarantino como diretor, já evidenciaria uma marca das suas trilhas: o funk da década de 1970, jogando pelos alto-falantes do cinema muito groove e swing. Não deixe de escutar a faixa "I Gotcha" de Joe Tex. Também não passa em branco "Stuck In The Middle With You", de Stealers Wheel e "Little Green Bag" de George Baker Selection. Uma outra marca que ficaria para os discos seguintes seriam os diálogos disponíveis entre uma faixa e outra. Na atuação, destaque para Tim Roth, Harry Keitel e Steve Buscemi.

Em Assassinos por natureza (Natural Born Killers, 1994) é Oliver Stone quem dirige o roteiro de Tarantino. E da história inspirada em Bonnie and Clyde podemos incluir na nossa seleção "Shitlist", da banda grunge L7, nesse embalo vamos de "Rock N Roll Nigger", da ícone punk Patti Smith, "Sweet Jane" da inspiradíssima Cowboy Junkies cantando um clássico do Velvet Underground, a canção folk "You Belong To Me" de Bob Dylan em começo de carreira e mais acústico do que nunca. Abrindo alas o electro-punk "Burn" do Nine Inch Nails e "Born Bad" da atriz, protagonista do filme Juliette Lewis.



O filme Pulp Fiction (1994) foi coroado com a Palma de Ouro em Cannes e com o Globo de Ouro e o Oscar de roteiro original, além de indicações como melhor diretor nessas premiações. Não é para menos, se existe uma lição-de-casa cinematográfica, essa obrigação se chama Pulp Fiction – Tempos de Violência. E se você escutar a trilha sonora antes mesmo de assistir ao filme, vai entender do que estou falando, pois faixa a faixa Tarantino se supera. Esse disco é histórico, chegou até a figurar nas paradas da revista Billboard. A abertura tem a cara do diretor, que manda logo de cara a surf music "Misirlou" de Dick Dale. Uma pitada de funk "Jungle Boogie" do Kool & the Gang e soul com "Let's Stay Together" do Al Green. "Girl, You'll Be a Woman Soon" do Urge Overkill virou hit na época e a cena da dança entrou para a história do cinema, quando John Travolta e Uma Thurman sacolejam embalados pelo rock´n´roll "You Never Can Tell" de Chuck Berry.

Numa toada semelhante vem Kill Bill (Vol. 1, 2003; Vol. 2, 2004) e Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009) com Ennio Morricone, o mestre na arte de compor trilhas sonoras, "Il Tramonto", "L'Arena" e "A Silhouette of Doom" surgem na dupla jornada de Uma Thurman. Enquanto "The Verdict (La Condanna)", "The Surrender (La resa)", "Un Amico" e "Rabbia e Tarantella" estão no filme que conta com a presença de Brad Pitt.

Muitas outras não comentei, mas poderiam muito bem estar na "Comunidade Sonora" como "Cat People (Putting Out Fire)" do David Bowie, "Bang bang (my baby shot me down)" da Nancy Sinatra, "Woo hoo" The 5.6.7.8s, "A Satisfied Mind" Johnny Cash, "Bustin' Surfboards" The Tornadoes, "Son of a Preacher Man" Dusty Springfield e por aí vai... Tente gravar essas músicas num disco, será uma excelente coletânea para ser tocada em festas e reuniões de amigos.






Cícero F. Barbosa Jr., mestrando em História pela PUC/SP, bacharelando em Letras pela USP, músico e artista, escreve às quartas-feiras quinzenalmente no ContemporARTES.

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