sábado, 14 de novembro de 2009

Contradição excitante dos POETAS alucinados apaixonados pelo Pouco

Coluna Aline Vilaça

Não quero o simples,
Não quero a infantilidade pueril ingenuamente ignorante;
Quero o complexo.
Quero a contradição excitante dos poetas alucinados e apaixonados pelo pouco,
Quero o que apreende,
O que prende a atenção.
Não quero o simples.
Quero o que instiga meu intelecto de irracionalidade lógica empírica.
Quero o que supera
O que arde.
Quero o que faça do imaterial matéria,
E do devaneio romântico realidade.
Eu quero o que invade o coração com cólera.
E o que supera a objetividade mesquinha superficial sem fadiga.                              
Quero o que complica,
O que desespera,
O que fere a razão, com furor do sensível.                                                    
Quero o que adere
O que se mistura
O que permeia
O que confunde
Quero o que de homogêneo ao meu sangue, embebido em minh´alma, misturado em meu calor,
Escorra em meu suor e não saia,
Que densifique minhas lágrimas à rolar, mas não as percam
Quero o que me chicoteie de paixão e me dê Vida,
Quero o amor.
Isso mesmo que entendeu
Quero a ARTE!!!


Serze Vilaça.







Deixei a vocês (acima) meu atual maior desespero, desespero este, aflito do tipo que dói e machuca, não desespero como peço no poema, aquele desespero que catalisa as boas ações, e sim um desespero que me faz feito Hilst implorar para todos permitam “que se fale do amor”, assim deixo a vocês versos de Hilda, que me confortam, por não me sentir a última romântica...







Falemos do amor, senhores,
Sem rodeios.
[assim como quem fala
Dos inúmeros roteiros
De um passeio].
Tens amado? Claro.
Olhos e tatos
Ou assim como tu és
Neste momento exato.
Frio, lúcido, compacto
Como me lês
Ou frágil e inexato
Como te vês.
Falemos do amor
Que é o que preocupa                                                                                 
Às gentes.
Anseio, perdição, paixão
Tormento, tudo isso
Meus senhores
Vem de dentro.
E de dentro vem também
A náusea. E o desalento.
Amas o pássaro? O amor?
O cacto? Ou amas a mulher
De um amigo pacato.
Amas, te sentindo invasor
E sorrindo
Ou te sentindo invadido
E pedindo amor. (sim?
Então não amas, meu senhor)
Mas falemos do amor
Que é o que preocupa
Ás gentes: nasce de dentro
E nasce de repente.
Clamores e cuidados
Memórias e presença
Tudo isso tem raiz, senhor,
Na benquerença.
E é o amor ainda
A chama que consome
O peito dos heróis.
E é o amor, senhores,
Que enriquece, clarifica
E atormenta a vida.
E que se fale do amor
Tão sem rodeios
Assim como quem fala
Dos inúmeros roteiros
De um passado.
  


  Hilda Hilst




 Referência bibliográfica:


HILST, Hilda. Do amor contente e muito descontente. apud Exercícios organização e plano de edição Alcir Pécora. São Paulo: Globo, 2002. 


Aline Serzedello Vilaça escreve aos sábados, quinzenalmente, no ContemporARTES

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