sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O dia D

Coluna As Horas
Com passos apressados ia para o ponto de ônibus, ia com o pensamento no que o rádio dissera sobre seu signo... O sol está em Marte, hoje é um ótimo dia para os negócios, grande chance de resolução de problemas financeiros e familiares... Hum, problemas dentro de casa é tão triste..., mas não se preocupe tudo será resolvido, senão hoje, ao menos hoje um caminho se abrirá e você poderá escolher o que melhor lhe parecer. No amor, se você ama e não é correspondida, HOJE, suas chances estarão mais forte, pois você e a pessoa amada estarão em perfeita sintonia então aproveite e não deixe a chance passar... Mais sorte com pessoas de capricórnio, seu número hoje é 48...

Palavra por palavra vem em sua mente... Então hoje conhecerei meu grande e verdadeiro amor - disse consigo e sorriu e só então pensou como o reconheceria?! Mas seu ascendente Áries não a deixaria desistir, pois todos sabem que Áries é o signo que lidera os demais signos do zodíaco, sorriu novamente enquanto apertava a pasta em seu colo. Começou a observar atentamente os transeuntes, alguns lhes sorriam,eram altos, baixos, gordos, magros, falsos magros, morenos, loiros ruivos, negros, brancos, pardos, amarelos, nem um nem outro, então pensou como iria identificar seu amado?...

A voz de sua amiga Ângela soa à suas costas e a conversa começa e segue animada, em dado momento o assunto horóscopo é abortado, Camila o defende com unhas e dentes, enquanto Ângela o critica e numa tentativa de pôr fim na discussão e sair vitoriosa questiona:

Ah, é?! Então diz como é que você vai saber que é o certo?! Hein?! - e como a outra ficasse calada - vai provar um por um?! - disse com risinho irônico de satisfação.

- Eu v...

- Olha lá meu ônibus... Tchau... E boa sorte hein!!! - enquanto corria para entrar no ônibus, que já estava lotado.

- Bem feito! - disse para si sorrindo, enquanto via o ônibus se afastar com sua “amiga” espremida na roleta - se não ficasse falando bobagens, agora estaria sentada ou pelo menos perto da porta.

Minutos após o embarque de Ângela, seu ônibus se aproxima, ela o vê dobrar a esquina e vendo que havia outro ônibus parado, sabe que o seu deverá parar um pouco mais para trás, então vai para trás do primeiro ônibus, enquanto a maioria espera onde está mesmo e não dá outra, seu ônibus pára de portas aberta bem no local em que Camila estava que entra triunfante para sentar-se no banco depois da portas traseira, do lado da janela, assim era mais fácil para descer e evitava a esbarração do corredor.

Como todos os dias, pouco pontos depois o ônibus estava realmente lotado,se uma sardinha enlatada ali entrasse,ia querer voltar correndo para lata... Foi quando ela o viu tentando abrir caminho na multidão, até que muito educado, com uma mão segurava na barra de alumínio e na outra segura uma pasta preta com fecho dourado e no bolso um celular... Ele veio, veio e chegou onde Camila estava sentada, que prontamente pediu para segurar a pasta, ele agradeceu com um sorriso, deixando-a encantada, com seus lábios finos e dentes perfeitos, passou a fitá - lo de esguelha e a cada parada sentia um misto de ansiedade e angústia, pois ele poderia descer a qualquer momento.

Ônibus seguia seu caminho sua angústia só fazia aumentar, seu ponto estava chegando... Então aconteceu,o lugar a seu lado ficou vago e ele sentou, pegou sua pasta, agradeceu e por alguns instantes ficou quieto, enquanto Camila queria fazer perguntas, detê-lo de algum modo:

- Cheio o ônibus não?

- Todo dia é isso, já estou acostumada - olhou para ele e pode ver a cor de seus olhos; eram castanhos e notou que ele não possuía nada de especial em seu rosto, apenas a sombra de uma barba.

- Faz tempo que não ando de ônibus... -ela nada respondeu, mas sentiu seu perfume - meu nome é Carlos e o seu? - parecia meio sem jeito.

- Camila... - com um risinho nervoso - você trabalha por aqui? - enrubescendo

- Trabalho, na vila São João...

- Olha, eu também...

- Na Rua Capricórnio, não vai dizer que... - vendo sua companheira arregalar os olhos - que coincidência - o ônibus parou num farol

- Trabalho numa livraria

- Na Carlos Drummond de Andrade?

- É. - extasiada

- Eu trabalho num escritório ali perto e sou um freqüentador assíduo e nunca a vi trabalhando...

- É que entrei há pouco tempo... Há dois dias.

- Então está explicado...

O ônibus agora andava no ritmo de uma tartaruga reumática e preguiçosa, devido a um acidente, mas nenhum dos dois se importou. Aproveitaram para conversar sobre o tempo, o país, trabalho (o que cada um fazia e como fazia), amigos (até tinham um ou dois em comum), amores perdidos, filhos, sobre a vida e a morte, sobre tudo e nada. Após um pequeno desvio o ônibus voltava a rodar com maior liberdade e dois pontos depois, Camila e Carlos deveria, descer e seguir caminhos opostos e ante a eminência do fato se calam; ela agora olha pela janela de vidro sujo de poeira e outras coisas; ele olha para os outros passageiros, para o teto, para as lâmpadas apagadas, para o cobrador que limpava as unhas com um canivete.

Por fim ele levantou deu sinal e desceu sendo seguido por Camila, despediram-se deram alguns passos contrários, quando Carlos volta-se correndo até ela:

- Posso convidá-lá para um café - olhando para o relógio - ainda temos tempo - em resposta Camila sorri e seguem... O ônibus do qual acabaram de descer está parado no farol:

- 0048 - falou sorrindo

- O que disse?

- 48... O número do ônibus - ele não entendeu - qual seu signo?Adicionar imagem

- O quê?! - ainda sem entender

- Qual seu signo?

- Leão... E o seu?

- Câncer... - ele sorriu

-Sabe hoje ouvindo rádio, uma astróloga disse que hoje seria um perfeito para encontrar a pessoa certa, pois estaríamos em perfeita sintonia...

- É mesmo... - atônita

- É... Mas ela estava errada... Você é de Câncer e ela disse que seria com alguém de capricórnio...

- Para mim disse a mesma coisa...

Estancaram o passo, sorriram e seguiram um só caminho.

Giliane escreve semanalmente no ContemporArtes

rockgirl611@hotmail.com

2 comentários:

Ana Dietrich disse...

gi, vc. mata a pau... querida... poxa, qtos amores que estavam escritos nas estrelas e deixamos passar...
bjsssssssssss

6 de novembro de 2009 às 15:06
Rosana disse...

Grande Gi!

6 de novembro de 2009 às 15:42

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