quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O imaginário Hippie e a Contracultura dos anos 60 – a contribuição de Hair (III Parte)




Coluna Ana Dietrich

Ana Maria Dietrich, editora-chefe da Contemporâneos-Revista de Artes e Humanidades, escreve às quartas-feiras quinzenalmente no ContemporARTES. contemporaneosufv@yahoo.com.br




por Larissa Geórgia Bráulio Moura /Talita Sauer Medeiros

Um dos mais importantes movimentos musicais que marcaram a contracultura nos anos 60 foi o Festival de Woodstock foi o mais importante festival de rock and roll de sua época. Realizado em uma fazenda em Bethel, Nova Iorque, reuniu num final-de-semana mais de 400 mil pessoas, num espaço originalmente montado para receber 50 mil. Foi o marco do movimento da contracultura e naquela ocasião promoveu grande polêmica pelos propósitos levantados: os ideais de paz e amor, defendendo o sexo livre e condenando a Guerra do Vietnã. Foi um protesto contra uma sociedade americana tradicionalista, inspirada pelo desejo de controle.

O evento em si provocou grandes confusões em toda a sua extensão, com rodovias congestionadas e Bethel sendo ocasionalmente considerada "área de calamidade pública". Entretanto, foram as revelações de grandes artistas como Jimi Hendrix e Janes Joplin, uma das maiores contribuições do festival. O Woodstock representou a grande expressão da contracultura dos anos 60, e foi o auge da era hippie. Ainda haveria outros festivais (como o de Altamont, com 300 mil pessoas), mas nenhum com a força de um Woodstock.

Era um momento de profunda crítica social e política por parte principalmente dos jovens, que sintetizavam sua contestação em manifestações como as que pregavam o pacifismo hippie. Em grandes festivais como Woodstock, as pessoas se encontravam e experimentavam o coletivismo, ao mesmo tempo em que protestavam contra a intervenção dos Estados Unidos na guerra do Vietnã (ibid, 2005.p71).

A Guerra do Vietnã foi um conflito armado entre o Vietnã do Norte (socialista) e Vietnã do Sul (capitalista) que ocorreu entre os anos de 1958 e 75.

Os Estados Unidos se envolveram no conflito com o pretexto de um ataque norte-vietnamita aos seus navios USS Maddox e USS C.Turney Joy enquanto patrulhavam o Golfo de Tonquim em julho de 1964, mas hoje em dia especula-se que o ataque tenha sido uma ação do governo norte-americano usada como pretexto de intervir no Vietnã. A entrada norte-americana no conflito, na verdade, se deveu a tentativa de conter o avanço do comunismo, já que os vietnamitas do norte queriam unificar o país sob um regime socialista.

A proposta de uma pequena intervenção acabou por gerar um conflito longo, com a duração de dezessete anos. A participação crescente dos EUA na Guerra e a brutalidade e inutilidade dos bombardeios aéreos fez com que surgisse na América um forte movimento de contraposição à guerra, impulsionado pelo movimento hippie. Como forma de protesto o visual colorido se opunha as discretas roupas tradicionalmente utilizadas pelos soldados e os cabelos longos se consagraram em oposição ao corte militar curto. As barbas compridas que também compunham o visual negavam de vez o estilo tradicional dos soldados e o uso de drogas os libertava das preocupações momentâneas.

A existência de indivíduos que não se adequavam à sociedade de consumo e se posicionavam contra a Guerra do Vietnã, a favor dos negros e acima de tudo, contra os valores estabelecidos, era um fator que realmente estarrecia a tecnocracia norte-americana. O Central Park foi o palco de inúmeras manifestações, em que eles pregavam o sexo e amor livres, o fim da Guerra do Vietnã, discursavam a favor das igualdades de direitos e em contraposição ao ocidentalismo. No filme Hair o ideal de ir à guerra movido por um sentimento de patriotismo é paulatinamente desconstruído (ibid. 2005.p73).


Dentro deste contexto, o filme Hair apresenta-se como o ideal hippie de crítica à sociedade sob a forma de arte através do cinema. Originalmente, o filme baseia-se em um musical da Broadway, de 1967 escrito por James Rado, Gerome Ragní e Galt MacDermo. O musical foi em cena nos EUA quase duas mil vezes, tendo sido recriado em diversas cidades e países como Los Angeles, Austrália, México, Áustria, Grã Bretanha e Brasil. Em Nova York, Hair provocou controvérsias e descontentamentos que se expressaram através das críticas dos setores mais conservadores da sociedade que se opunham as cenas de nudez e as apologias ao uso de drogas. Em outros países como a Grã Bretanha, México e Brasil o musical também teve problemas com a censura.

A versão cinematográfica de Hair foi produzida em 1979 e dirigida por Milos Forman e embora o roteiro do filme tenha se baseado no espetáculo, as duas versões se diferem muito, inclusive no enredo, na ordem das músicas, por quem são apresentadas e na maneira como os personagens são apresentados. Mesmo assim, a intenção e a essência do movimento hippie encontram-se preservadas nas duas versões, que demonstram a preocupação dos jovens dessa era com a coletividade, o rompimento de convenções familiares, bem como a liberdade sexual, a falta de moradia, o uso de drogas e a crítica à Guerra do Vietnã.


O filme conta a história de Claude Bukowisk interpretado por John Savage, um jovem do Oklahoma que foi recrutado para a guerra do Vietnã. Em Nova York, onde passa os últimos dias antes do alistamento, encontra-se com um grupo de hippies comandados por George Berger (Treat Williams), que “como seus amigos têm conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e tenta convencê-lo dos absurdos da atual sociedade”. Lá Claude se sente envolvido pelo novo mundo que lhe é apresentado, principalmente quando se apaixona por Sheila (Beverly D'Angelo), uma jovem de família rica. Sheila representa no filme o conservadorismo da sociedade americana em voga na época, mas que cai por terra ao se deixar influenciar pela turma de George Berger.


Larissa Géorgio Bráulio Moura, licenciada em História pela Universidade Federal de Viçosa, atual aluna do curso de Pós Graduação Lato Sensu História - Evata
Talita Sauer Medeiras, licenciada em História pela Universidade Federal de Viçosa, atual aluna do Bacharelado da mesma universidade.

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