segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Segunda Poética

Dreams


sonho que

não sai

envolto em

si mesmo iluminado

cristalino preso

em seu próprio

brilho

sonho melhor

aquele que

perfeitamente é

o mais completo

e exato

sem exceder

nem faltar

tudo que poderia

e necessita

a existência

quer dizer:

a inexistência

como maior virtude

distinto capricho

porque o mais incrível

(e por isso, tão

magnífico) é

que nunca será

porque existir

é perder a existência

deixar de ser

abandonar a essência

sua luz o que o

configura

e caracteriza

o vivo das chamas

sonho perfeito

que será sempre

porque não é


pássaros brincam

na chuva
meninos também


parecem não querer

voltar a seus ninhos


preferem voar (livremente)

usufruindo o espaço


o peso da água nas asas

não preocupa, brincam de

forma ingênua


os meninos também:

mas com prazo determinado

para terminar


pássaros são apenas

pássaros


meninos querem voar

igual pássaros


uns provavelmente

vão querer ir longe demais


e poderão acabar por

comprometer (de forma

drástica), suas liberdades


Piano


pétalas que pousam

brindando, com um

pulsar leve e vigoroso

de delicada e deliciosa

sutileza de perfeição

escolhendo, com precisão

de paciente maestria,

a dedos, traços de cores

neutras, que colorem

com suaves reverberações

sonoras, extraídos de

tal instrumento

invadindo e

inundando a todos

irritando completamente

qualquer pretensão

de silêncio, vestindo com

harmoniosa habilidade

: música e poesia

confundindo por inteiro

todo o ambiente



Figuras


adoro essas imagens

: a palavra quando

não consegue dizer

o que pretende

a folha se move

ao vento

e isto é apenas

um acontecido

nenhum enigma

ou dia que se abre

gradativo, invólucro

se descortinando

para existir,

lugar para ser

ou sol queimando

tudo bem antes

do meio dia

um estalido qualquer

deflagrando um

temporal de coisas

em meio a este

imenso universo

de situações





Hélio Neri é poeta, nasceu em Santo André (SP), em 1973. Publicou as plaquetes, “Avulsos” (2002), edição do autor, “Sombra das Coisas” (2003), “Registro” (2005), “Febre” (2006) e o livro de poemas “Anomalia” (2007), pela Alpharrabio Edições.
Publicou poemas nas revistas, A Cigarra, de Santo André; revista de Arte e Agitação Sem Futuro; na revista Não Funciona – nº. 12 –; no Jornal O Casulo; no site da revista Zunai; no site da revista Celuzlose; no site da revista Trópico, crítica literária, poesia à margem, por Heitor Ferraz.
Colaborou com o poema, Um sol que nada explica, para Paulo Leminski, no livro “A linha que nunca termina” – pensando Paulo Leminski – (2004), Lamparina Editora, organizado por André Dick e Fabiano Calixto.
Coordenou o projeto Vozes Próprias, na Casa da Palavra, em Santo André e, atualmente prepara um novo livro de poemas, com o título de Palavra Insubordinada.

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