Segunda poética
PorRosana Banharoli - poeta e jornalista
Hoje, Carlos Eduardo Marcos Bonfá
PROVINCIANO
Não a experienciei.
A luxúria da preguiça me invade.
Preguiça de província onde,
Mesmo trabalhando, progredindo,
Ainda se vive.
Meu spleen é só um marzinho de tédio.
Cosmopolita é meu discernimento;
Mas meu corpo,
Meu desejo,
Minha natureza
Pedem menos.
Assombrado por infinitos,
Odeio tudo que seja demais.
Minha cabeça se entusiasma com chapéu,
Mas minhas narinas se acostumaram com esterco.
O mato, sem querer, estimulou minha sensibilidade.
A mim, que a natureza provoca calafrios.
Meu carro ultrapassa charretes.
O punk tira leite da vaca da pequena fazenda de seu pai.
Aspirante a erudito,
A falta de erudição me contenta.
Não preciso conhecer muita gente.
Não enfrento o mundo,
Mas tento enfrentá-lo quando me enfrenta.
Viver é outra coisa.
É essa outra coisa que eu vivo.
Cidade, para mim,
É lugar de se encontrar.
Ao desconhecido da cidade grande,
Prefiro o mistério da existência.
Aqui,
Sustento meu mistério
Sem maiores mistérios.
A PONTE
A lida
E
O prazer,
A arte.
Assim,
Sempre
Licorosa transgressão
A ação
De elaborar
Sons,
Palavras.
Assim,
Ponte
A ponta
Do iceberg.
O que não tem nome.
Não me caibo
De tanto ressaibo.
Falo, mas só assobio.
Ressumo
O
De alguns nomes
Que, só som,
Incomodam e atemorizam.
E ainda há
Contas a prestar
À realidade.
Alguns astros
Têm de cair na Terra.
Ressupinado,
Pressiono o chão
Com as palmas da mão
Carlos Eduardo Marcos Bonfá é mestre em Estudos Literários (Letras) pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, sendo graduado em Letras na mesma instituição acadêmica. Nasceu em Socorro (SP), em 1984. Publicou a obra Ossos e ervas (2002). Participou de antologias e publicou em sites e revistas eletrônicas, acadêmicas e especializadas, entre elas “A Cigarra” e “Travessias”. Mantém um blog no seguinte endereço: www.carloseduardobonfa.blogspot.com
Endereço eletrônico: ce.bonfa@terra.com.br
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