terça-feira, 8 de dezembro de 2009

EROTISMO E PORNOGRAFIA

Bar ContemporARTES










...palavras on the rocks, bacos e apolos, poetas e prosadores, anjos e demônios fazem encontros marcados para essa conversa de bar virtual. Sempre às 3a. feiras no ContemporARTES






Sexualidade é um componente fundamental de todo ser humano, mas o homem, ser cultural condicionado pelo trabalho, tem a necessidade de equilibrar as forças do impulso sexual, direcionando-as para formas socialmente aceitas, que tornem possível a vida em comunidade. Freud chama de libido essa energia primária de natureza sexual, orientada pelo princípio do prazer, que se encontra numa instância da personalidade chamada id. O contato com as normas sociais, no entanto, determinam a formação do superego, que apreende do mundo externo o princípio do dever, relacionado às regras sociais. Essas duas instâncias prazer x dever, geram um conflito no indivíduo, que é resolvido pelo ego. A resolução pode ser o cumprimento do prazer, a anulação ou o adiamento dele. Com o surgimento da cultura ( aqui entendida como transformação do mundo natural pelo homem, através do trabalho), essa energia sexual primária desviada de sua origem, passa a ser utilizada em outros campos, tais como: o jogo, a produção artística, etc. É essa energia que nos permite encontrar prazer em outras atividades que não necessariamente as sexuais. Observamos então que a sexualidade humana não é puramente biológica, como ocorre com os animais, embora a atividade sexual seja comum em todos os seres que se reproduzem, no homem ela tem um sentido de busca psicológica. O erotismo é uma forma de estimular o impulso sexual que se relaciona com a alegria e a invenção.

Para o filósofo Georges Bataille, a força do erotismo está na vontade que o homem tem de unir-se a outro de forma completa, já que todos temos a consciência de sermos seres descontínuos, isolados no mundo. É sob esse aspecto que ele traça uma relação direta entre morte e erotismo, para o homem a morte, destino inevitável, é a única continuidade possível do ser, isso significa que somos todos iguais nesse momento, que nos tornamos unos. O encontro erótico possui o poder de nos dar essa sensação de continuidade, a partir do momento em que a descontinuidade dos corpos e da individualidade parece dissolvida. Além disso, o erotismo é o desejo que triunfa da proibição e há um encantamento na transgressão das normas que, como vimos, nos são impostas socialmente e geram conflitos internos nos indivíduos.

Já a pornografia pode ser considerada como um tipo especial de erotismo, mas essa distinção só surgiu na sociedade moderna e se vincula tanto a fatores morais (como a desvalorização do corpo em relação ao espírito, propagada pelo platonismo e pelo cristianismo, que só permite o sexo no casamento, com finalidades reprodutivas) como aos valores relacionados à sociedade de massa, que transformou tudo, inclusive corpos e relacionamentos em mercadoria, retirando o aspecto sagrado da união sexual, e nesse sentido, cabe uma reflexão a respeito dos valores que permaneceram após a “Revolução sexual” e a “Contracultura”, se ela nos legou uma verdadeira liberdade, ou se foi assimilada pelo mercado e retornou como imposição de um padrão comportamental. Do ponto de vista visual, há um reforço no conteúdo mais explícito da pornografia e mais implícito do erotismo, no reforço pornográfico da relação genital sem envolvimento, sem compromisso e sem afeto, que enfatiza o prazer solitário masturbatório, evitando o requinte criativo, a profundidade e o clima de paixão sempre presentes no erotismo, impondo um padrão único de beleza, que direciona o desejo e a imaginação. O erotismo também se relaciona com uma estética sexual, mas vale recordar que etimologicamente a palavra estética vem do grego “aisthesis”, com o significado de “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante”. O objeto artístico é aquele que se oferece ao sentimento e à percepção, nesse sentido ele tem um caráter de experiência única, artística, que não pode ser comercializada em massa e que não reforça o individualismo, mas a busca pela completude do ser.






Vanessa Molnar é historiadora(USP); cursa Literatura Comparada Africana(USP); autora do livro Crônicas de uma Tara Gentil (PAC/SP); conselheira em Literatura no CMC/SA e está gravidíssima.

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