terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O ACIDENTE

Bar ContemporARTES













...palavras on the rocks, bacos e apolos, poetas e prosadores, anjos e demônios fazem encontros marcados para essa conversa de bar virtual. Sempre às 3a. feiras no ContemporARTES



Estava extremamente difícil cruzar aquela densa floresta. Com tantas árvores gigantescas, o piloto mal enxergava os poucos raios de sol que teimavam abrir passagem por entre as folhagens das copas. Apesar da sombra, o calor era tanto que beirava o insuportável, nem mesmo o equipamento de auto-climatização corporal era páreo para aquela estufa verde. Contudo, a sorte lhe sorria, visto que havia conseguido pousar a nave inteira depois daquela terrível tempestade gravitacional e também por tê-lo feito num planeta de incrível semelhança com a sua terra. Se continuasse assim, seriam boas as chances de encontrar uma jazida do mineral TL para a alimentação do propulsor da espaçonave. Tudo seria mais fácil, entretanto, se não precisasse ter usado a energia de seu equipamento de levitação para carregar a nave até um lugar seguro, visto que o dispositivo de camuflagem dela havia sido danificado com o impacto.

Não podia deixar de pensar nos companheiros que haviam perecido. Estava sozinho. Era imperativo retornar rapidamente com o minério, do contrário o equipamento de criogenia se desligaria e ele não mais poderia manter os corpos na nave, teria de abandoná-los, enterrados neste planeta desconhecido. Ocorreu-lhe nesse momento que, devido à pane dos equipamentos de localização cósmica no momento do turbilhão, não saberia dizer em que sistema solar ele se encontrava.

Doze horas parcecs caminhando em mata fechada. Durante essa jornada havia se deparado com exóticos, e enormes, seres interessantes, sobre os quais logo percebeu tratar-se de animais irracionais. Ficou intrigado com relação ao atual estágio de evolução daquela esfera. Será que já haveria vida inteligente o suficiente para compreendê-lo?

Chegara ao seu destino. Uma área aberta, ao lado de um imenso rio, onde, pelos dados de seu computador, era grande a possibilidade de haver o minério. Imediatamente executou uma leitura sônica, cujo resultado o desanimou. Encontrara o minério, porém sua qualidade não era boa, tinha baixa capacidade de radiação isotópica.

A sorte lhe havia deixado. De fato, sua busca levaria muito mais tempo, talvez meses ou anos já que não poderia fazer uma varredura do céu; teria de enterrar os outros.

Bem, deveria alegra-se, pois estava vivo e num planeta belíssimo que lhe oferecia possibilidades imensas. Havendo vida inteligente, poderia requisitar ajuda; se esta vir a ser inferior à sua, poderia inspirá-la, trocar conhecimentos, conduzi-los ao saber universal, afinal de contas há um propósito em tudo e esse deveria ser o dele, o sobrevivente. Sim! Não importa quanto tempo vai levar para conseguir voltar ao espaço, tem uma nova e importante missão, vai trabalhar com forte objetivo para essa terra, sua vida ali terá uma razão de existir. Estava feliz.

Perdido nessa reflexão, o piloto não havia se dado conta de que, repentinamente, tinha sido confinado numa espécie de redoma translúcida.

Olhou para cima e percebeu que dois gigantescos humanóides o observavam. Ambos trajavam uma espécie de vestimenta bicolor com protetores de cabeça feitos de um trançado de fibra seca de alguma planta, apresentavam também uma espécie de pelugem cobrindo parcialmente suas faces.



- Num credito, Chico, ocê pegô ele! Pegô o diabinho!
-Falei pru cê qui hoji eu capturava o danado do Cramunhão!! Então, tá aí ó, na garrafa!
- É ele mermo, homi! Óia os chifrinho e os óio vermeio. Ocê tava certo di percura aqui na bera do rio.
- Agora nóis vamu ficá co corpo fechadu!
- É. Podemo di buscá as garrucha qui é hoji qui nóis mostra praquele rola-bosta du Tonho cum quantu chumbo o bucho dele vira penera!
- Tá certo! Mais cê tem cierteza que esse diabinho vai protegê mermo nóis, Chico? O bicho parece assustado ai drento.
- Claru qui vai! Tá assim purque ele num pode di fazê mal pra nóis, nóis é dono dele agora. Nóis só tem qui fazê qui nem o meu vô contava: temo qui bebê ele no sangui di vaca premero, despois nóis vai ganhá a proteção.

-Tá muito di bão. Então vambora qui mais tarde a terra é que vai bebê sangui, o sangui do Tonho!

-Hahahahah!!
-Hahahahah!!



Gilberto Xis, é natural de Santo André, fotógrafo, escreve contos de literatura fantástica. Recentemente participou da Antologia: DIAS CONTADOS – CONTOS SOBRE O FIM DO MUNDO.

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