quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Uma lufada de cor em 2009: Matisse na Pinacoteca


Deixei passar 2009 sem nada comentar a respeito da passagem pela Pinacoteca de São Paulo de trabalhos do artista francês Henri Matisse (1869 -1954). Nada melhor então do que começar 2010 com a lembrança viva da luz da cor daquele que é indubitavelmente um dos maiores pintores modernos. Foram mais de 40 trabalhos, 15 deles emprestados do Museu Nacional de Arte Moderna Georges Pompidou, de Paris, incluindo Natureza Morta com Magnólia (1941) e Odalisca de calça vermelha (1924), aqui reproduzidos. Que a pintura de Matisse renove nosso fôlego para o ano que chega!


Sempre acreditando na prioridade da representação figurativa, sem jamais chegar à abstração, Matisse divide com Picasso, de quem é contemporâneo, a capacidade de resumir a lírica da sintaxe visual moderna. Os dois artistas sustentam uma rivalidade produtiva, oferecendo duas visões de mundo alternativas. Para John Elderfield, historiador da arte e curador da grande exposição de Matisse, em 1992, no MoMA, podemos reconhecer um contraste entre o burguês francês e o boêmio internacional, que se desdobra em suas práticas artísticas como harmonia e dissonância, simplicidade e complexidade, “de férias” e em guerra (daí as chacotas feitas pelos membros da turma de Picasso sobre o caráter burguês da arte matissiana). E, afinal, não é o mundo moderno tão harmonioso quanto dissonante, simples e complexo, que se apresenta como planaridade e como espaço e forma, e que podem ser apreendidos tanto perceptivamente quanto conceitualmente, por visão e pelo intelecto?

Matisse nos abre todo um universo plástico para repensar o moderno, o modernismo. Por exemplo, a superação parcial do esquema de representação - o dualismo sujeito-objeto -, que toma em suas pinturas “uma feição despreocupada e casual. Jamais esteve o homem (em geral, aliás, a mulher”, ressalta Ronaldo Brito, já que a mulher é onipresente nos quadros de Matisse), “tão dentro do mundo, intrínseco a ele. Nunca o mundo da vida fora um lugar assim maleável, fluido mas acolhedor, a um tempo luminoso e carnal”.

Na direção de uma reflexão sobre o modernismo que cabe mencionar a publicação pela editora Cosac & Naify de coletânea de textos sobre sua obra, Matisse: imaginação, erotismo e visão decorativa. Organizada pela historiadora e crítica de arte Sônia Salzstein, a publicação reúne ensaios sobre a obra do pintor que mostram visões consagradas de críticos como Louis Aragon, Roger Fry e Clement Greenberg e também reflexões contemporâneas, feitas por três brasileiros (pelo crítico de arte Ronaldo Brito e pelos artistas Iole de Freitas e Paulo Pasta) e três estrangeiros (os críticos de arte Robert Kudielka, T.J. Clark e Yve-Alain Bois).
Os textos, muitos deles publicados pela primeira no Brasil, ou produzidos especialmente para o volume, traçam um panorama sobre a influência das relações pessoais e profissionais na obra do pintor e aspectos específicos como a presença do erotismo em seus desenhos e o uso decorativo das cores em suas telas. A edição inclui um caderno especial de imagens, com trinta e cinco reproduções coloridas das obras comentadas nos ensaios, anexada à orelha do volume, que permite a leitura do texto acompanhando os detalhes da imagem.

LEGENDAS DAS IMAGENS:
1. Odalisca com calça vermelha, 1921, óleo sobre tela 67 x 84 cm, Musee National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou

2. Natureza-morta com magnólia, 1941, 73 X 100 cm, Musee National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou
3. Harmonia em Vermelho, 1908, óleo sobre tela, 180 x 220 cm, Hermitage Museum, St Petersburg
4. A Dança (I), 1909, óleo sobre tela, 259.7 x 390.1 cm, The Museum of Modern Art, New York.



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Fernanda Lopes Torres, historiadora da arte, graduada pela ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) da UERJ, mestre e doutora em História pela PUC-Rio, pesquisadora de arte da Multirio (Empresa Municipal de Multimeios) escreve às quintas-feiras quinzenalmente no ContemporARTES.

fernandalopestorres@uol.com.br

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