sexta-feira, 12 de março de 2010

Estréia de Djalma Thürler - ator e diretor de Teatro no ContemporARTES


A GALHARUFA NÃO EXISTE MAIS, E O TEATRO?

Hoje pela manhã quando comecei a pensar no conteúdo da minha estréia nesta coluna, pensei em fazer uma brincadeira com os leitores, falando de uma palavra estranha que, quando ainda fazia a Faculdade de Teatro no Rio de Janeiro, nos anos 80, era ouvida e repetida pelos calouros e principiantes com grande ansiedade, mistério e magia. Dizia-nos, os mais experientes, que quando nos formássemos, se fossemos muito disciplinados e respeitosos com a Arte de Talma, mereceríamos a tal “galharufa”.


Durante quatro anos, entre angustiados e aflitos, a “galharufa” não saia das nossas cabeças. Era bonito ver tantas tentativas, tanta viagens, adivinhações. Depois que conquistei a minha, nos longos anos que dei aulas em Escolas de Teatro, mantive viva a lenda.

Hoje, 20 anos depois, a triste constatação, ela não existe mais. Acabaram, mataram, assassinaram a “galharufa”. Benjamim, o alemão, aludia à desauratização da Arte e ele tinha alguma razão, afinal, o teatro nos últimos anos tem sido uma traficância, um negócio de balcão, uma feira de novidades. Os atores também estão morrendo. Em seu lugar está nascendo o ator-cacoete; o ator-clichê; o ator-timidez; o ator-superficial, de voz fanhosa, olhar vago, gesto indefinido; o ator-tensão; o ator-obscuro; ator-picareta, que quanto menos tem valor, mais tem pretensão e impertinência, mais se emproa e se pavoneia. E todos acham quem compre sua mercadoria.

Hoje, 20 anos depois, quando digitei num site de buscas a palavra “galharufa”, caiu sobre mim uma sensação estranha, um castelo de areia desmoronava, a magia da “galharufa” já não existe.

Por isso decidi que aqui, nesse espaço falarei sobre aquilo que a “galharufa” sempre representou, o sonho, a fantasia do teatro. Até a próxima semana.

O que é “galharufa”? Não conto.


Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.

6 comentários:

Ana Dietrich disse...

Djalma, desde que nos encontramos em uma esquina da fervente salvador, eu nunca mais te esqueci. A revista te trouxe para pertinho onde eu quero que vc. sempre fique: garoto-talento-camaleão-sedução.
t adoro! bem vindo sempre aqui. e viva a galharufa!

12 de março de 2010 às 14:54
Djalma Thürler disse...

Ana, a vida reserva sempre surpresas, às vezes tão surpreendentes, que demoramos a acreditar ou aceitá-las. Estar mais perto - e cada vez mais - de você é umas das que mais gosto de pensar. Um beijo cheio de afeto.

13 de março de 2010 às 21:48
Djalma Thürler disse...

Caros, um amigo-amigo não conseguiu postar aqui um comentário e mandou-me em private, mas não achei de bom tomguardar só para mim, vai aqui, etre "aspas" as palavras de EDUARDO BAKR
"A Galharufa. Tenho noticias dela: ela não morreu. Está sumida, escondida, atrapalhada com esse furacão maluco de celebridades descartáveis e de brilho fake, está triste com as falsas mascaras de ator... Mas, ainda que sem conhecê-la, "volta-e-meia", algum ator de pensamento sorridente, peito transbordado de emoção e de vocação e talento voraz e verdadeiro ouve sua voz sedutora e iluminada dizendo: vem, vem buscar-me que ainda sou tua!!!
e, assim, novos velhos palcos foram-são-serão desbravados. Sempre!"

14 de março de 2010 às 02:29
Ana Dietrich disse...

bakr, adorei o comentário, o pensamento sorridente galharufal é para mim como se num dia morno, totalmente rotineiro e com um ar de desesperança batesse um vento, não se sabe de onde, e ele levantasse humores, sentimentos, emoções. Viva a arte! viva a galharufa! viva djalma Thürler!

16 de março de 2010 às 11:03
Teste disse...

teste

16 de março de 2010 às 11:07
T.vú! disse...

Nossa é a primeira vez que ouço essa palavra e ja gostei dela. É impressionante como o teatro provoca particulamente uma sensação boa e mágica, tanto que quando entrei no bacharelado interdisciplinar de artes na UFBA, pensei em foca-me em design, mas quando o pouco que experimentei com as professoras Marilda e Elisa, comecei a me interessar e me veio uma grande nuvem de duvidas. Prf. Djalma mesmo diante da emensidão da superficialidade hoje, é possivel que se tenha nem que seja "um pouquinho" da "garalhufa"?

5 de abril de 2010 às 21:12

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